Cultivo é feito predominantemente por pequenos produtores; cultura não necessita de grandes áreas e possui boa rentabilidade

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Doces ou picantes, as pimentas são ingredientes indispensáveis na culinária, sendo o condimento picante mais consumido no mundo. Estima-se que 2/3 da população mundial saboreie o alimento com frequência. “Poucas espécies vegetais têm uso tão universal quanto as pimentas, que passaram a ser consumidas por povos de todos os continentes e hoje dominam o mercado mundial de especiarias picantes”, comenta Cláudia Silva da Costa Ribeiro, pesquisadora da Embrapa Hortaliças na área de Melhoramento Genético de Plantas.

Nos últimos anos, o interesse pela pimenta tem aumentado pela sua versatilidade culinária e industrial e também pelos benefícios à saúde, já que o mesmo princípio que causa a ardência das pimentas – a capsaicina – é um poderoso antioxidante e anti-inflamatório. “Auxilia na digestão, no alívio das dores em geral, congestão nasal e coceiras, além de prevenir células cancerígenas, aumentar a libido e até auxiliar na perda de peso porque aumenta o metabolismo”, explica a engenheira agrônoma Sally Ferreira Blat, pesquisadora científica do Instituto Agronômico (IAC).

Cultivada em todas as regiões do Brasil, a pimenta é plantada tradicionalmente por pequenos produtores e em propriedades familiares. “A cultura se ajusta perfeitamente aos modelos de agricultura familiar e de integração pequeno agricultor-agroindústria, trazendo bom retorno financeiro, mesmo quando plantada em pequenas áreas”, destaca Cláudia, da Embrapa Hortaliças. De acordo com ela, a cultura permite a fixação de pequenos produtores rurais e suas famílias no campo, a contratação sazonal de mão-de-obra durante o período de colheita, o estabelecimento de novas indústrias processadoras e, consequentemente, a geração de novos empregos.

Marco Andrade é produtor de pimenta há 15 anos. Ele e a esposa Karina Luiz cultivam 50 mil pés de Dedo-de-moça em uma área de seis hectares em Santo Antônio da Alegria-SP. “Sou um apaixonado por pimenta”, diz.

No início, o plantio era apenas para atender demanda para a produção caseira de molhos consumidos pela família. Com o passar do tempo, a plantação cresceu e hoje a propriedade produz duas toneladas de pimenta por semana.

A produção contínua é uma das vantagens da cultura, aponta o produtor. Segundo ele, o segredo de colher pimenta o ano todo está na irrigação, que é feita por gotejamento utilizando a fertirrigação, técnica de adubação que usa a água para levar nutrientes ao solo. “Sendo irrigada, temos pimenta em todos os meses do ano, o que resulta em maior rentabilidade”, explica. Já a desvantagem da cultura é que plantio e a colheita são feitos manualmente, o que a torna um pouco mais cara.

O próximo passo é investir no cultivo de pimentas nucleares – com mais ardência e maior valor de mercado - e expandir a produção para mais 50 mil pés. A família também iniciou a fabricação e comercialização de molhos e geleias de pimenta. Atualmente a produção mensal é de 6 mil vidros.

Existem diversos tipos ou grupos varietais de pimentas. Eles pertencem às espécies botânicas Capsicum annuum, C. baccatum, C. chinense e C. frutescens. No Brasil, a maior diversidade de tipos tem origem na espécie C. chinense, considerada a mais brasileira das pimentas cultivadas.

Pimenta em vaso
O aumento da procura por novas variedades e sabores de pimenta fez com que o engenheiro agrônomo Pedro Fernandes Leça, produtor de mudas em Ribeirão Preto há 21 anos, apostasse na produção de mudas de pimenta em vaso. A maior parte da produção é para o consumo urbano e uma porcentagem é vendida para produtores da região.

Mensalmente são comercializados 2.500 vasos. A produção é variada, são cerca de 20 espécies, desde as mais procuradas, como a Dedo-de-moça, Malagueta, Cumari, De Cheiro e Bode, às chamadas exóticas, que incluem as nucleares, com nível de ardência elevado, e as importadas, como a Habanero e Jalapeño. “A minha oportunidade de trabalho é com vasos de pimenta para uso doméstico. Hoje as pessoas buscam por produtos frescos. O mercado existe e está crescendo cada vez mais”, explica Pedro. Segundo ele, a espécie mais consumida é a Dedo-de-moça e, para atender à demanda, ele produz cerca de 10 mil mudas por mês.

O cultivo das mudas é realizado em bandejas colocadas em estufas. A planta recebe irrigação e adubação própria, com o uso de substrato. A prevenção de pragas e doenças é feita com a pulverização de defensivos.

Com diversos tamanhos, formatos, cores, pungência, aroma e sabor, as principais pimentas cultivadas no país são: Dedo-de- -moça, Malagueta, Cumari verdadeira ou Pimenta-de-passarinho, Cambuci, Cumari-do-Pará ou Cumari amarela, Pimenta-de-cheiro, Bode, Murupi, Jalapeño e Habanero, entre outras. “Há muita confusão com os nomes, em função, principalmente, da semelhança de formato de fruto entre os tipos, ou ainda nomenclaturas regionais diferentes para um mesmo tipo ou grupo de pimenta”, ressalta Cláudia, da Embrapa Hortaliça.

A pimenteira é uma planta perene, de cultivo anual (12 meses) e que requer altas temperaturas para se desenvolver (entre de 25ºC a 35ºC). “As épocas de plantio dependem de cada região. Geralmente, só se elimina o plantio no período de inverno. No estado de São Paulo os meses mais comuns são dezembro e janeiro, mas a pimenta pode ser plantada praticamente o ano todo”, explica a engenheira agrônoma Sally, do IAC.

O período da colheita também varia com a cultivar, espécie e região. De modo geral, as colheitas têm início por volta dos 95 dias e prolongam-se por vários meses. “Os pontos de colheita dependem de cada cultivar, algumas verdes e outras maduras, vermelhas ou amarelas em geral”, informa Sally.

Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Sergipe, Bahia, Ceará e Rio Grande do Sul são os principais estados produtores. No estado de São Paulo, a pimenta é cultivada, principalmente, nos munícipios de Salto, Piedade, Indaiatuba e Mogi Mirim. “As mais comuns no estado são a Dedo-de-moça, Cumari e Biquinho, mas também encontramos produtores de pimenta Jalapeño e muitos produtores estão inovando no cultivo de pimentas mexicanas e peruanas”, explica Sally.

Segundo ela, na região de Ribeirão Preto há o cultivo das pimentas tradicionais, como a Malagueta, Cumari, Bode, Dedo-de-moça, mas também existe um mercado pontual de pimentas exóticas que são as de maior pungência (ardência) como a Bhut jolokia, Carolina Reaper, Trinidad Moruga Scorpion, entre outras.

Para Claudia, pesquisadora da Embrapa Hortaliça, o principal desafio da cultura é a dificuldade de encontrar no mercado cultivares de diferentes tipos de pimentas com alta uniformidade e com boas características agronômicas (como resistência a doenças) e industriais. “Variedades de pimentas mais uniformes, produtivas e resistentes às doenças resultariam em uma remuneração maior para o produtor”.

Dentre os fatores limitantes do cultivo no Brasil, a pesquisadora destaca as doenças causadas por bactérias, fungos, vírus e nematoides e a escassez de mão-de-obra para a colheita de pimentas em plantios maiores, assim como a expressiva fatia que essa atividade representa no custo total de produção.

Consumo
As pimentas, além de consumidas frescas, podem ser processadas e utilizadas em diversas linhas de produtos na indústria de alimentos. A produção atende a indústrias de molhos de pimentas de pequeno e médio portes, além de indústrias de conservas de pimentas, normalmente de pequeno porte ou artesanais.

Segundo dados da Embrapa Hortaliças, a crescente demanda do mercado, estimado em R$ 80 milhões ao ano, tem impulsionado o aumento da área cultivada e o estabelecimento de agroindústrias. “Embora o consumo de frutos frescos de pimentas tenha aumentado nos últimos anos, as pimentas são consumidas no Brasil principalmente na forma de molhos e conservas”, destaca Cláudia.

Os estados da região Sul são os que menos consumem pimentas in natura, havendo uma preferência pelas formas processadas, como molhos, conservas e pimentas desidratadas. Na região Sudeste, consome-se principalmente a pimenta doce do tipo americana, pimenta Cambuci, Malagueta e Cumari vermelha. Na região Nordeste, predominam as pimentas Malagueta e De Cheiro. Na região Norte, as pimentas mais apreciadas são a Murupi, Cumari do Pará e a De Cheiro; na região Centro-Oeste, tradicionalmente são cultivadas e consumidas as pimentas Bode, Malagueta, Cumari do Pará, Dedo-de-moça e a pimenta de Cheiro.

A pimenta também é matéria-prima para condimento e corante que realça o sabor e agrega cor em produtos alimentícios. “A páprica, por exemplo, é utilizada como corante natural em diversos produtos industrializados, como molhos, maioneses, sopas de preparo instantâneo, biscoitos, produtos à base de carnes (salsichas, linguiças, salames) e queijos”, diz Cláudia. Além desse mercado, novos nichos de produtos gourmets (geleias, chocolates etc.) e de produtos orgânicos (frescos ou processados) surgem para atender principalmente ao crescente número de consumidores jovens (25-35 anos), interessados por sabores exóticos e alimentos saudáveis.

“A visão de que a pimenta é um tempero popular está sendo mudada aos poucos, pois são muitas as opções de usos na culinária, associadas aos inúmeros tipos disponíveis no mercado. O resgate e uma nova leitura da culinária tradicional e regional brasileira por grandes chefs de cozinha estão ajudando a mudar este panorama e as pimentas Capsicum estão ganhando um lugar de destaque na gastronomia brasileira”, ressalta Cláudia.

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