Os tamanhos dos carros do Império Romano influenciam até hoje os meios de transporte do mundo

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Quando, na Antiguidade, o homem criou a roda, abriu a porta para inovações que têm a engenharia como protagonista. Das bigas romanas, primeiros veículos de guerra, aos modernos foguetes que viajam para o espaço, muita coisa mudou, menos a largura dos trilhos – a bitola.

As bigas eram carroças com duas rodas movidas por dois cavalos e a distância entre os eixos das suas rodas levava em consideração a largura das ancas dos animais: 4 pés, 8,5 polegadas ou 1,435 metros, a mesma medida conhecida como Bitola standard, utilizada até hoje nos sistemas de ferrovias da Europa e Estados Unidos.

Celso Frateschi, docente do curso Engenharia Mecatrônica e Produção Mecatrônica da UNIP de Ribeirão Preto, explica que tanto cavalos quanto bois eram usados aos pares. “O que resultou na largura das carruagens, carroças, e na distância entre as rodas. Assim também os primeiros bondes possuíam tração animal e a mesma medida”, destaca.

As bigas foram os primeiros carros de guerra da humanindade. Surgiram em 2000 a.C, mas tornaram-se notórias por volta de 1300 a.C., na Batalha de Kadesh, entre o Egito e o Império Hitita.

Para o engenheiro Paulo Celso Greco Junior, professor do Departamento de Engenharia Aeronáutica da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, os projetistas dos motores do ônibus espacial precisaram considerar o tamanho que poderia ser transportado por um trem, já que a largura máxima que a carga pode ter é limitada pela largura dos túneis, pontes e outras características das ferrovias.

Paulo destaca que a largura dos automóveis modernos também não difere da largura das carruagens medievais. “A justificativa pode estar na manobrabilidade e no padrão de largura das ruas, já que existem ruas na Europa que são do período medieval”, observa.

Tamanhos
A Bitola standard, mesmo sendo adotada pelos sistemas mais avançados em ferrovias da Europa e Estados Unidos, não é a única medida de distância entre trilhos.

Segundo o engenheiro Jean Carlos Pejo, secretário Nacional de Mobilidade e Serviços Urbanos, as construções do passado (que não tinham padrões normalizados e atendiam interesses regionais) e a segregação da entrada de trens que carregavam suprimentos para defesa em guerras são algumas justificativas para as diferenças das medidas. “Ao exportar seu know-how a países importadores, os detentores da tecnologia na construção de ferrovias e trens espalharam pelo mundo diferentes bitolas”, explica.

Para ele, o ideal seria que houvesse um sistema de bitolas unificadas. Porém, a variedade de tamanho não traz tantos transtornos, já que existem diferentes procedimentos operacionais, técnicos e tecnológicos para minimizar a diferença.

Além de Estados Unidos e Europa, a Bitola standard também é adotada na China, Canadá, México e em todos os sistemas de trens de alta velocidade no mundo, o que a torna também a mais utilizada do planeta.

“No Japão, um dos países de forte domínio de tecnologia ferroviária, só tem unificado em bitola de 1,435mm os sistemas de Alta Velocidade Shinkansem. Nas outras ferrovias a medida é da classe de bitola métrica”, observa Jean.

A Bitola métrica, também bastante utilizada, engloba bitolas entre 914mm e 1,067mm, incluindo a de 1,00m (largamente usada no Brasil) e é encontrada em ferrovias de grande parte da Ásia, África, América do Sul, América Central e Oceania. Já a Bitola ibérica, de 1,668 mm, é utilizada em Portugal, Espanha e alguns países da América do Sul.

No Brasil, a partir dos anos de 1980, a bitola foi padronizada em 1.600mm. A maioria das ferrovias brasileiras utiliza essa medida. Uma das exceções é a Ferroeste, no Paraná, construída sobre bitola de 1,000mm, e sistemas metroviários que foram construídos na Bitola standard (1,435mm)

“A malha brasileira tem em sua maior extensão a bitola de 1,000mm, seguida pela de 1,600mm. Existem ferrovias de baixa capacidade operacional ou sem uso e em extensões pequenas no norte do país e novas linhas de metrô que têm sua construção na bitola de 1,435mm”, explica Jean.

Não há, segundo ele, medida ideal. Fatores comerciais, técnicos e históricos influenciam na escolha. “Deve ser levada em consideração a interoperabilidade (capacidade de um sistema se comunicar com outro sistema), o tipo de serviço a ser prestado, a capacidade instalada de terminais e muitas outras variáveis”, argumenta.

Projeto integra Programa Ribeirão -3°C, que visa a tornar a área urbana 30% verde até 2030, com vistas à queda média de 3 graus Celsius na temperatura da cidade

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2022 foi um ano de revoluções no Centro de Educação Infantil (CEI) Vítor Youssef Darkoubi, localizada no bairro Planalto Verde, zona Norte de Ribeirão Preto. A primeira delas foi física, com a implantação de um “bosque” intramuros, com direito a apiário, galinheiro, horta, árvores frutíferas, campinho de futebol gramado e um playground com brinquedos construídos só de materiais recicláveis.

Essa revolução foi possível graças ao projeto Verdejamento, em que a Prefeitura de Ribeirão Preto destinou R$ 5,4 milhões para 118 escolas públicas municipais – R$ 50 mil para cada uma – para a execução de projetos de ampliação da cobertura vegetal em seus espaços físicos. O objetivo principal do projeto, que é uma ramificação do Programa Ribeirão –3°C [leia mais a respeito em ‘Agenda 2030’], é propiciar abrigo e alimentação para a fauna silvestre, tornando o ambiente escolar mais acolhedor e educando crianças e jovens para a preservação da natureza.

A segunda revolução foi consequência da primeira, responsável por levar as 130 crianças na faixa etária entre os 6 meses e os 3 anos e 11 meses de idade atendidas na escola a passarem mais tempo ao ar livre do que em salas de aula. De acordo com a diretora do CEI, Sônia Eurípedes da Costa Castro, essa mudança fez bem tanto aos alunos quanto aos professores. “Porque quando a criança está confinada em um espaço fechado, o educador precisa, de 20 em 20 minutos, criar situações lúdicas que a façam aprender, se movimentar e não ficar triste por se sentir confinada. A liberdade do espaço aberto, por si só, já faz isso. Então a gente consegue ficar 50 minutos ou até mais com as crianças explorando a natureza”, explica a diretora.

É que, segundo Sônia, no “bosque” da Vítor Darkoubi ocorrem piqueniques, leitura de livros, jogos de bola e, enquanto uma criança desce pelo escorregador, a outra se diverte no balanço; uma observa a dinâmica do galinheiro, outra o trabalho da abelha no apiário. “Mesmo sem ter consciência, a criança pequena vai ‘criando’ na natureza, o que traz serenidade. O resultado é que elas gritam menos e ficam menos ansiosas e agressivas”, observa.

PERTENCIMENTO
Também na Escola Municipal de Educação Fundamental Dr. Júlio César Voltarelli, localizada no Parque dos Servidores, zona Leste de Ribeirão, a diretora Adriana Lúcia Capranica Vicentini se surpreende com o efeito do Verdejamento sobre os cerca de 700 alunos na faixa etária dos 4 aos 10 anos de idade – é a única da rede a atender tanto o segmento infantil (4 e 5 anos) quanto o fundamental 1 (de 6 a 10 anos, que frequentam do 1º ao 5º ano).

“As crianças estão alucinadas. O verde não só embeleza como traz um gostar de estar ali e desperta uma preocupação de cuidado com o lugar, uma sensação de pertencimento”, traduz Adriana.

O Verdejamento na escola incluiu a implantação de gramados, que acabou resolvendo um problema de fluxo de água nas calhas da escola (antes sempre entupiam com a terra varrida através delas pelas chuvas); plantio de um canteiro de lírios da paz e poda das palmeiras já existentes na entrada dos alunos; plantio de folhagens de ambos os lados da rampa de acesso ao auditório; substituição de uma calçada dos fundos da quadra de esportes por gramado e seis lofânteras (planta típica do Cerrado que dá em cachos amarelos); criação de uma horta e, com o objetivo de trabalhar a questão da sustentabilidade, está sendo instalado um sistema de irrigação em todos os gramados e jardins, para evitar desperdício de água. Segundo a diretora, a próxima intervenção será feita na calçada em frente à Emef, com plantio de árvores nativas.

Depoimentos como o dela e o da diretora Sônia soam como “música aos ouvidos” da engenheira sanitária e ambiental Mayra Mucha, integrante do Ribeirão –3°C, já que o sucesso do programa é medido pela observação de dois indicadores: quanto tempo pedagógico a mais a criança passa ao ar livre; e qual foi o índice de redução da violência escolar com a naturalização e qualificação dos pátios escolares. “Provam que o programa pauta, com expertise, um caminho sustentável para Ribeirão Preto”, diz Mayra.

Segundo ela, o programa nunca foi tão discutido, acolhido e posto em prática como agora, em Ribeirão, “muito em razão das ousadas metas estabelecidas pela Agenda 2030, mas também pela enorme crise ambiental e sanitária que os ribeirão-pretanos sofreram com a Covid-19”, declara.

AGENDA 2030
Criar e executar um plano replicável para espaços verdes nas escolas integra a solução 12 do Programa Ribeirão –3°C, criado por um grupo de especialistas em áreas verdes motivados pela Agenda 2030 – plano de ação global firmado por 193 países membros da ONU com o objetivo de erradicar a pobreza e promover vida digna para todos no mundo, por meio do cumprimento de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

O programa objetiva tornar a área urbana de Ribeirão Preto 30% verde até o ano de 2030, o que deverá contribuir para a queda média de 3 graus Celsius na temperatura da cidade, atendendo ao ODS 13: “Combate às Alterações Climáticas”.

Para atingir o objetivo, o Ribeirão –3°C propõe a união de organizações não governamentais (ONGs), empresas, comunidade acadêmica, poder público e sociedade civil para aplicação de várias soluções ambientais na cidade.

Representando o poder público municipal, a Prefeitura de Ribeirão Preto assumiu oficialmente, em 21 de setembro (Dia da Árvore) de 2021, o compromisso de verdejar as escolas. Em outubro do mesmo ano, já liberou R$ 2 milhões para 40 unidades iniciarem o projeto, e em janeiro de 2022 mais R$ 3,4 milhões para outras 68.

As verbas foram repassadas na forma de subvenção às Associações de Pais e Mestres (APMs), que participaram de todas as tomadas de decisões quanto à escolha e execução dos projetos que melhor atendessem aos objetivos do programa. À direção de cada escola coube a coordenação de todo o processo in loco, desde a encomenda de orçamentos e escolha do melhor projeto, até a execução das obras, sempre sob supervisão das Secretarias de Educação e de Meio Ambiente.

Segundo ela, a arquiteta responsável pelo projeto escolhido trabalhou junto com biólogos e um engenheiro agrônomo para levantar com quais plantas seria feito o Verdejamento da unidade. “Porque não é qualquer planta que se deve plantar. Só pode espécies que fazem parte do bioma de Mata Atlântica e Cerrado [vegetações nativas]. Então ela entregou um memorial com tudo sobre a escola e as intervenções propostas muito bem detalhadas”, conta a diretora. No CEI Vítor Youssef Darkoubi, a diretora Sônia Eurípedes da Costa conta que o projeto escolhido, entre três orçados, voltou várias vezes antes de ser aprovado pelas secretarias envolvidas, para garantir que as intervenções propostas se adequassem a uma proposta pedagógica (forma de ensinar). “Porque o fundamento do Verdejamento é pedagógico. Não basta simplesmente plantar árvores e grama. Tem que unir uma proposta de ensino àquela vivência na natureza. Então eu tive que pensar junto com a projetista como que nós íamos aliar as duas coisas”, conta.

COMUNIDADE ACADÊMICA
E para garantir que as propostas pedagógicas fossem aliadas do Verdejamento, o Programa Ribeirão -3°C firmou parceria com o Escritório de Sustentabilidade da FEA-RP (Faculdade de Economia e Administração da USP Ribeirão Preto) para capacitar professores da rede municipal a desenvolverem material didático sobre questões climáticas, de modo a promover entre os alunos conhecimento científico sobre o tema.

A capacitação ocorreu dentro do projeto “Letramento Climático para Educadores da Rede de Ensino Municipal”, contemplado com verba do Edital Climate-U, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.

Verdejamento para a comunidade
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Dercy Celia Seixas Ferrari, localizada no bairro Jardim Juliana, zona Leste de Ribeirão, as obras do Verdejamento estão apenas começando. Entre as intervenções já realizadas estão substituição e plantio de árvores, que mudaram o visual da fachada; instalação de uma composteira para transformar lixo orgânico em adubo; e reforço do trabalho de captação de água das chuvas, que já existia dentro do projeto de sustentabilidade desenvolvido na escola. A que mais tem conquistado a dedicação de alunos e professores é a horta, onde alunos e professores começaram recentemente a fabricar as próprias mudas (no início eram compradas de outros viveiros) e cuja produção de hortaliças está sendo destinada a famílias carentes da comunidade.

A maior obra de Verdejamento na escola, porém, ainda vai ser iniciada e seus benefícios vão se estender para além dos alunos de 6 a 14 anos que frequentam as 1ª à 9ª séries no estabelecimento. É que a Prefeitura autorizou a incorporação à escola de um terreno ocioso do município localizado no mesmo quarteirão. Usado até então como lixão improvisado por moradores das vizinhanças, agora ele será transformado em campo de futebol e pista de atletismo a serem usados pelos alunos e também por toda a comunidade do entorno.

De acordo com a diretora da Emef, Eliana Silva de Oliveira, já é uma tradição as dependências da escola – principalmente a quadra de esportes – serem usadas pela comunidade fora dos horários de aulas. Durante a semana, por exemplo, a partir das 18h30, a quadra é usada para aulas de Muai Thai. Nas manhãs dos sábados, é destinada às atividades de uma Escolinha de Futebol para crianças, e nas tardes dos sábados e domingos, à prática de esportes por adultos dos bairros vizinhos. Em troca, quando o quarteirão da escola está muito sujo, Eliana conta com a ajuda dos vizinhos na limpeza.

Além de suprir uma deficiência de aparelhamento de lazer numa região assolada por problemas urbanos complexos, a abertura para a comunidade faz da escola uma “ilha de tranquilidade”, nas palavras da diretora. “Não existe furto e nem depredação na escola. O tráfico está ao redor, mas não entra aqui dentro. Você não destrói o que considera seu”, conclui Eliana.

LINK da ONU BRASIL: https://brasil.un.org/pt-br/91863-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentavel

Há quatro anos, pesquisadores mapeiam edificações no Quadrilátero Central e reúnem documentos que são inseridos em um Sistema de Informação Geográfica (SIG)

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No início do século XX, a família do engenheiro José de Oliveira Reis tinha um comércio na Rua General Osório, no número 147, no centro de Ribeirão Preto. Oliveira Reis foi um dos mais importantes urbanistas do século passado, autor da primeira proposta de Plano Diretor de Ribeirão Preto, encomendada pelo prefeito e apresentada em 1945. É provável que tenha passado a infância ali. Em 1910, funcionava naquele endereço o Pequeno Negócio Pétit Marche, conforme a placa da foto que Ernesto Kuhn fez naquele ano e que foi preservada pelo Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto (APHRP). Hoje, no mesmo endereço, há uma loja popular de roupas.

A arquiteta e urbanista Ana Teresa Cirigliano Vilela está à frente de um projeto de georreferenciamento do patrimônio histórico e arquitetônico do centro de Ribeirão Preto que permite admitir como hipótese que o local onde funcionava o Pétit Marche seja o mesmo da loja de roupas de hoje. O endereço é atribuído à família de Oliveira Reis na tese de doutorado do arquiteto e urbanista Rodrigo Santos de Faria, que trata da trajetória do engenheiro. Ana Teresa localizou a imagem, atribuindo-a a este endereço, na extensa documentação que vem reunindo há quatro anos e faz parte do projeto que hoje desenvolve no âmbito de sua tese de doutorado no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP).

Desde 2016, cerca de 50 pessoas se envolveram no projeto, entre os quais, os arquitetos e urbanistas Marcelo Carlucci, Gustavo Zeoti e estudantes de graduação. O objetivo é reunir documentos, imagens e informações sobre edificações do Quadrilátero Central, delimitado pelas avenidas Jerônimo Gonçalves, Independência e Nove de Julho.

A história que Ana Teresa propõe-se a contar a partir da pesquisa e disponibilização desses documentos vai além das importantes construções monumentais, como o Theatro Pedro II e a Biblioteca Sinhá Junqueira. O levantamento, segundo ela, permite expor a história urbana a partir da área onde Ribeirão Preto se formou e para além dos grandes marcos arquitetônicos.

Entre 2010 e 2012, a Rede de Identidades Culturais, grupo ligado à Secretaria da Cultura e formado por uma equipe multidisciplinar, realizou o inventário de 698 edificações localizadas no Centro, tomando como base a metodologia utilizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (IPHAN). Este levantamento foi o ponto de partida do trabalho de Ana Teresa.

“Partimos de uma proposta pedagógica que buscava sensibilizar os alunos a olharem para a paisagem do Centro, nela identificando edificações históricas, grandiosas ou modestas, públicas ou privadas, tombadas ou não”, explica Ana Teresa.

Tipo oficinas e lojas

Na primeira fase, desenvolvida entre 2016 e 2018, os alunos foram divididos em 10 equipes encarregadas de fotografar todos os lotes dos 187 quarteirões que integram o Quadrilátero Central. Depois, docentes e alunos selecionaram os imóveis de interesse histórico tomando como base a existência de elementos como platibandas, caixilharia de madeira, alpendres, cachorros, jardins, ornamentos de fachada etc. que marcam a produção arquitetônica da primeira metade do século XX.

Também foram levados em consideração os diferentes usos e as mudanças de comportamento e gosto da sociedade ao longo do tempo. A seleção não foi feita com base em critérios estilísticos. “Nas construções modestas nem sempre esses estilos são perfeitamente reconhecíveis e, principalmente, porque muitos imóveis passaram por reformas, adequando-se às novas necessidades de seus usuários”, explica Ana Teresa.

A partir da análise e seleção dessas fotografias, o grupo refinou os levantamentos e chegou a um número de aproximadamente 300 edificações.

Ana Teresa conta que ao identificar algumas lacunas no trabalho documentos disponíveis no acervo do APHRP foram incorporados, como mapas, fotos e projetos de arquitetura. O grupo considerou que a documentação poderia ser vinculada a esses levantamentos.

O Sistema de Informação Geográfica (SIG) passou a ser utilizado como plataforma de inserção e georreferenciamento desses dados. O grupo utilizou um software livre e gratuito para inserção das informações, com o endereço, grau de proteção, processo de tombamento – quando existente –, autoria do projeto, ano de construção etc.

Nessa nova etapa, iniciada em 2019, como projeto de extensão, houve a colaboração das estudantes de graduação Leticia Fiacadori, Lívia Amorim, Talita Elioenara, Tainah Melchior e Vanessa Laredo.

Às informações iniciais sobre o imóvel são acrescidas fotografias e projetos de arquitetura. Esse talvez seja o maior desafio dos pesquisadores. Normalmente projetos, plantas, alvarás de construção e escrituras são arquivados na prefeitura ou em cartórios. Entretanto, as regras de hoje não existiam em boa parte dos anos do século XX. Muitos imóveis não têm plantas e projetos cadastrados, por exemplo. Até 1902, ano em que um novo Código de Posturas substituiu o anterior, de 1889, sequer esse registro era exigido pelo poder público.

De 1902 a 1913, as construções eram registradas na Câmara Municipal, no Livro de Plantas Aprovadas. Esta é a fonte de informação daquele período e dispõe, na maioria das vezes, dos nomes dos proprietários, o endereço da construção e sua natureza (residencial, comercial etc.). Em alguns registros, não consta o nome do construtor ou arquiteto responsável. Por outro lado, eles observaram a atuação expressiva de alguns profissionais, como Carlos Barbieri e Vicente Lo Giudice.

O APHRP conta com um rico acervo relativo aos processos dos imóveis a partir de 1910, nos quais é possível ter acesso aos projetos de construção e reforma. Essa coleção se estende até os processos com entrada até o 1976. Nessa coleção de projetos, os pesquisadores identificaram engenheiros, arquitetos e construtores que atuaram na cidade, além das transformações nos padrões compositivos, ornamentos, gabaritos e materiais que marcaram a produção arquitetônica na cidade no período.

“Os tipos de informações gráficas também variam de acordo com a natureza do projeto. Há desenhos parciais que se propunham a aprovar apenas a reconstrução da fachada para se adequar às imposições dos Códigos de Posturas. Outros continham plantas, elevações e cortes para a construção de novos edifícios”, explica Ana Teresa.

O Código de Posturas de 1902 impactou também no estilo das construções, pois passou a exigir a adoção de platibandas, utilizadas como ornamento e que em algumas construções exibem as iniciais de seus proprietários e a data de construção.

Todos os projetos destinados a endereços no Centro também estão digitalizados. A digitalização, além de facilitar a consulta a pesquisadores evita o manuseio da documentação, que é frágil.

Os dados disponíveis sobre as edificações são inseridos no sistema, assim como documentos e imagens digitalizadas. Algumas anotações revelam curiosidades, como as dos documentos do Theatro Pedro II: em certo momento, os construtores recusaram-se a pagar os honorários de Hipólito Pujol Júnior, autor do projeto, por considerarem que a construção não era suficientemente nobre.

Na vizinhança do Theatro, na Rua General Osório, existia o Banco de Comércio e Indústria, cujo projeto foi de Ramos de Azevedo. No local há hoje uma loja de departamentos e não existem indicações externas de que o edifício tenha sido preservado.

“Embora haja relatos de que Ramos de Azevedo tenha sido autor de outras obras na cidade, esse foi o único projeto encontrado com a sua assinatura. Na coleção de projetos de Ramos de Azevedo arquivada na biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo há também o projeto do Banco do Brasil de Ribeirão Preto”, informa Ana Teresa.

No âmbito de sua tese de doutorado, a arquiteta estendeu os georreferenciamentos das edificações aos mapas e fotografias históricas. Dentre os mapas cadastrais disponíveis no APHRP, foram georreferenciados e vetorizados os de 1884, 1910 e 1918.

Projeto da fachada do Banco do Comércio e da Indústria Ramos de Azevedo 1922

Nomes
“Não são apenas as edificações grandiosas e isoladas que tem importância para a paisagem histórica. As edificações mais modestas também têm sua importância, sobretudo em relação ao conjunto urbano diretamente relacionado à fundação e desenvolvimento da cidade. Para conhecer essa história, é preciso ir lote a lote, investigando as dinâmicas que são próprias da arquitetura e da cidade”, explica Ana Tereza.

A construção do início do século XX em Ribeirão Preto é marcada pela influência dos imigrantes italianos. Não eram necessariamente engenheiros ou arquitetos – profissão regulamentada em 1966. Eram “práticos licenciados”.

O primeiro presidente da AEAARP, Guilherme de Felippe, foi um desses profissionais licenciados. A Igreja Cristã Presbiteriana, na Rua Barão do Amazonas, erguida pela Companhia Predial de Ribeirão Preto, foi identificada como de sua autoria. Até o momento da conclusão desta reportagem, os pesquisadores não tinham todos os documentos dessa obra, datada de 1948, o mesmo ano da fundação da AEAARP. A construção segue preservada.

Na Rua Florêncio de Abreu, no primeiro quarteirão depois da Avenida Independência, há uma casa cujo construtor foi o engenheiro Hélio Foz Jordão, associado da AEAARP com intensa participação institucional. Esta construção é de 1952. Dentre as mais de 700 edificações identificadas na pesquisa, 39 estão tombadas, quatro delas abandonadas e duas em ruínas.

Do início de 2019 até agora, quatro edificações identificadas no levantamento foram demolidas. Uma delas estava sob regime de tombamento provisório e outra inserida no entorno de proteção de um imóvel tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat). A atualização da situação dos imóveis também é possibilitada pelo SIG.

Além de reunir e disponibilizar a documentação de construções de valor histórico, a pesquisa mostra o que existia em terrenos que com o passar dos anos e as mudanças da ocupação do centro passaram a abrigar outros imóveis. O exemplo mais conhecido é o Palacete Innechi, também de autoria de Pujol Júnior, em cuja área foi construída uma agência bancária. E, ao final, o trabalho tem também a função de preservar a memória.

EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA – EXTRATO

O Presidente do Conselho Deliberativo da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto - AEAARP, conforme reza os artigos 37 e 55 do Estatuto da Associação aprovado e registrado em cartório em maio de 2018 convoca seus associados fundadores e titulares que reúnam as condições previstas em seus artigos 9º e 10º, inciso I e 52 parágrafo único, a participarem da ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA, com o fim de votarem as Contas do Exercício 2022, nos termos abaixo especificados:

Data da Assembleia: dia 13 de março de 2023 – Primeira Convocação às 18h30; e Segunda Convocação às 19h.

Quórum de Instalação: ¼(quarta) parte dos associados em 1ª convocação; e qualquer número de associados em 2ª convocação.

Pauta: Aprovação de Contas, Relatórios de Diretoria e os Pareceres do Conselho Deliberativo / Fiscal relativos ao Exercício 2022.

Local: Sede da AEAARP - Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto, sita na Rua João Penteado nº 2.237.

Obs. Na forma dos artigos supracitados estas contas estão à disposição dos associados na sede da AEAARP.

Ribeirão Preto, 2 de março de 2023

Engenheiro Civil Jose Aníbal Laguna

Presidente do Conselho Deliberativo da AEAARP

O Presidente do Conselho Deliberativo da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto - AEAARP, conforme reza os artigos 37 e 55 do Estatuto da Associação aprovado e registrado em cartório em maio de 2018 convoca seus associados fundadores e titulares que reúnam as condições previstas nos artigos 9º e 10º, inciso I e 52 parágrafo único, a participarem da ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA, para fins de deliberarem acerca do processo eleitoral e de elegerem os membros da Diretoria Executiva e 1/3 do Conselho Deliberativo da AEAARP, nos termos abaixo especificados:

Data da Assembleia: dia 27 de março de 2023 – Primeira Convocação às 8h; e Segunda Convocação às 8h30.

Quórum de Instalação: ¼(quarta) parte dos associados em 1ª convocação; e qualquer número de associados em 2ª convocação.

Pauta: Homologação das chapas inscritas, designação da mesa receptora de votos e da junta de apuração das eleições, autorização para a realização das eleições para os cargos da Diretoria Executiva e 1/3 do Conselho Deliberativo da AEAARP.

Prazo Máximo de Registro de Chapas: Às 17h (dezessete horas) do dia 20 de março de 2023.

Data da Coleta de Votos dos Associados: dia 27 de março de 2023, das 8h às 20h.

Local: Sede da AEAARP - Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto, sita na Rua João Penteado nº 2.237.

Obs. O edital de convocação encontra-se também afixado na sede da AEAARP e na página da Web, sendo que os associados que desejarem cópia do mesmo deverão dirigir-se à entidade e requisitá-la.

Ribeirão Preto, 24 de fevereiro de 2023

Engenheiro Civil Jose Aníbal Laguna

Presidente do Conselho Deliberativo da AEAARP

O país chamou a atenção do mundo ao erguer um hospital em dez dias e acendeu uma questão para o setor da construção civil no Brasil: por que não fazemos igual?

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O hospital Huoshenshan foi construído em 34 mil m2 (o equivalente a quase cinco estádios de futebol), com dois pavimentos, mil leitos, trinta unidades de terapia intensiva e dez salas de isolamento, distribuídas em 25 mil m2 de construção.

A obra começou em 23 de janeiro e foi entregue no dia 2 de fevereiro. 100 tratores e quatro mil trabalhadores ocuparam o local em três turnos, durante 24 horas por dia. Foram utilizadas estruturas metálicas pré-fabricadas unidas por parafusos, seguindo o exemplo do Hospital Xiaotangshan, em Pequim, construído em duas semanas, durante a epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), em 2003.

A fábrica chinesa de concreto que fez as fundações da estação brasileira na Antártica constrói prédios de 20 andares em três meses. Esse é um dos exemplos da tecnologia construtiva da China, que chamou a atenção do mundo em janeiro de 2020 quando o hospital de Wuhan foi construído em dez dias - prazo impensável para a maioria dos países do mundo – como parte da estratégia de combate ao novo coronavírus, causador da Covid-19, doença que afetou todos os continentes do mundo. A cidade chinesa, com 11 milhões de habitantes, é considerada o epicentro da pandemia.

Logo após a inauguração, o país anunciou a abertura de um segundo hospital na cidade de Wuhan, o Leishenshan, construído também em 10 dias, com 1,6 mil leitos, enfermaria de isolamento, área de exames e acomodações para médicos.

Para o engenheiro civil Roberto Maestrello, pós-graduado em engenharia de estruturas e diretor da empresa RTS Engenharia, a agilidade e eficiência das construções chinesas se dá pelo uso de estruturas pré-fabricadas, antecedidas por longo estudo e planejamento.

Roberto explica que os módulos, geralmente metálicos, são produzidos em fábricas, com precisão e em série, depois transportados e içados na obra, através de equipamentos de elevação e transporte, seguindo cronogramas rígidos e organogramas exaustivamente treinados e repassados ao pessoal de obra. “A construção acaba sendo uma grande montagem em série, como acontece em uma linha de montagem de automóveis, de eletrodomésticos, etc.”.

O engenheiro argumenta que o feito chinês foi possível devido ao investimento em inovação e pesquisa em avançado sistema de pré-fabricação, que utiliza mão de obra especializada, maquinário de ponta e reduz o consumo de energia e poluição ambiental.

“A industrialização de estruturas metálicas, onde quase que a totalidade do tempo de produção ocorre nas fábricas, com ambiente controlado e precisão milimétrica, juntamente com o içamento e montagem das peças no canteiro de obras, otimiza a construção de maneira geral”, afirma.

A arquiteta Mariluz Gomez Esteves, especialista em arquitetura do sistema de saúde e diretora executiva da Pró-Saúde - Arquitetura, Planejamento e Consultoria, explica que na China os arquitetos/projetistas escolhem os itens que vão utilizar e projetam a partir desta disponibilidade. “Isto ocorre inclusive com os banheiros, que chegam prontos nas obras e são instalados no local”, explica.

O país é um dos líderes mundiais em fábricas inteligentes, onde tecnologias são utilizadas para aumentar a eficiência da produção. A indústria 4.0, caracterizada pela aplicação intensiva de tecnologias da comunicação e da informação na indústria, complementa o setor de construção e agiliza o processo em obras emergenciais, como os hospitais construídos em Wuhan.

O engenheiro ambiental e de segurança do trabalho Nicolau Gentil Iucif trabalhou na montagem da estação brasileira na Antártica e acompanhou de perto a fabricação das estruturas pré-fabricadas na China. “Os pilares de lajes, paredes e portas, todos são pré-moldados, feitos em uma indústria de concreto e transportados e montados no local da obra. Isso facilita e agiliza muito a construção. É uma característica impressionante dos chineses”, diz.

Soma-se ao sistema de construção modular, a questão de os trabalhadores ganharem por empreitada, acrescenta Nicolau. “Se o trabalhador concluir em um ou em três dias o valor será o mesmo, o que traz mais produtividade para o sistema construtivo chinês”.

João Paulo Torres, engenheiro eletricista, com mestrado em inovação na construção civil e diretor da Sálix Engenharia, enumera outros fatores que também podem ter contribuído para a entrega do hospital em curto tempo. Dentre eles: a grande quantidade de equipamentos, como guindastes e escavadeiras; a fabricação local de todos os insumos necessários para a construção da edificação, sem necessidade de importação de materiais e/ou equipamentos; a disponibilidade, no estoque, de fabricantes de equipamentos de climatização, centrais de gases medicinais e equipamentos de backup de energia compatíveis.

O local da construção, com terreno favorável e pouco desnível, o solo previamente analisado com facilidade para fundação rasa e disponibilidade de área de canteiro para logística e armazenagem, além da padronização dos ambientes com baixa complexidade de construção, sendo, em sua maioria, leitos de internação, também são fatores considerados para o prazo recorde de construção, argumenta o engenheiro.

Engenharia hospitalar
Os projetos e obras hospitalares enfrentam grandes desafios. Prazos enxutos, a busca por novas tecnologias, a escassez de mão de obra especializada, a execução da obra com o hospital em funcionamento e o cuidado com o impacto da intervenção civil para os pacientes são alguns deles, segundo a arquiteta hospitalar Ana Carolina Meirelles Bonissi.

“Além disso, a engenharia hospitalar precisa atender todas as normas técnicas exclusivas, que proporciona o funcionamento harmonioso, como o tratamento de ar, requisitos para segurança, mobilidade, entre outras, e também atender as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que possui diversas particularidades para a aprovação do alvará sanitário para Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS)”, destaca.

Para a arquiteta, a construção pré-fabricada possibilita assertividade em relação ao cumprimento e encurtamento do prazo da obra e contribui para torná-la mais sustentável. Ana Carolina é de Ribeirão Preto e trabalha para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde desenvolve e acompanha os projetos de reformas, expansões e novas unidades da instituição. Segundo ela, as estruturas pré-moldadas já são utilizadas no hospital em duas situações: nas expansões de estruturas já existentes, como, por exemplo, na expansão da unidade Morumbi e do Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch (M’Boi Mirim), e nas reformas de estruturas para a instalação do serviço hospitalar. “Neste último caso temos a Klabin, que é uma unidade ambulatorial, e a Clínica Einstein Anália Franco”, explica.

O engenheiro João Paulo afirma que as estruturas de concreto pré-moldado ou as metálicas são encontradas nas construções hospitalares na parte estrutural, composta por vigas e pilares. Já as instalações e acabamentos, na maioria dos projetos, ainda são executadas nos canteiros de obra, com baixa industrialização.

“A maioria dos projetos hospitalares no Brasil utiliza como característica o concreto armado, moldado in loco, proporcionando mais agilidade, flexibilidade, facilidade de manutenção e industrialização à construção.”

A arquiteta Mariluz concorda que a construção de hospitais de emergência a partir de itens prontos reduz o tempo de obra, mas argumenta que as mesmas estruturas dificilmente atendem as necessidades específicas das edificações hospitalares tradicionais. “Construir hospitais de campanha em campos de futebol é uma coisa, fazer um hospital em um terreno urbano, acidentado, é outra”, alega.

Mariluz argumenta que em sua experiência profissional, já realizou diversas tentativas para utilizar peças disponíveis no mercado da construção, mas o tamanho das peças não atende a necessidade do projeto hospitalar. “A montagem tipo ‘lego’, se feita com vários pavimentos, não se mostra estável o suficiente para a operação hospitalar. Se tivermos que fabricar as peças necessárias e ancorá-las para ter a estabilidade necessária, a construção se tornará, nas condições atuais da indústria da construção, muito mais cara que a convencional”, ressalta.

Segundo ela, a maior dificuldade na construção hospitalar são as instalações. Um hospital exige diversos sistemas de instalações complexas, desde os elementos de controle e combate a incêndio, que são absolutamente distintos de uma edificação comercial ou habitacional, até instalações que só existem nos estabelecimentos de saúde, como gases medicinais, vácuo clínico, etc.

Por que a engenharia brasileira não é tão ágil quanto a chinesa?

Adoção da metodologia BIM pode conferir agilidade aos projetos industrializados

Para o engenheiro Roberto Maestrello, os motivos são históricos, culturais e de escolha de prioridades, que resultam, principalmente, no baixo investimento em pesquisa e na fabricação e montagem de elementos construtivos.

“O Brasil, apesar do enorme déficit habitacional, de infraestrutura, de saneamento e de transportes, ainda está no discurso e longe da prática, porque pouco se importou em investir nesse sentido, coisa que americanos, ingleses, alemães e notadamente os chineses têm feito com abnegação e inteligência”, alega.

Roberto destaca que, ultimamente e com certa timidez, é possível ver obras sendo desenvolvidas no campo de infraestrutura de pontes, viadutos, na escavação e concretagem de túneis, nas novas ferrovias e também em construções comerciais e industriais. Mas, por questões que ele classifica como culturais, no Brasil ainda há receio em relação às paredes de “dry wall” (sistema de placas de gesso acartonado escoradas por estruturas metálicas) nas obras residenciais ou o uso do painel de “piso wall” sob o piso.

“É imprescindível que os institutos de tecnologia, as escolas de engenharia, o poder público, as associações de classe e a indústria estejam engajados e inseridos nesse conceito de construção para que o Brasil embarque nessa trajetória de progresso”, defende Roberto.

O engenheiro João Paulo Torres argumenta que, apesar de a construção modular não ser comum no Brasil, a industrialização do setor tem crescido. Dentre as práticas que têm sido cada vez mais usadas, ele cita técnicas como Lean Construction - metodologia usada para otimizar a produção, reduzindo desperdícios e buscando melhores prazos - e a racionalização da construção civil, que passa por materiais inovadores, projetos eficientes até chegar ao canteiro de obras com menos desperdício e maior produtividade.

A adoção da metodologia BIM (Building Information Modelling), na visão da arquiteta hospitalar Ana Carolina Meirelles Bonissi, é importante para conferir agilidade na construção civil no Brasil onde, segundo ela, o método é adotado por apenas 10% das empresas.

O engenheiro civil Roberto Maestrello destacas algumas iniciativas de construção utilizando estruturas pré-fabricadas na região de Ribeirão Preto. Segundo ele, além de alguns conjuntos habitacionais produzidos com paredes de concreto moldadas industrialmente nas obras, há trabalhos pioneiros de execução de conjuntos habitacionais através de estruturas pré-fabricadas mistas de metal/concreto, executadas parte com pré-fabricação na indústria e parte em obras.

Entre os exemplos estão a ponte sobre o rio da Onça, em Sertãozinho, construída nos anos de 1970; o pavimento misto em edifício industrial na Av. Castelo Branco, feito nos anos 1980; a utilização de formas deslizantes na execução do canal inclinado da Av. Francisco Junqueira, nos anos de 1970, baseado em estudos e obras de caixas d´agua executadas com formas deslizantes e/ou trepantes, largamente disseminadas no Brasil a partir dos anos de 1960.

A execução de paredes em concreto armado através de formas trepantes em edifícios de armazenagem de açúcar a granel nas usinas São Geraldo, em Sertãozinho, e Santa Fé, em Nova Europa.

A construção de pontes de concreto em vigas pré-moldadas na Rua Florêncio de Abreu com Av. Francisco Junqueira, sobre o córrego Retiro Saudoso; na ponte da Av. João Fiusa, sobre o córrego Ribeirão Preto, e na ponte da Avenida João Goulart, no final dos anos de 1980.

O pavimento sobre o escritório do CREA-SP, na sede da AEAARP, é pré-fabricado. Foi montado com materiais metálicos e alternativos em 2011.

No viaduto na Av. Maria de Jesus Condeixa, que está em construção sobre a Av. Francisco Junqueira e córrego do Retiro Saudoso, em Ribeirão Preto, as vigas são pré-moldadas de concreto protendido. São produzidas em canteiro na av. Maurilio Biagi, para depois serem transportadas e içadas sobre os pilares no próprio local.

“Todas essas construções têm caráter inovador e pioneiro, que trouxeram ganhos em tempo e em execução”, ressalta Roberto.

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