Começou na manhã de hoje a 16ª Semana de Engenharia da AEAARP-Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto. Neste ano, o evento recebe o Simpósio Nacional de Tecnologia Industrial do GEP-Grupo de Empresas Parceiras. 

A programação, que segue durante o dia de hoje até amanhã às 18h, tem oito painéis sobre geração de energia, mercado e indústria sucroenergética.

O evento é acompanhado por mais de 600 inscritos, entre profissionais e dirigentes do setor, e a feira de negócios tem 62 empresas expositoras.

Abertura

Na solenidade de abertura, realizada na AEAARP na noite desta terça-feira, líderes empresariais expuseram a necessidade de combinar tecnologia, produção de energia, meio ambiente e segurança alimentar.

“Nessa equação, quem tem dado as melhores respostas ao mercado são o setor produtivo e os profissionais do setor tecnológico”, afirma o engenheiro Fernando Junqueira, presidente da Associação.

Veja aqui a programação completa. https://aeaarp.org.br/eventos/simposio-nacional-de-tecnologia-industrial-do-gep-explorando-a-vanguarda-da-inovacao-no-setor-sucroenergetico-industrial/

Energia

Um dos desafios do setor sucroenergético é a produção de combustíveis. “A pauta deixou de ser aumentar a produção de etanol. A forma de atender o mercado não é aumentar essa produção, é diversificar. O futuro do etanol é agora, o futuro do setor não é necessariamente o etanol”, fala Luiz Carlos Oranges, diretor de engenharia da AEAARP e coordenador técnico do evento.

Um dos debates em curso é a produção de nitrogênio a partir de subprodutos da indústria canavieira. “A pauta hoje é projetar o futuro”, conclui Fernando Junqueira.

O engenheiro agrônomo Leonardo Barbieri, diretor de agronomia da AEAARP, considera que algumas das respostas às questões ambientais globais estão na engenharia, na arquitetura e na agronomia

O aumento da população mundial de 2 para 7 bilhões de pessoas em sete décadas fez disparar números que acusam grande impacto do ser humano no Planeta. “Nós temos de saber onde está a solução para essas questões”, fala o engenheiro Fernando Junqueira, presidente da AEAARP-Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto.

Esse é o mote do encontro que a Associação promoverá na próxima quinta-feira com o título ESG: desafios ambientais globais, soluções de governança locais, com Laura Valente de Macedo, que é pesquisadora associada em governança e infraestrutura urbana, no programa de administração pública e governo da FGV.

O evento é parte de uma série de encontros promovidos pela diretoria de agronomia da AEAARP, sob a coordenação do engenheiro agrônomo Leonardo Barbieri. O título dos encontros, Quinta do Amendoim, sugere que as conversas com os convidados devem extrapolar o rito de uma palestra convencional.

“A ideia é reunirmos especialistas, locais e de outras instituições, para oxigenarmos conceitos e trabalharmos juntos por essas soluções. Reclamar é simples, difícil é se dispor a colaborar. E o que estamos propondo é nos juntarmos para trilhar esse caminho mais trabalhoso”, observa Leonardo.

Os encontros da Quinta do Amendoim são gratuitos e acontecerão todas as terceiras quintas-feiras de cada mês até novembro.

Números

O cenário que será debatido no encontro é o de que o aumento populacional das últimas décadas foi combinado com a migração em massa do campo para a cidade e o aquecimento do consumo – “em 2020, consumimos os recursos do nosso Planeta em pelo menos 75% acima do disponível ou o equivalente a viver de 1,75 Terras, de acordo com a Global Footprint Network. Estamos no cheque especial da natureza”, pontua Laura.

Esse cenário provocou concentrações de gases que causam o efeito estufa em índices recordes, emissão de gases em atividades agrícola e pecuária e principalmente na produção de energia.

“A produção e a distribuição de alimentos, a proteção da biodiversidade e a redução de emissões carbônicas são questões que devem ser enfrentadas pelo conjunto da sociedade. Muitas respostas estão nas engenharias, que têm a capacidade de formular soluções que mitiguem o impacto já causado e que não resultem em novas e dolorosas consequências”, explica Laura.

Em sua visão, grandes medidas – como leis, decretos e acordos internacionais – são implementadas no nível local. “É nas cidades que começamos as verdadeiras mudanças”, fala.

Associação representa os profissionais há 75 anos e recebeu uma placa do Conselho em reconhecimento pela história 

A Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP) foi homenageada pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP). A entidade de classe, que completou 75 anos, foi prestigiada durante a sessão plenária do Crea-SP do último dia 20/07, na capital paulista.

“As associações são o elo entre o Conselho e os profissionais nos municípios. A homenagem é mais que justa, pois a AEAARP atende a área tecnológica há mais de sete décadas. Agradecemos a parceria e colocamos o Conselho à disposição para as entidades e, assim, avançarmos em ações que valorizem os profissionais das Engenharias, Agronomia e Geociências”, destacou o presidente do Crea-SP, Eng. Vinicius Marchese.

O presidente da AEAARP, Engenheiro Fernando Paoliello Junqueira, agradeceu a homenagem e ressaltou a importância da aproximação do Conselho com as entidades para o desenvolvimento dos profissionais do município e em todo o Estado. “O estreitamento das associações com o Crea-SP é fundamental para que os profissionais contribuam para a difusão das funções do Conselho, que, inclusive, oferece segurança jurídica para a própria classe. Temos feito forças-tarefas e diversas ações em conjunto, mostrando que o trabalho da autarquia não visa somente a fiscalização, mas sim impulsionar a carreira dos profissionais junto às entidades”, destacou. 

Na ocasião, ele recebeu uma placa em consagração aos trabalhos prestados da associação durante todos esses anos pelos profissionais da área tecnológica no município de Ribeirão Preto.

A pauta sobre sustentabilidade une a OAB Ribeirão Preto à campanha Civilidade nas Ruas, lançada em 2019 pela AEAARP - Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto, com objetivo de aumentar a destinação de resíduos para reciclagem. Em reunião realizada na AEAARP, nesta quarta-feira, 21 de junho, as duas entidades selaram parceria para ampliar a destinação de resíduos para reciclagem na cidade.

Já são parceiros o SINCOVARP-Sindicato do Comércio Varejista de Ribeirão Preto, CDL-Clube dos Dirigentes Lojistas, Lions Clube Centro, Lions Clube Ribeirão Preto Campos Elíseos, ABRAPEC (Associação Brasileira de Assistência às Pessoas com Câncer), além dos Lions Clubes de Brodowski e Cravinhos.

Toneladas de EPS (conhecido como IsoporR), blister (cartelas vazias de comprimidos), além de papel, papelão, latinhas, garrafas pet, vidro, tampinhas de plástico, lacres de latinhas têm sido destinadas a empresas de reciclagem que reaproveitam os materiais em processos industriais evitando poluição da cidade, acúmulo em lixões clandestinos e contribuindo para diminuir a quantidade de resíduos nas vias públicas. “É uma ação de responsabilidade social, alinhada com parceiros que têm conseguido grandes resultados, por isso, vamos ampliar as parcerias e fazer desta campanha um pacto pela sustentabilidade”, comenta o presidente da AEAARP, engenheiro Fernando Junqueira.

“Conhecemos a campanha e começamos agora a fazer um chamamento aos 9 mil advogados da OAB Ribeirão Preto para que participem destinando corretamente os resíduos. A campanha Civilidade nas Ruas contribui com geração de renda, inserção social, sem contar a contribuição ao espaço público e ao meio ambiente, questões que estão em sintonia com o debate mundial”, disse o presidente da entidade, advogado Alexandre Nuti.

Presentes à reunião, além do engenheiro Fernando Junqueira e o advogado Alexandre Nuti, estavam a gestora ambiental Kelly Cristina, o diretor administrativo da AEAARP, Luiz Menegucci, e as jornalistas, Daniela Antunes e Blanche Amancio.

O portal da AEAARP mantém uma lista atualizada de endereços, que agora conta com a sede da OAB em Ribeirão, para o descarte de materiais recicláveis. A lista está disponível no link: https://aeaarp.org.br/release/ecopontos-em-ribeirao-preto .

Fispal Tecnologia reconhecida internacionalmente como uma plataforma de ponta para apresentar inovações e avanços em processos, embalagens e logística

A AEAARP - Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto está organizando uma visita técnica à Fispal Tecnologia, maior encontro mundial das indústrias de alimentos e bebidas. O evento celebra a 39ª edição e será realizado dia 29 de junho de 2023.

A Fispal Tecnologia é reconhecida internacionalmente como uma plataforma de destaque para apresentação das últimas novidades e tecnologias em processos, embalagens e logística do setor. Com expectativa de reunir mais de 45 mil visitantes e cerca de 450 expositores, o evento promete proporcionar um ambiente rico em conhecimento e networking para profissionais da área.

Este ano, a Fispal Tecnologia traz como tema "Futuro Sustentável" e reforça seu compromisso em impulsionar o crescimento da indústria de alimentos e bebidas, ao mesmo tempo em que busca promover a consciência social e ambiental. Os projetos, atrações e operacional do evento seguirão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A visita técnica à Fispal Tecnologia é uma oportunidade imperdível para profissionais da engenharia, arquitetura e agronomia conhecerem de perto as últimas tendências e inovações do setor. Além disso, é uma chance única de estabelecer contatos e parcerias com renomados especialistas e empresas do ramo.

As vagas para a visita são limitadas, portanto, é essencial garantir a inscrição o quanto antes. Associados da AEAARP não têm custo para participar, enquanto não associados devem consultar o valor e disponibilidade. O ônibus para o transporte dos participantes partirá da AEAARP, localizada na Rua Clemente Ferreira, 330, às 6h30, com previsão de retorno às 22h30.

No dia 14 de junho, uma comitiva da AEAARP-Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto vai conhecer a indústria de papelão do Grupo Penha, em Itapira (SP). A saída do grupo será às 6h15 da manhã e a previsão de retorno é para as 17h.

A indústria de papelão do Grupo Penha é reconhecida como uma das maiores produtoras de embalagens de papelão ondulado do país, com faturamento anual de R$ 2,5 bilhões.

Com presença em três estados brasileiros - São Paulo, Paraná e Bahia - o grupo emprega cerca de 2 mil profissionais em quatro plantas operacionais e quatro unidades de apoio, todas especializadas na produção de soluções de embalagens.

A visita técnica proporcionará aos participantes a oportunidade de conhecer todas as etapas do processo de fabricação dos produtos do Grupo Penha. Desde a matéria-prima até o produto final, os visitantes terão a chance de acompanhar de perto as práticas adotadas pela indústria.

O engenheiro Celso de Azevedo, diretor de Engenharia da AEAARP, explica que o Grupo Penha pratica o modelo de economia circular, produzindo papelão ondulado com menor impacto ambiental. “Precisamos conhecer mais sobre esse processo para aplicarmos em nossas atividades ou novos negócios”, fala Celso.

As vagas para a visita técnica são limitadas e exclusivas para associados AEAARP. A saída e o retorno ocorrerão na sede da Associação - Rua Clemente Ferreira, 330.

Pesquisa do IBGE identificou o aumento de 120% na presença de mulheres no setor da construção civil entre os anos 2007 e 2018

Nesta sexta-feira, 12 de maio, a Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (AEAARP) promove a palestra Mãe, mulher e seus desafios na sociedade moderna com a psicóloga Eliana de Pádua. Ela vai falar sobre desafios das mulheres desde a Grécia Antiga até os tempos atuais. A organização é do grupo AEAARP Mulher.

“Será uma conversa sobre como a mulher vem se empoderando e ocupando espaços em que antes não eram vistas e nem aceitas”, fala Eliana.

Uma pesquisa realizada pelo IBGE identificou o aumento de 120% na presença de mulheres no setor da construção civil entre os anos 2007 e 2018. Atualmente, são mais de 200 mil mulheres ocupando cargos em escritórios de engenharia, indústrias e canteiros de obras. 

A palestra será às 18h30 na AEAARP - Rua Clemente Ferreira, 330. O evento é gratuito.

Reconhecido pelo potencial econômico, o bambu pode ser utilizado nas indústrias de alimentos, cosméticos e construção civil

Há dois lugares no mundo onde não existem bambus nativos: na Europa e na Antártida. Em todos os outros continentes somam-se 1.300 espécies, a maioria nos países asiáticos - China, Japão, Tailândia, Indonésia, Malásia, Myamar – onde também o uso desse material é milenar.

Índia, Bangladesh, países das Américas Central e do Sul, África e Austrália têm espécies nativas de bambu.

O bambu pode substituir ou complementar outras matérias primas, como fibra, carvão vegetal e madeira, e é matéria-prima para revestimentos e estruturas na construção civil e para movelaria e artesanato. Do ponto de vista ambiental, a planta promove enriquecimento químico e físico do solo e pode ser usada para recuperação de áreas degradadas.

Vantagens
O bambu se adapta às mais diversas condições ambientais, não exige grandes cuidados com a manutenção e é de fácil manejo, além de ter custo reduzido de implantação, característica que atrai investidores.

Quando adequadamente manejado, tem elevada produção de biomassa em curto período de tempo, em comparação a outras espécies usadas na silvicultura, como o pinus e eucalipto, por exemplo.

Não possui a necessidade de replantio após as colheitas, já que novos colmos são produzidos anualmente, por um período que varia de acordo com a espécie. Outra vantagem é a boa qualidade de suas fibras, que podem ser usadas na indústria de papel e celulose, na formulação de produtos que exigem maior resistência ao rasgo e capacidade de carga, como os sacos para cimento.

O bambu cresce rápido e por isso mesmo sequestra mais gás carbônico do ar do que outras plantas. “Há registros de taxas de crescimento da ordem de 10 cm/dia a 100 cm/dia em condições ambientais favoráveis. Em seis meses de crescimento, um colmo de um bambu gigante pode atingir a altura de 20m a 25m”, destaca Luiz Barbieri.

Muitos bambus são conhecidos por seus efeitos biológicos – são antioxidantes, antirradicais livres, antienvelhecimento, antibacterianos – e também podem ser usados na prevenção de doenças cardiovasculares, segundo Maria Tereza Grombone Guaratini, pesquisadora do Instituto de Botânica de São Paulo.

O destino industrial da planta é a indústria de papel e celulose, bebidas e cosméticos. Existem pesquisas sobre a aplicação na área de nanotecnologia – uma delas seria a obtenção de nanopartículas de carvão ativado, usadas para a fabricação de filtros de alta eficiência.

O bambu ainda pode ser utilizado como fonte de alimentação, por meio de brotos e farinhas, conforme pesquisa desenvolvida pela Faculdade de Engenharia de Alimentos da Unicamp.

Cenário do Bambu
No Brasil, o bambu é encontrado em maior concentração na Amazônia. Existem cerca de 260 espécies no país, distribuídas em 35 gêneros. Entre as principais espécies estão a Bambusa vulgaris, Bambusa vulgaris variedade vittata, Bambusa tuldoides, Dendrocalamus asper, Guadua angustifolia, Phyllostachys aurea (cana-da-índia ou vara-de-pescar) e Phyllostachys pubescens (“Mossô”).

O engenheiro agrícola Antonio Ludovico Beraldo, professor titular aposentado da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, conta que o bambu chegou ao país com os colonizadores portugueses, trazidos de suas possessões na Ásia (Goa e Cantão). Segundo ele, as primeiras espécies pertenciam aos gêneros Bambusa e Dendrocalamus, posteriormente, espécies de bambus do gênero Phyllostachys foram trazidas pelos imigrantes japoneses.

“No entanto, o Brasil apresenta uma grande quantidade de espécies de bambus nativos, que ocorrem em ambiente de mata, sendo ainda praticamente desconhecidos pela população”, afirma Antonio, que é co-autor dos livros “Bambu de Corpo e Alma” e “Bambu: Características e Aplicações em Engenharia e na Arquitetura”.

É no Estado do Acre que está a maior reserva natural em espécies nativas de bambu no mundo, com 4,5 milhões de hectares, o que corresponde a 20,4% do total dos 22 milhões de hectares plantados em todo o planeta, segundo dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A floresta é constituída principalmente pela espécie gigante Guadua aff chaparensis e em menor escala, pelo Guadua sarcocarpa. “Eu costumo dizer que, se a colonização do Brasil tivesse começado pelo Acre, certamente, hoje, seríamos, juntamente com a China, a Índia e o Japão, uma dessas potências do bambu industrializado”, afirma o engenheiro agrônomo José Luiz Barbieri.

Ocorrência de bambu nativo no Acre

A floresta vem sendo estudada por várias instituições de pesquisa. A Embrapa Acre desenvolveu, entre 2009 a 2016, pesquisas com bambu nativo do gênero Guadua.

“Os resultados estão sendo utilizados para a conservação dos recursos genéticos e para o manejo sustentável das populações nativas de bambu”, detalha o engenheiro agrônomo Elias Melo de Miranda, pesquisador da Embrapa Acre.

Em São Paulo
No Estado de São Paulo, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) mantém, na Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento (UPD) de Tatuí, o Banco Ativo de Germoplasma de Bambu. São 70 espécies, distribuídas em uma área de aproximadamente dois hectares. É considerada a maior coleção existente na América Latina.

O engenheiro agrônomo Marcelo Ticelli, pesquisador científico e chefe da UPD Tatuí, conta que a implantação teve início por volta do ano de 1956 até 1963 e as espécies introduzidas foram trazidas dos Estados Unidos, Peru, Porto Rico, El Salvador, Portugal, Trinidad.

Em 2014, novas espécies trazidas da China foram inseridas na coleção, formada por gêneros de bambus exóticos, como o Dendrocalamus, Phyllostachys, Bambusa, Guadua, Thyrsostachys, Gigantochloa, Pseudosasa, Ochlandra e também diversas espécies raras, como a Ochlandra travancorica, Thirsostachys siamenses, Thirsostachys olliveri, Phyllostachys makinoi, Bambusa bambos e Dendrocalamus sikkimensis.

De acordo com Antonio Beraldo, o bambu é plantado principalmente por pequenos produtores.

Economia
Comercialmente, o bambu chama a atenção há pouco tempo. Em 2011, foi aprovada a Lei do Bambu (Lei nº 12.484/2011), que instituiu a Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu (PNMCB), com o objetivo de incentivar o manejo sustentável e o cultivo das espécies nativas e entre os agricultores familiares.

Em 2017, o país foi incorporado como o 43º país membro da Rede Internacional de Bambu e Rattan (INBAR), entidade intergovernamental que reúne os países protagonistas no mercado mundial do bambu e movimentam cerca de 60 bilhões de dólares ao ano.

Segundo Elias, pesquisador da Embrapa Acre, a criação da Rede Brasileira do Bambu (RBB), de perfil acadêmico, e da Associação Brasileira dos Produtores de Bambu (Aprobambu), que busca incentivar as pesquisas e o empreendedorismo, possibilitou a divulgação e promoção do bambu como alternativa econômica.

“Trata-se de um recurso rapidamente renovável que pode ser fonte contínua de matéria-prima para diferentes mercados e uma opção de negócio sustentável”, fala o pesquisador.

Desvantagens
Diversas espécies de bambus lenhosos raramente produzem sementes e, quando isso ocorre, as sementes são de baixa viabilidade germinativa, tornando a obtenção de mudas para plantações em larga escala um fator limitante.

Para a produção de mudas para plantações comerciais é recomendado o uso da propagação in vitro ou micropropagação. “A produção de mudas em pequena escala é um processo lento e pode ser feito por propagação vegetativa convencional, ou seja, por meio do enraizamento de segmentos de colmos com nós ou de ramos secundários. Após o processo de enraizamento é possível multiplicar as mudas pelo desmembramento dos perfilhos que são emitidos de cada muda original”, explica Elias.

O engenheiro agrônomo alerta que é necessário ter cuidado com espécies de hábito de crescimento do tipo alastrante por serem plantas muito agressivas na ocupação espacial do terreno, podendo se transformar em invasoras. “A canada-índia ou bambu mirim (P. aurea), por exemplo, deve ser manejada para evitar que se alastre para locais indesejados, pois a dificuldade e o custo para a erradicação podem ser elevados”.

A vulnerabilidade ao ataque de insetos xilófagos e fungos, devido ao seu elevado teor de amido, também é uma desvantagem. “Entretanto, o tratamento químico dos colmos por imersão praticamente elimina este problema”, ressalta o agrônomo
José Luiz.

Escola de bambu - Inspira investimento
Agrônomo ribeirão-pretano frequentou escola feita com bambus em 1950 e decidiu investir na planta

O engenheiro agrônomo José Luiz Barbieri é um admirador de bambu. Nos anos de 1980, ao adquirir algumas terras em Uberaba (MG), iniciou o plantio com a espécie Dendrocalamus asper.

Foi a memória afeita da infância no “Jardim da Infância Machado de Assis”, que ele frequentou nos anos de 1950, que incentivou o investimento. A escola, que funcionava dentro do Parque Municipal do Morro de São Bento, em Ribeirão Preto, era totalmente construída com bambus gigantes, da espécie Dendrocalamus asper, inclusive o telhado.

Hoje, José Luiz possui um banco de germoplasma de bambu, com 11 das 20 espécies mais importantes do mundo, voltado, principalmente, para a construção, arquitetura, decoração, movelaria e artesanato.

Bambu: alternativa construtiva
Planta é utilizada em sistemas construtivos e pode substituir o aço no reforço de estruturas de concreto

O uso do bambu na construção civil movimenta US$ 30 bilhões na China, que responde por metade do mercado mundial, segundo informações do estudo “Economia do Bambu no Brasil: Tecnologia e Inovação na Cadeia Produtiva – Perspectivas e Desafios” realizado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

Fora da China, em países da América Latina – Colômbia, Costa Rica e Equador, por exemplo – existem projetos bem-sucedidos de habitações populares com fins de interesse social e até de grandes edificações, como pavilhões de exposições, hotéis e edifícios verticais.

O mercado, segundo o engenheiro civil Vitor Marçal, tem sido atraído pela versatilidade dessa matéria-prima – leve, resistente e de fácil manuseio – e pela boa imagem pública que essas construções proporcionam. Vitor é secretário executivo da Associação Brasileira de Produtores de Bambu (Aprobambu) e acrescenta que, além dessas características, a planta também é suficientemente resistente para manter as características de estruturas no decorrer do tempo de uso.

“É um elemento construtivo que pode agregar bastante ao setor da construção civil. A beleza estética e o grande apelo ecológico são características interessantes para seu uso, diminuindo consideravelmente o custo energético para produção desse material, seu beneficiamento, aproveitamento e acabamento final”, destaca o engenheiro.

De acordo com a Maria Tereza Grombone Guaratini, pesquisadora do Instituto de Botânica de São Paulo, bambus são considerados um dos mais importantes e valiosos recursos florestais não madeireiros. “Os bambus lenhosos possuem propriedades físicas e mecânicas que os tornam adequados para serem utilizados no desenvolvimento de produtos normalmente produzidos com madeira nativa ou de reflorestamento”, destaca.

Aplicação
O bambu pode ser aproveitado nos mais diversos segmentos da construção civil, como escoras, proteção de obra, formas, elementos estruturais (colunas, vigas, caibros) e laminados de bambu, que podem ser utilizados tanto como elementos estruturais (pisos, revestimentos e painéis estruturais) ou de vedação.

Pode ser cortado em ripas, dando mais flexibilidade ao material e permitindo seu uso em sistemas construtivos arqueados e estruturas em casca. As mesmas ripas podem ser industrializadas, sendo planificadas nas quatro faces e coladas umas as outras em diferentes posições, produzindo assim “madeira” laminada colada de bambu, que possui resistência e durabilidade tão grande quanto madeiras de lei. “O laminado de bambu pode ser empregado em diversos setores da construção civil, desde formas, revestimentos, pisos, coberturas (telhas) e elementos estruturais”, afirma Vitor.

O bambu substitui também grandes tubulações que tradicionalmente são produzidas com substâncias cimentícias, metal ou plásticos, sendo cerca de 50% mais leves e 30% mais baratas, proporcionando redução de custos, logística e montagem, permitindo menor consumo, menor tempo de montagem, equipamentos mais leves e menos mão de obra.

Já os colmos, desde que colhidos no tempo ideal, tratados e secos, podem ser utilizados como escoras, formas, proteção de obra, e principalmente como colunas, vigas e outros elementos estruturais em diversos sistemas construtivos utilizados atualmente.

Diversas espécies de bambu apresentam características indicadas para serem utilizadas na construção civil. Gêneros de bambu como Phyllostachys, Bambusa, Dendrocalamus e Guadua são os mais utilizados na construção civil brasileira. “Esses bambus apresentam diferentes diâmetros que podem variar de um centímetro, no gênero Phyllostachys, até 25 centímetros no gênero Dendrocalamus”, informa Vitor.

Dependendo das características de cada um podem ser utilizados em funções estruturais. Bambus mais finos, por exemplo, são ideais para vedações e acabamentos. À medida que os diâmetros aumentam podem ser aproveitados como caibros e peças diagonais de travamento superior. Bambus com maior diâmetro ou feixes de bambus de menor diâmetro servem como vigas e colunas.

“Independente do tipo de bambu a ser utilizado é imprescindível que estejam tratados e secos, possibilitando o desenvolvimento de estruturas que trabalhem menos após a execução da obra e garantindo a vida útil adequada contra agentes patológicos, como fungos e insetos”, alerta o engenheiro.

Sistemas construtivos
Ainda de acordo com o engenheiro Vitor, a falta de conhecimento sobre o material faz com que um número maior de pessoas utilize o bambu de forma incorreta, sem tratamentos adequados e com técnicas ineficientes, fazendo com que algumas estruturas não tenham todo o potencial de utilização desse material e terminem por diminuir sua importância e até negativar a opinião dos consumidores por este tipo de produto.

“É necessário que o bambu seja utilizado da forma correta, favorecendo assim o desenvolvimento de sistemas construtivos eficientes e resistentes, mostrando todo o potencial de aproveitamento estrutural do bambu”, salienta.

A maioria dos sistemas construtivos permite a utilização do bambu. Podem ser desenvolvidas estruturas feitas totalmente em bambu ou nas quais o bambu é utilizado junto com o concreto armado, perfis metálicos, madeira, dentre outros.

Vitor ressalta que o projeto deve ser realizado por profissional capacitado.

“Quando diferentes sistemas construtivos são usados em um mesmo projeto é importante que esse profissional tenha conhecimento de ambos e principalmente entenda como utilizá-los em conjunto de forma eficiente e resistente”.

Obras executadas somente com bambu estrutural também demandam conhecimento sobre uniões e conexões entre peças de bambu. “O uso de colmos de bambu, juntamente com elementos de concreto armado, madeira e perfis metálicos demandam um entendimento global e local dos esforços atuantes para o projeto e execução dos sistemas conectivos e interação entre os diferentes elementos estruturais”, informa.

Os tipos de vedação e instalações também precisam de atenção por parte do projetista e construtor. Alguns sistemas estruturais dificultam o uso de vedações convencionais, como tijolo cerâmico, sendo necessário maior entendimento de como essas vedações e instalações serão desenvolvidas no decorrer da obra.

Feito com bambu
O bambu é protagonista de obras de arte da arquitetura sul-americana

O colombiano Simón Vélez tornou-se um dos arquitetos mais importantes do mundo pelo uso inovador do bambu na construção. Simón desenvolveu novos métodos e sistemas de apoio estrutural, transformando o material em um recurso moderno e flexível, que pode ser usado em todos os tipos de edifícios.

Com projetos espalhados por 11 países, dentre eles, a Igreja Nuestra Señora de La Pobreza, em Pereira, Colômbia, o Museu Nômade Zócalo, na Cidade do México, e ZERI Pavilhão para a Expo 2000, em Hannover, na Alemanha.

Vélez também projetou o Crosswaters Ecolodge, um destino de ecoturismo nas florestas da Reserva de Montanha Nankun Shan, na província de Guangdong, na China, considerado o maior projeto comercial para o uso de bambu.

Brasil não tem norma técnica para uso do bambu
Segundo a ABNT, proposta está em fase de elaboração e será aberta à consulta pública

Normas internacionais para o uso estrutural do bambu existem desde 1973 e vêm sendo melhoradas e adequadas à realidade de cada país. As normas internacionais ISO 22156 e ISO 22157 norteiam várias outras de países de todo o mundo, principalmente sul-americanos, como Colômbia, Peru e Equador.

No Brasil, o bambu ainda não é regulamentado, porém já é amplamente utilizado, tanto em estruturas rurais quanto em projetos de maior complexidade estrutural. “Como as normas nacionais ainda não estão vigentes os responsáveis técnicos precisam se embasar em normas internacionais e experiência prática sobre o material”, explica Vitor Marçal, secretário executivo da Associação Brasileira de Produtores de Bambu (Aprobambu).

Atualmente, a Comissão de Estudo de Estruturas de Bambu (CE002:126.012) atua junto à Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), no âmbito do Comitê Brasileiro da Construção Civil (ABNT/ CB-002), para definir parâmetros de aproveitamento estrutural do bambu no país.

Duas normas técnicas estão em desenvolvimento na ABNT: a Norma Brasileira 16828-1 (Estruturas de Bambu - Parte 1: Projeto) e a NBR 16828-2 (Estruturas de Bambu – Parte 2: Determinação das propriedades físicas e mecânicas).

A primeira define os requisitos básicos exigidos para projeto de estruturas feitas com colmos de bambu e a segunda estabelece métodos de ensaio para avaliar as propriedades físicas e mecânicas do bambu. Os resultados dos ensaios poderão ser usados para fins de controle de qualidade das construções de bambu.

O documento foi redigido por profissionais, pesquisadores e bambuzeiros de vários estados brasileiros, nos últimos dois anos, em reuniões bimestrais em diferentes estados brasileiros. Segundo a assessoria de imprensa da ABNT, os documentos estão em fase de editoração e ainda não foram submetidos à Consulta Nacional.

“Torcemos para que em breve essa norma já esteja disponível para aproveitamento nacional orientando e definindo conceitos básicos de qualidade do bambu, cálculo estrutural, projeto, execução e manutenção de estruturas desenvolvidas com bambu no Brasil”, salienta Vitor, que é também secretário da Comissão de Estruturas de Bambu.

Resíduo é gerado durante o processo de fabricação do etanol. Na safra de 2018/2019 foram produzidos 397 bilhões de litros de vinhaça no Brasil

Leia mais: https://aeaarp.org.br/wp-content/uploads/2022/08/20200203135116147-janeiro-2020.pdf - página 5

O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar e o segundo maior produtor e exportador de etanol, atrás apenas dos Estados Unidos. Na safra de 2018/2019 a produção foi de 620,4 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, sendo 33,14 bilhões de litros de etanol, 21,7% maior na comparação com 2017/18, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Para cada litro de etanol produzido pela indústria são gerados de 10 a 15 litros de vinhaça, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).

A vinhaça, que no passado era descartada diretamente em rios e em mananciais provocando prejuízos ambientais, hoje é opção para adubar o solo em razão da alta concentração de potássio, fundamental no processo de fotossíntese, da absorção de nutrientes em diversas reações enzímicas no interior da planta, reduzindo o uso de fertilizantes químicos. A vinhaça é também fonte de energia por meio do processamento do biogás.

Aplicação da vinhaça
“A vinhaça elevou patamar de produtividade de muitos solos, quer pelo aporte de matéria orgânica como pelos nutrientes contidos”, explica a engenheira agrônoma Raffaella Rossetto, pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA)/ Programa Cana do Instituto Agronômico (IAC).

A utilização de vinhaça como fertilizante agrícola teve início na década de 1970 e se intensificou no final dos anos de 1990, principalmente devido ao aumento dos preços dos fertilizantes químicos. É aplicada nos canaviais na forma líquida, por meio da fertirrigação, técnica de adubação que utiliza a água de irrigação para levar nutrientes ao solo. As usinas já aplicam 100% da vinhaça produzida no próprio cultivo da cana.

Desde a década de 1980, o resíduo vem sendo utilizado em área total, em irrigação nas soqueiras, com o uso de canhões aspersores que lançam por uma moto-bomba a vinhaça succionada diretamente do canal principal.

Irrigação com canhão aspersor

Há também a tendência de utilização da vinhaça aplicada na linha da cana. Em geral, essa prática tem ocorrido quando a vinhaça é mais concentrada em potássio. “A aplicação na linha é mais rápida e eficiente, com ganhos econômicos. Ambientalmente apresenta vantagens por não acarretar problemas de vazamentos e encharcamentos no solo”, destaca Raffaella.

A quantidade de vinhaça aplicada no canavial é definida com base no teor de potássio e na análise química do solo, informações que compõem o Plano de Aplicação de Vinhaça (PAV). Essa documentação, conforme explica o engenheiro agrônomo Danilo Alfenas Voltarel, é protocolada na Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB).

“Por meio desta análise, juntamente com o PAV, é estabelecida a lâmina ideal de aplicação de vinhaça e o volume de determinada calda ou solução rica nos demais nutrientes importantes para o desenvolvimento da cultura. Esta calda ou solução deve ser homogênea, incorporada à vinhaça também de forma homogênea e aplicada na dose programada através das necessidades culturais da área”.

No estado de São Paulo, a NormaTécnica P4.231/2005, da CETESB, define o cálculo para determinar a quantidade de vinhaça a ser aplicada no solo, como deve ser o monitoramento, além de dar disposições gerais para armazenamento e aplicação da vinhaça.

“Em geral, volumes de 150m3/ha são doses médias comuns. Para a vinhaça aplicada na linha da cana, o volume de cerca de 40a50 m3/ha permite a aplicação da dose de potássio suficiente para o manejo da soqueira da cana”, esclarece Raffaella.

Aplicação da vinhaça concentrada na linha de cana

Há vantagens e desvantagens financeiras no uso da vinhaça como fertilizante: o produtor economiza na compra do potássio, que na maioria das vezes é importado, mas tem de investir mais na aplicação – o uso de aspersores e aplicação da vinhaça em área total gera um gasto superior à aplicação de cloreto de potássio.

No modelo de aplicação na linha da cana, como fertilização líquida, deixa o processo mais econômico. Neste caso, os custos são semelhantes aos da aplicação de cloreto de potássio sobre a palha, considerando uma mesma distância.

Produtividade x problemas ambientais
O efeito positivo da vinhaça na produtividade da cana ocorre em praticamente todas as variedades, nas mais diversas condições de solo e clima. Em geral, a dose utilizada prevê a quantidade sufi ciente de fornecimento de potássio que a planta precisa durante o ciclo de crescimento.

“Evidentemente, a vinhaça não é um fertilizante completo, que supre todas as necessidades da cana, de forma que muitos pesquisadores se dedicaram a estudar como, quando e com o que complementar a vinhaça. De certa forma, para as soqueiras é necessária complementação da vinhaça com nitrogênio. É preciso também estar atento aos desequilíbrios entre potássio e magnésio, que podem gerar problemas no acúmulo de sacarose na cana”, alerta Raffaella.

Altas doses de vinhaça ou o uso de vinhaça com alto teor de potássio podem acarretar atrasos na maturação da planta, redução do teor de sacarose e de fibras e acúmulo de cinzas no caldo, prejudicando a matéria prima, principalmente para a produção de açúcar.

Em caso de armazenamento ou aplicação incorreta, a vinhaça também pode atingir corpos de água e, em função de seu alto teor de matéria orgânica, reduzir a quantidade de oxigênio na água causando a morte de peixes e tornando a água imprópria para o consumo, alerta Antonio Luiz Lima de Queiroz, assistente executivo da presidência da CETESB.

Raffaella explica que o risco de poluição do lençol freático ocorre se a vinhaça for aplicada em solos muito rasos (menos de 3 m de profundidade), arenosos, onde a drenagem é rápida ou pode ocorrer escorrimento superficial ou erosão.

No estado de São Paulo, a vinhaça é aplicada em solos argilosos, ou de textura média, mais profundos. “Nesses solos, quando se utiliza a dose recomendada pela portaria da CETESB, não existe risco de poluição de lençol freático. Cuidados devem ser tomados em solos arenosos próximos a córregos, rios, ou corpos d´água, e solos com lençol freático superficial”.

O engenheiro agrônomo Danilo enfatiza que quanto maior a disponibilidade de áreas factíveis e aplicadas de forma racional, maiores serão os ganhos. A vinhaça, segundo ele, contribui com os atributos químicos do solo, resultando em melhor desenvolvimento da cultura, economia de insumos, óleo diesel, mão de obra e menor pisoteio na lavoura. “Vinhaça é um fertilizante agrícola e deve ser tratado como tal”, ressalta.

Vinhaça = energia
O aproveitamento de resíduos da cana-de-açúcar (vinhaça, torta de filtro e bagaço da palha) na produção de biogás começou a ser estudado pela indústria sucroalcooleira na década de 1980. Na época, porém, os projetos não avançaram por serem economicamente inviáveis.

Novas tecnologias – 100% nacional – desenvolvidas nos últimos 10 anos possibilitaram a geração de energia utilizando a vinhaça como matéria- -prima. Hoje, o Brasil já conta com seis plantas de produção de biogás a partir de resíduos da cana-de-açúcar.

A primeira foi instalada em 2012, no município de Tamboara, no Paraná, pela Cooperativa Agrícola Regional de Produtores de Cana (Coopcana), formada por 127 produtores rurais, em parceria com a empresa Geo Energética, especializada na produção de biogás a partir dos resíduos da indústria sucroalcooleira. A usina tem capacidade para gerar 4 megawatts, o suficiente para abastecer uma cidade de 10 mil habitantes.

Planta de Tamboara, no Paraná
Planta de Tamboara, no Paraná

Há outros projetos em desenvolvimento com previsão para entrar em operação em 2020: a Usina Bonfim, em Guariba (SP), da empresa Raízen, e a Usina Narandiba, em Presidente Prudente (SP), do Grupo Cocal. Esta segunda, terá capacidade de gerar 67 mil Nm3 de biometano por dia, que serão inseridos na rede de distribuição da empresa GasBrasiliano, sócia no projeto.

O biogás produzido nestas usinas poderá ser utilizado em substituição ao diesel no processamento da cana - 1 tonelada precisa de 4 litros de diesel - e no abastecimento da própria frota.

Em Mato Grosso, existe ainda a planta, já em escala comercial, da Usina Adecoagro, desenvolvido pela Methanum Engenharia Ambiental, que utiliza o biogás para geração de energia térmica.

Além de resíduos do setor sucroenergético, a indústria do biogás trabalha com resíduos da agricultura e saneamento. Segundo a Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), o setor cresceu 40% ao ano, entre 2010 e 2018. A produção está concentrada no Sul e no Sudeste.

Atualmente, são 419 plantas nas mais variadas escalas. O setor dobrou o número de plantas, em especial devido ao crescimento de pequenos produtores, que correspondem a 60% do número de plantas de biogás no país.

A produção de biogás a partir dos resíduos da indústria sucroenergética ainda é pequena, segundo o Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) 2029. No entanto, é a que apresenta o maior potencial - três vezes maior que o da agricultura e oito vezes maior que o do saneamento.

O PDE é um documento anualmente preparado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), com o apoio e seguindo as diretrizes da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energéw co (SPE/MME) e da Secretaria de Petróleo, Gás Natural e Biocombusutíveis (SPG/MME), e indica as perspectivas da expansão do setor de energia para os próximos dez anos.

As projeções da EPE para 2029 são de 852 milhões de cana processada, o que representa um potencial de produção de biogás de 46 milhões de Nm3/dia, considerando apenas o aproveitamento da vinhaça e da torta de filtro como resíduos.

“Além de ser uma solução para resolver um passivo ambiental, a produção pode influir diretamente na balança comercial. O Brasil importa 22 milhões de Nm3/dia de gás da Bolívia, ou seja, o potencial de geração de biogás do setor sucroenergético (46 milhões Nm3/dia) cobriria em duas vezes o volume importado. O aproveitamento da vinhaça como substrato do biometano reduz em mais de 90% as emissões de gases do efeito estufa liberados pelo resíduo quando descartado no ambiente”, destaca Alessandro Sanches, gerente- -executivo da Abiogás.

Após quase acabar em 2008, fungicultura brasileira vive fase de crescimento alavancado por pequenos e médios produtores, que apostam no produto fresco para driblar a concorrência

Leia mais: https://aeaarp.org.br/wp-content/uploads/2022/08/20220510125131painel-325-abril-22-site.pdf - página 6

Consumidos como alimentos desde a pré-história e descobertos como medicamentos há cerca de dois mil anos, os cogumelos são consumidos assiduamente por asiáticos e europeus há séculos, mas, no Brasil, seu cultivo é relativamente recente. Começou comercialmente na década de 1950, com a chegada de imigrantes japoneses e chineses e permaneceu pequeno até a primeira década deste século. Tanto que não há números confiáveis sobre a produção do período – um dos dados oficiais mais antigos, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), aponta que, até 1996, os brasileiros consumiam uma média de 30 gramas de cogumelos ao ano por pessoa, o que, comparado aos 2 kg por cabeça/ano consumidos na Europa, era considerado extremamente baixo.

Desde a Pré-História
Os cogumelos foram, provavelmente, um dos primeiros alimentos colhidos pelos povos pré-históricos. Na antiguidade, eram servidos pelos egípcios aos faraós como iguarias e, pelos romanos e gregos, como alimento principal em suas famosas orgias.

O uso de fungos em terapias medicinais vem de tradições milenares. Provavelmente, as primeiras reproduções de fungos conhecidas pelo homem, datando de 3.000 anos, referem-se às famosas “pedras de cogumelos” da Guatemala, onde eram usados em rituais místicos e medicinais.

No primeiro livro chinês sobre substâncias medicinais, o Shen Nung’s Herbal, escrito há mais de 2.000 anos, encontram-se registros dos efeitos benéficos de vários fungos. O Lingzhi (cogumelo do gênero Anodermas) era usado pelas cortes imperiais da China como Elixir da Vida, Deus da Longevidade. Não sendo comestível, pode-se inferir que seu uso estava associado às suas propriedades medicinais ou tônicas.

Os cogumelos foram também mencionados por grandes escritores gregos e romanos – entre os quais Hipócrates, o pai da medicina, no século IV a. C..

Na era contemporânea, o interesse pelas propriedades tônicas ou medicinais dos cogumelos aumentou enormemente a partir da década de 1970. Desde então, as pesquisas para validar suas propriedades medicinais, bem como determinar a natureza da ação dos compostos biologicamente ativos, tiveram um grande impulso, acarretando uma maior comercialização de seus produtos. Inúmeras substâncias com atividades terapêuticas têm sido isoladas e caracterizadas.

No Brasil, há relatos, de que os grupos indígenas Sanema e Yanomami, na Amazônia, são consumidores, há gerações, de uma grande variedade de cogumelos.

A partir de 2008, porém, a fungicultura brasileira entrou em uma espiral ascendente que culmina, hoje, na produção estimada em 12 mil toneladas ao ano, para um consumo de 150g per capita/ano, segundo o engenheiro agrônomo Daniel Gomes, pesquisador especialista em engenharia agrícola e pós-colheita da Agência Paulista de Técnica Agrícola (APTA) e ex-presidente da Associação Nacional de Produtores de Cogumelos (ANPC). “E a gente está seguro pra falar que temos mais de 1.000 produtores [em todo o país]”, comemora.

Várias mudanças de hábitos dos brasileiros contribuíram para a guinada na produção da cultura: aumentos na oferta de restaurantes de culinária asiática (“só na cidade de São Paulo tem mais restaurante japonês do que pizzaria”, afirma Daniel) e da consciência ambiental (cogumelos são decompositores de matéria orgânica na natureza e seu cultivo pode ser 100% sustentável); e buscas por uma alimentação mais saudável (várias espécies têm propriedades nutracêuticas, ou seja, altamente nutritivas e medicinais) e cardápios mais gourmet. “Cogumelo é tudo de bom. É saudável, gostoso, vistoso, diferente e versátil. Com ele se faz carpaccio, macarrão, pode ser assado, posto na churrasqueira... até sobremesa de cogumelo a gente tem. Essa versatilidade vem caindo no gosto do consumidor brasileiro”, enaltece Daniel.

SETE VERDADES SOBRE OS FUNGOS

- Na natureza existe o Reino Vegetal, o Animal e o Reino dos Fungos.
Sim! Apesar de apresentarem estrutura muito simples, sem a presença de folhas, raízes, caules, sementes e flores, esses organismos possuem peculiaridades próprias e distintas o suficiente para justificar sua colocação em um reino separado.

- Todos os cogumelos são fungos, mas nem todos os fungos são cogumelos.
Definidos pelo renomado cientista chinês Shu-Ting Chang como “macrofungos com corpos de frutificação característicos grandes o suficiente para serem visíveis a olho nu e coletados com as mãos”, podem ser formados acima (epígeos) ou abaixo do solo (hipógeos), como as trufas.

- Do ponto de vista metabólico, os cogumelos estão mais próximos dos animais e, quanto à reprodução, dos vegetais.
Apesar de se assemelharem às plantas, carecem de cloroplastos, por isso são incapazes de sintetizar o próprio alimento através da fotossíntese. Portanto, são heterotróficos, requerendo compostos orgânicos pré-formados como fonte de energia, obtidas por absorção.

- ‘Existe a fauna, a flora e a funga, sustentando tudo para as duas primeiras’.
Assim o biólogo Guilherme Aranha descreve o papel essencial dos fungos como decompositores da matéria orgânica.

- São altamente nutritivos e funcionais
Estudos científicos têm comprovado que os cogumelos comestíveis e/ou medicinais fornecem proteína de alta qualidade, que pode ser produzida com maior eficiência biológica em relação à animal. São ricos em fibra, minerais e vitaminas e apresentam baixo teor de gordura total, com uma alta proporção de ácidos graxos poliinsaturados.

- NÃO substituem a carne
Por serem muito fibrosos, os cogumelos promovem muita saciedade, mas nem de perto se igualam à carne do ponto de vista nutricional. 100g de cogumelos frescos possuem apenas 3% de proteínas, enquanto a mesma quantidade de carne bovina, por exemplo, possui 26%, em média. O cogumelo só vira referência de proteína vegetal quando desidratado, porque então seu percentual desse nutriente sobe para uma média de 30% em 100g de massa.

- São umamis
Os cogumelos em geral são muito ricos no aminoácido glutamato, responsável pelo chamado quinto sabor - nosso paladar sente o ácido, o doce, o amargo, o salgado e o umami (termo de origem japonesa que significa ‘saboroso e agradável’).
Fonte: https://www.anpccogumelos.org/cogumelos e biólogo Guilherme Aranha

SEGMENTAÇÃO
Nenhuma mudança de hábito teria adiantado, porém, se a cadeia produtiva da fungicultura não tivesse se reestruturado após quase acabar, em 2008, quando a queda da Lei antidumping propiciou a entrada no país de cogumelos em conserva importados por até ¼ dos preços dos produzidos por aqui.

O setor era, à época, quase exclusivamente dedicado ao “cogumelo de Paris” ou champignon, destinado à indústria, onde era pré-cozido e envasado em conserva para venda em prateleiras de supermercados e afins. “Essa variedade é sensível a temperaturas mais altas [as ideais ficam entre 15°C e 24°C], fazendo com que os cogumelos importados da China ocupassem quase todo o mercado brasileiro”, lembra a Embrapa em artigo sobre a cultura.

“Sofremos quase uma derrocada da cadeia produtiva de cogumelos [com a lei antidumping de 2008], que já era pequena, mas nessa mesma época ela começou a se transformar”, por Daniel. E essa transformação implicou, segundo ele, uma segmentação na cadeia, que gerou mais empregos e oportunidades de trabalho, com o empreendedor podendo escolher qual etapa lhe é mais favorável para investir. “Antigamente, quem produzia cogumelos eram produtores amadores que tinham de entender do ciclo todo de produção. Hoje em dia, a cadeia está se especializando e segmentando: tem o indivíduo que faz a semente, outro que faz o composto, os cultivadores (a maioria compra o composto pronto e inoculado com a semente para produzir na sua estufa) e a cadeia de ponta, que são os distribuidores”, esclarece o engenheiro agrônomo.

O Brasil ainda importa, hoje, cerca de 12 mil toneladas de cogumelos em conserva, mas os produtores que permanecem na cultura souberam encontrar formas de driblar essa concorrência. Segundo a APTA, “muitos focaram seus esforços na produção e comercialização de cogumelos frescos para se manterem na atividade”, já que o produto in natura possui uma série de vantagens em relação aos comercializados em conserva. Daniel Gomes confirma que a aposta, aceita por muitos pequenos e médios produtores, causou um rápido desenvolvimento da fungicultura.

Para ele, o consumidor também saiu ganhando com a reestruturação da cadeia, porque isso levou a uma diversificação das espécies cultivadas no Brasil. “Saímos de um produto processado e cozido, em conserva, para uma gama de sabores, tamanhos e cores de cogumelos. Hoje a gente tem uns 20 tipos disponíveis. Entre eles shimejis branco, preto, cinza e salmão, shitake, pering enoch, portobelo e até trufa brasileira. A fungicultura nacional deu um up”, arremata o engenheiro agrônomo.

Desde o início da produção brasileira, São Paulo segue como maior estado produtor e consumidor de cogumelos. Segundo dados da Secretaria de Estado de Agricultura e Abastecimento, em 2019 havia um total de 505 produtores distribuídos por 93 municípios paulistas.

De acordo com Daniel Gomes, a maior parte da cadeia produtora fica na região de Mogi das Cruzes, abrangendo Bragantina e Sorocaba, mas ele enxerga um mercado nascente e promissor na de Ribeirão Preto, do qual participam a Cog & Co e a Cogumelos Terra Roxa.

Sediada na Fazenda Santa Eulália, em São Simão – região metropolitana de Ribeirão – a Cog Cogumelos é dirigida, desde 2019, pelos sócios Guilherme Colucci Rodrigues da Silva, publicitário, e Carlos Eduardo Pizeta, internacionalista.

É Guilherme quem conta que ambos eram sócios em outro negócio de distribuição de café especial, na capital paulista. Quando, em 2018, voltaram para a terra natal por conta de questões familiares, desfizeram a sociedade com um terceiro parceiro e começaram a pensar em iniciar outro empreendimento juntos. Como ambos são vegetarianos e apaixonados por comida japonesa, o cultivo de cogumelos surgiu como uma opção atraente.

ESPÉCIES MAIS CULTIVADAS

Champignon de Paris (Agaricus bisporus)
- Mais cultivado no mundo (38% da produção global) e no Brasil (66% do total in natura). É cultivado em um composto orgânico que levar palhas de cereais, gramíneas, bagaço de cana e esterco animal. As principais regiões produtoras são Europa, América do Norte, China e Austrália.

Cogumelo Ostra e variedades de Shimeji (Pleurotus spp.)
- Ocupam a segunda posição na produção mundial (25%) e também no Brasil (16% do total in natura) Dentro do gênero Pleurotus são cultivadas várias espécies - incluem o Pleurotus ostreatus (shimeji branco e shimeji preto), Pleurotus djamor ou Pleurotus ostreatoroseus, Pleurotus eryngii, Pleurotus pulmonarius e Pleurotus citrinopileatus - em uma ampla gama de resíduos orgânicos (palha de cereais, serragem, bagaço de cana, resíduos de algodão) em sacos plásticos ou garrafas.

Shiitake ou Cogumelo do Carvalho (Lentinula edodes)
- Representa 10% da produção mundial e 12% da produção de cogumelos in natura no Brasil. Amplamente produzido no Japão, China e Coréia.

Champignon do Brasil ou Cogumelo do Sol (Agaricus blazei)
Mundialmente apreciado por suas qualidades gastronômicas e especialmente pelas propriedades medicinais, também é conhecido como Cogumelo Medicinal, Royal Sun Agaricus, The Brazilian Medicinal Mushroom e, no Japão, Himematsutake. Descoberto na região de Piedade, estado de São Paulo, em meados da década de 1960, foi enviado ao Japão para vários estudos, que relataram suas propriedades medicinais. Classificado inicialmente pelo taxonomista belga Paul Heinemann como Agaricus blazei Murrill, teve sua nomenclatura revisada a partir de 2002, mas ainda não há um consenso entre os especialistas a este respeito, de modo que é referido na literatura mundial como Agaricus blazei, Agaricus brasiliensis e Agaricus subrufescens. Algumas publicações brasileiras sobre suas propriedades medicinais referem-se ainda ao cogumelo como pertencente à espécie Agaricus sylvaticus.

Nem por isso a dupla se intimidou. Suas pesquisas constataram a existência de grandes produtores de cogumelos pré-cozidos em conserva no Brasil. “Mas a gente queria algo que chegasse direto da produção para a mesa do consumidor da região. Começamos a pesquisar materiais e vimos que havia espaço para a fungicultura crescer no Brasil como ramo de negócio”, comenta Guilherme

Decididos a investir, os sócios fizeram curso sobre a cultura no Sindicato Rural de Mogi das Cruzes e contrataram uma consultoria com o pessoal de lá, que foi até a fazenda orientá-los.

Desde o início, os sócios fizeram questão de que a atividade fosse focada na sustentabilidade. “Todos os materiais que utilizamos são biodegradáveis ou reutilizáveis”, afirma Guilherme. O cultivo ocorre em estruturas de alvenaria, dentro de galpões fechados, monitorados por equipamentos que ligam automaticamente quando os níveis de temperatura e umidade saem dos ideais. “Não é uma atividade simples. Tem que seguir alguns parâmetros”, comenta.

A produção começou pelo cogumelo shimeji, a variedade mais fácil de ser cultivada. Em menos de seis meses, porém, já eram 15, entre elas shitake, castanha, eringui, houbitake, reishii, mágico, cauda de perú, juba-de-leão, além de diferentes tipos de shimeji (premium, branco, preto, cinza, amarelo, salmão ou rosa, europeu e bunapi).

Com o tempo, os sócios começaram a diversificar também na oferta do produto, com o objetivo de expandir a clientela. Hoje, além do cogumelo in natura, vendido só na região por conta do curto prazo de validade (dez dias, o que obriga à colheita, no máximo, um dia antes da entrega), a Cog também comercializa kits de cultivo e cogumelos desidratados, que, por durarem mais, podem ser entregues para todo o Brasil via Correios. Um destaque dessa linha é o cogumelo juba-de-leão, de propriedades medicinais, que é desidratado e transformado em suplemento alimentar. “Fomos os primeiros a produzir a variedade na região”, pontua Guilherme.

Somadas todas as espécies cultivadas na Fazenda Santa Eulália, a produção atual da Cog & Co fica entre 350 e 400 quilos de cogumelos ao mês, dos quais 150 kg ficam entre Ribeirão Preto e Cravinhos, principalmente em restaurantes de culinária asiática.

Ainda é pouco para Guilherme e Carlos, que trabalham com a meta de atingir, até o final de 2022, o máximo de sua capacidade de produção: 1 tonelada/mês.

Os sócios não falam em cifras, mas garantem que o valor agregado da cultura tem compensado, o que pode atrair ainda muitos investimentos para o setor. “Produtor de cogumelo vai ter muito no Brasil daqui a pouco”, prevê Guilherme Colucci.

TERRA ROXA
 Prestes a se formar em Ciências Biológicas e sócio do biólogo Gustavo Alcântara na Cogumelos Terra Roxa, Guilherme Mauro Aranha concorda que a cadeia da fungicultura está se desenvolvendo de modo acelerado no Brasil, com muita gente querendo consumir, um pouco menos querendo produzir e menos ainda trabalhando com insumos para a produção. Por isso ele chama a atenção para um gargalo que, ao mesmo tempo, representa uma oportunidade de investimento no setor. “Quanto mais produtor tiver, mais insumo será necessário. Mas essa parte da cadeia ainda é muito restrita no Brasil, ou seja, não existe um mercado de insumos voltado especificamente para a cadeia fungícola. A gente ainda usa gambiarras para adaptar”, alerta, lançando mão de um ditado do mundo empresarial para reforçar o apelo: “quando está tendo uma corrida do ouro, é interessante você vender a pá”.

Aranha também sente falta de informações confiáveis sobre o setor. “Precisamos de mais ciência na fungicultura brasileira. O que acontece, muitas vezes, é de produtores opera rem no ‘achismo’ e não baseados em dados. E é muito importante coletar e ter informações, porque cada custo que se deixa de prever pode ser um grande rombo no orçamento”, frisa.

Com sedes em Tanabi e Cravinhos, a Cogumelos Terra Roxa começou em 2017, como um projeto de um grupo de amigos muito conectados a conceitos de educação ambiental e alimentação saudável. Foram atraídos pelo fato de os cogumelos serem recicladores naturais da natureza.

O projeto começou produzindo menos de 50 kg/mês. Hoje tocado só por Gustavo e Guilherme, opera na capacidade máxima, com produção de 120 kg/mês, das espécies shimeji branco (pleurotus ostreatus) e shimeji salmão (pleurotus djamor), em estufas que totalizam 24 m². “São fungos que crescem muito rápido. Têm uma produtividade alta porque o ciclo de vida deles é curto. E a verticalização do cultivo possibilita produzir aproximadamente 6 kg por m²”, explica o produtor.

Cerca de 90% dessa produção é fornecida in natura para Ribeirão Preto - uma pequena parte chega a Jardinópolis e Cravinhos. Os 10% restantes são refogados com outros ingredientes e prensados na forma de hambúrgueres, também vendidos pela região.

Os clientes são desde restaurantes e mercados a consumidores finais, que também podem comprar direto no site da Cogumelos Terra Roxa na internet. “Quando se produz em escala pequena como nós não pode se dar ao luxo de vender no atacado. Isso envolve posicionamento de mercado e relacionamento com o cliente. Funciona quando agregamos valor ao produto, porque não precisamos ficar brigando no preço com os grandes, que vendem o cogumelo processado produzido a quilômetros de distância”, explica Guilherme Aranha.

Segundo ele, o negócio nunca teve dívidas. Desde o início os sócios conseguiram pagar contas, ter caixa e um pouco de retorno do investimento inicial, mas, no tocante às horas de trabalho, a conta ainda não fecha. “Nosso pro labore ainda não paga o tempo que dedicamos ao negócio, mas isso era previsto. Fizemos um planejamento complexo. Aliás, tem que ter um plano de negócios muito bem feitinho antes de começar, porque demora um pouco pra chegar ao lucro. E esse plano tem que prever o ciclo de vida dos cogumelos, que se dá em fluxos. Ou seja, não é como um negócio tradicional”, alerta o produtor.

Mas os sócios não têm do que reclamar. “Com a produção atual a gente já consegue ter um lucro de mais de 50% sobre o custo de produção, que fica entre R$ 12 e R$ 14 por quilo”, conclui Guilherme Aranha.

map-markercross