O material está presente na maioria dos sistemas construtivos tradicionais mais usados na construção civil brasileira
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Desde que o inglês Joseph Aspdin inventou o cimento, em 1824, a construção civil nunca mais prescindiu do material [leia “A pré-História do Cimento”]. Formado por substâncias calcárias e argilosas aquecidas em forno a 1.500 graus Celsius, hoje o pó de cimento é usado em todos os métodos tradicionais de construção, seja para consolidação de concretos, no assentamento de blocos ou na elaboração de massa para reboco.
O desenvolvimento de novas tecnologias para a construção civil já concebe construções com materiais alternativos que dispensam o cimento, como as casas de gesso erguidas com blocos feitos desse material milenar [leia reportagem na sequência], mas ainda são tendências a serem consolidadas pelo mercado. Até que isso aconteça, seguem imperando na construção civil brasileira os sistemas construtivos convencionais.
Os cinco mais conhecidos são alvenaria de vedação ou convencional, alvenaria estrutural, steel frame (metal e gesso), wood frame (madeira) e paredes de concreto. Não existe um melhor que outro, mas o que mais se adequa a cada tipo de edificação. Cabe ao engenheiro responsável por cada projeto analisar o desempenho de cada um, a mão de obra disponível na região, a durabilidade do sistema construtivo, o objetivo e a função da construção antes de decidir pelo mais adequado.
PRÉ-HISTÓRIA DO CIMENTO
Os primeiros materiais ligantes usados em construções humanas datam de 15 mil anos atrás – idos dos períodos Paleolítico e Neolítico –, quando o homem começou a erguer suas primeiras habitações com pedras encaixadas, madeira ou adobe (tijolo de barro seco ao sol). Só cerca de 5 mil anos depois seu crescente sedentarismo o levou a obter um pó ligante a partir do aquecimento de pedras de calcário e gesso.
Na Antiguidade surgiram novas alternativas, como o betume (tipo de asfalto), que foi aplicado nos jardins suspensos da Babilônia. Um pouco mais tarde, os romanos descobriram a pozzolana (cinzas típicas de arredores de vulcões misturadas a cal), que foi usada, por exemplo, na construção do Coliseu. Eles viriam a descobrir também, no século 2, o opus caementicum, uma argamassa à base de mármore, tijolo e rochas vulcânicas com a qual construíram o Panteão.
As pesquisas mais importantes acerca de materiais ligantes ressurgiram apenas no século 18. Entre elas, a do inglês John Smeaton, que em 1786 descobriu uma massa resistente a partir do aquecimento de calcários moles e argilosos a temperaturas de até 800 graus Celsius. Em 1818, o francês Vicat obteve resultados semelhantes com a mistura de componentes argilosos e calcários.
Em 1824, Joseph Aspdin aumentou ainda mais a temperatura do seu forno para aquecer calcário e argila em pó. Obteve uma mistura que, após receber água e deixada para secar, ficava dura como pedra. Era o cimento portland que conhecemos hoje – batizado assim pela semelhança com as pedras da ilha de Portland, na Inglaterra.
PRINCIPAIS TIPOS DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS
ALVENARIA DE VEDAÇÃO OU CONVENCIONAL
A sustentação da estrutura dessas edificações é feita por vigas, pilares e lajes de concreto armado, e a alvenaria usada nas paredes serve apenas para vedar e separar os ambientes. Para isso são utilizados os blocos cerâmicos.
É o sistema mais utilizado no Brasil por dispensar mão de obra qualificada e especializada.
VANTAGENS
1. Suporta grandes vãos;
2. Grande disponibilidade de mão de obra e materiais;
3. Pouca exigência de qualificação da mão de obra;
4. Facilita futuras reformas e mudanças no projeto.
DESVANTAGENS
1. Maior custo;
2. Maior tempo de execução;
3. Gera muitos resíduos.
ALVENARIA ESTRUTURAL
É aquela que une a estrutura e a vedação da edificação utilizando blocos cerâmicos ou de concreto específicos para este fim. As paredes estruturais sustentam a edificação, por isso não podem ser derrubadas sem uma avaliação profissional prévia dos projetos de construção. Aliás, o projeto de alvenaria deve ser muito bem detalhado e já compatibilizado com os projetos elétrico e hidrossanitário - os vãos da edificação devem ser definidos de acordo com a modulação do bloco a ser utilizado.
Demanda mão de obra mais especializada, porque, se as paredes não ficarem niveladas e no prumo, podem ocorrer acidentes. E em edificações com mais de quatro pavimentos deve-se utilizar barras de aço junto com os blocos de alvenaria estrutural.
VANTAGENS
1. Rapidez e facilidade de construção;
2. Redução da mão de obra;
3. Maior economia;
4. Maior qualidade na execução;
5. Menor desperdício de materiais.
DESVANTAGENS
1. As paredes não podem ser removidas sem recolocar um elemento estrutural para suprir as cargas;
2. Limitações estéticas nos projetos arquitetônicos;
3. Vãos livres limitados
STEEL FRAME
É um sistema industrializado e racionalizado. A estrutura é formada por perfis de aço galvanizado e seu fechamento feito com placas cimentícias de madeira ou drywall (gesso). A principal diferença do steel frame para os outros sistemas é a limpeza do canteiro de obras, pois a geração de resíduos é mínima e não há necessidade do uso de água.
VANTAGENS
DESVANTAGENS
1. Limite de pavimentos;
2. Dificuldade de encontrar mão de obra especializada.
AME
Muito parecido com o steel frame, com a diferença de que leva perfis de madeira - normalmente de reflorestamento, como o pinus - em vez dos de aço galvanizado. Os perfis são de madeira maciça, contraventados com chapas de OSB e estrutura de madeira autoclavada com a função de proteger a edificação de cupins e umidade.
VANTAGENS
1. Canteiro de obras organizado e limpo;
2. Uso de madeira de reflorestamento, única matéria prima renovável da construção civil;
3. Ótimo desempenho acústico e térmico;
4. Agilidade na construção;
5. Redução de geração de resíduos;
6. Baixo custo.
DESVANTAGENS
1. Mão de obra especializada;
2. Limites de pavimentos;
3. Maiores cuidados com impermeabilização
PAREDES DE CONCRETO
Usa paredes estruturais maciças de concreto armado, que são concretadas com o auxílio de formas de madeira ou metálicas montadas na obra, de acordo com o projeto arquitetônico.
As instalações hidráulicas e elétricas são embutidas, então não há quebra de paredes e retrabalhos. É mais viável para construções de larga escala, em que as formas serão reutilizadas várias vezes, já que seu custo é alto.
VANTAGENS
1. Alta produtividade;
2. Alta resistência ao fogo;
3. Pouco desperdício de materiais.
DESVANTAGENS
1. Baixa flexibilidade;
2. Não tem bom isolamento térmico e acústico;
3. Devido ao uso de formas, tem alto custo para produção em pequena escala.