Solo, clima e pesquisas científicas colocam o estado de São Paulo no topo da lista dos produtores de borracha do país; a variedade da planta mais usada aqui, entretanto, foi desenvolvida na Malásia
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Seringueiras são árvores nativas das Américas, mais especificamente do bioma amazônico. Há registros de que o povo nativo deste continente já usava o látex antes mesmo de o líquido obtido a partir da sangria no tronco das árvores ter esse nome. No começo do século XX, a borracha era chamada de ouro branco no Brasil, tamanha a riqueza que proporcionou aos produtores do norte do país. Até meados do século passado, o Brasil era o maior produtor de borracha do mundo e a produção concentrava-se na região da floresta Amazônica
Atualmente, o estado de São Paulo lidera a produção de borracha brasileira, respondendo por 68,2% do volume produzido (227.163 toneladas), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A variedade da planta mais utilizada nos seringais daqui a RRIM 600, foi desenvolvida no Sudeste Asiático. RRIM é a sigla para Rubber Research Institute of Malaysia. A planta, entretanto, não é nativa daquele lugar que hoje lidera a produção mundial de borracha. Sementes de seringueiras estiveram no centro do mais famoso, e talvez o primeiro, caso de biopirataria do mundo.
Depois de fazer a planta germinar em estufas na Inglaterra, as mudas foram introduzidas nas colônias inglesas que tinham clima mais apropriado. Isto é, a planta que é nativa do Brasil gera mais riquezas no Sudeste Asiático do que aqui. Mais: nos seringais brasileiros, a variação genética considerada de elite é aquela produzida na Malásia.
Biopirataria
O plantio da seringueira deixou de ser exclusivo no Brasil em 1876, quando o botânico inglês Henry Alexander Wickham (1846 – 1928) contrabandeou 70 mil sementes de seringueira do Pará para a Inglaterra. Foi um dos primeiros casos de biopirataria (exploração ou apropriação ilegal de recursos da fauna e da flora) de que se tem notícia no mundo.
As sementes coletadas por Wickham foram enviadas para a Inglaterra e germinaram no Jardim Botânico Real de Kew, em Londres. As poucas mudas obtidas após a germinação foram levadas para a Malásia e deram origem a todas as plantações de seringueira no Sudeste Asiático.
“A Malásia está usando ainda um germoplasma de seringueira que foi levado do Brasil no século XIX”, afirma Anete Pereira de Souza, pesquisadora do Centro de Biologia Molecular e Engenharia Genética (CBMEG) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora de um estudo que descreveu a diversidade genética da seringueira a partir da análise de mais de mil exemplares da planta disponíveis em bancos públicos de germoplasma na América do Sul, em publicação divulgada na Agência Fapesp (https://agencia.fapesp.br/estudo-possibilita-conhecer-epreservar-diversidade-genetica-da-seringueira/23045/)
A expansão da produção paulista é fruto da combinação de investimento de produtores e do avanço das pesquisas coordenadas pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC), além das características do solo e do clima. As primeiras mudam foram introduzidas em 1917, pelo fazendeiro José Procópio de Araújo Ferraz, no município de Gavião Peixoto (SP), na região de São Carlos (SP). O bom desenvolvimento dessas árvores em solo paulista e a ausência do fungo Microcyclus ulei, que dizimou o projeto de Henry Ford nos anos 1930, permitiram o plantio extensivo (plantation).
Em 1940, o IAC iniciou a plantação de seringueira nas estações experimentais de Campinas, Ribeirão Preto e Pindorama para certificar o bom desempenho da planta no estado. “A partir da avaliação positiva desses plantios, foi criado o programa de melhoramento genético e pesquisas agronômicas para estimular a produção no território paulista”, diz Roberto Botelho Ferraz Branco, pesquisador científico do Instituto Agronômico (IAC), da Unidade de Ribeirão Preto.
De acordo com Erivaldo José Scaloppi Junior, pesquisador científico do Centro de Seringueira e Sistemas Agroflorestais (CSSAF) do IAC, ações estratégicas realizadas na década de 1950, como a introdução de germoplasma nacional e internacional e a introdução de clones elites do Sudeste Asiático, como o RRIM 600 (Rubber Research Institute of Malaysia), combinadas com o trabalho de produtores pioneiros e trabalho de extensão da Secretaria de Agricultura de São Paulo, possibilitaram que São Paulo se tornasse o principal produtor de borracha natural do Brasil.
“Além de possuir solos com fertilidade e constituição físicas adequadas ao cultivo da seringueira. A seca nos meses de julho e agosto, período em que acontece a queda folhas e reenfolhamento, evita o ataque do fungo [Microcyclus ulei] às folhas recém emitidas pela planta, que causa danos irreversíveis e inviabiliza a produção da cultura”, explica Roberto.
305 municípios paulistas cultivam seringueiras em 132.659,12 hectares, sendo que 10% deles somam 50% da área estadual. Segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA), 65% da produção concentra-se nas regiões norte e noroeste do estado, sendo o município de São José do Rio Preto o maior produtor, com 29,7% da oferta, seguido por Votuporanga (12,2%), General Salgado (11,8%), Barretos (11,0%), Fernandópolis (6,3%), Catanduva (5,3%) e Jales (5,0%).
Com o objetivo de produzir látex para a fabricação dos pneus usados nos carros fabricados por sua indústria automobilística, o americano Henry Ford (1863-1947), fundador da Ford Motor Company, deu início, em 1927, a plantação de seringueiras às margens do rio Tapajós, em uma área no Pará, que recebeu o nome de Fordlândia, distrito que pertence ao município de Aveiro.
A Fordlândia foi uma grande área de terras adquiridas pelo empresário, por meio de sua empresa Companhia Ford Industrial do Brasil, por concessão do estado do Pará.
A iniciativa de Henry Ford de produzir borracha na Amazônia brasileira foi surpreendida pela doença do mal das folhas da seringueira, causada pelo fungo Microcyclus ulei, que arruinou as plantações.
Segundo Roberto Botelho Ferraz Branco, pesquisador científico do Instituto Agronômico (IAC), Ford tinha a expectativa de explorar a seringueira em sistema de ‘plantation’, onde se derrubava a mata nativa e se instalava o cultivo da seringueira. “Entretanto, esse sistema altera o equilíbrio ecológico da área, fato que propicia o desenvolvimento e ataque do fungo e inviabiliza a produção, o que não acontece no método de exploração extrativista, onde o seringueiro retira o látex da planta mantendo a mata viva”, explica.
Centro multidisciplinar de seringueira
A importância da heveicultura para o agronegócio e a possibilidade de avanços nas pesquisas científicas impulsionou a criação, em 2014, do Centro de Seringueira e Sistemas Agroflorestais (CSSAF) do Instituto Agronômico (IAC), em Votuporanga, único centro multidisciplinar de seringueira do Brasil.
A unidade de Votuporanga já realizava pesquisas com seringueira desde 1980, como uma das Estações Experimentais do IAC. Em 2002, foi elevada à categoria de Polo Regional do Noroeste Paulista, pertencente à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA). A unidade possui 30 hectares com seringueira.
O Centro de Seringueira e Sistemas Agroflorestais desenvolve pesquisas de melhoramento genético e estudos fitotécnicos para melhoria de rendimento da planta. Também possui o maior banco de germoplasma de seringueira do Brasil, com variedades nacionais de origem amazônica, além de outras desenvolvidas por instituições nacionais e internacionais.
Erivaldo José Scaloppi Junior, pesquisador científico do CSSAF, explica que a obtenção de novos clones é um processo longo, que leva cerca de 30 anos até a recomendação final ao setor produtivo. “O sucesso na obtenção de novos clones se deve a variabilidade genética para que as recombinações possam resultar em clones com expressivo ganho de produção, principalmente vigor, resistência às doenças e demais características secundárias. Para isso, recorre-se ao banco de germoplasma no desenvolvimento do processo de melhoramento genético”, explica.
O IAC já desenvolveu 31 novas variedades de seringueiras, que são disponibilizadas ao setor produtivo por meio do fornecimento de material de propagação com origem genética controlada. Dentre eles, a Série IAC 500, que apresenta produtividade de borracha acima de 70% em relação aos tradicionais clones. “A Série IAC 500 possui clones vigorosos com rápido crescimento, o que permite a antecipação de sangria em até dois anos, em relação à média de sete anos dos seringais. Os clones possuem dupla aptidão, ou seja, potencial para a produção de borracha e madeira”, salienta Erivaldo.
Além de obter novos clones, o programa de melhoramento genético de seringueira do IAC avalia clones oriundos de introdução, provenientes de instituições nacionais e internacionais, que necessitam de validação prévia da produção, adaptação e avaliação de caracteres secundários, para posterior recomendação aos produtores.
Existem ainda trabalhos com seringueira sendo realizados em apoio ao Centro de Seringueira nas estações experimentais de Ribeirão Preto, Pindorama e Colina, onde são avaliados os rendimentos de novos clones desenvolvidos no programa de melhoramento genético em Votuporanga. “A maior importância das pesquisas desenvolvidas pelo IAC está na geração de novos clones de seringueiras, o que garante aumento em produtividade e resistência a doenças com clones modernos disponibilizados ao heveicultor paulista”, explica Roberto, pesquisador científico da Unidade de Ribeirão Preto.
Cultivo
Existem diferenças entre o modo de produção no norte e no sudeste do país. Roberto explica que na Amazônia a produção da seringueira extrativista (seringais nativos) é baseada nas plantas nativas da floresta. “Essas plantas estão naturalmente dispersas de forma aleatória e dessa forma o caminho percorrido pelo seringueiro para realizar a sangria e extração do látex é dentro da selva amazônica. Nesse sistema o rendimento de produção é baixo devido ao número reduzido de plantas exploradas por jornada de trabalho”, argumenta.
Em São Paulo, as seringueiras são cultivas no sistema de ‘plantation’ (seringais de cultivo) no qual as árvores ficam disponíveis para sangria em espaçamento de 8m entre linha e 3m entre plantas, o que facilita a movimentação do serigueiro. “Essa maneira de exploração eleva bastante o rendimento e a produtividade de látex em comparação com o sistema extrativista da Amazônia”, diz Roberto.
Da família das Euphorbiaceae, a seringueira pertence ao gênero Hevea. Das onze espécies, a Hevea brasiliensis é a mais importante do gênero e do ponto de vista comercial. É uma planta perene, com longa vida útil, adaptável a grande parte do território nacional, sendo uma espécie arbórea de rápido crescimento, podendo atingir cerca de 30 metros de altura.
A produção de sementes inicia quatro anos após o plantio e a produção de látex sete anos depois, podendo se prolongar por 30 a 35 anos, com aproveitamento de madeira para processamento mecânico e energia (galhos) ao final deste período. A sangria para a produção da borracha acontece quando 50% das árvores atingem 45 cm de circunferência de tronco a 1,5 m do solo.
Segundo Roberto, dentre as vantagens do cultivo da planta está a estabilidade de produção, em torno de dois mil quilos de borracha ao ano, e a rentabilidade. “É uma cultura com rentabilidade ao longo de todo o ano. A retirada do látex é realizada durante 10 meses, sendo interrompida apenas nos meses de julho e agosto, devido à seca”.
O plantio pode ser feito pelo pequeno e grande produtor e é economicamente vantajoso a partir de 5 hectares. A seringueira pode ser plantada em sistema agroflorestal, em que espécies arbóreas (frutíferas e/ou madeireiras) são combinadas com cultivos agrícolas, como o café, cacau e banana, de forma simultânea ou em sequência temporal, promovendo benefícios econômicos e ecológicos.
O pesquisador aponta como desvantagens da cultura o tempo para o início da produção do látex. “Nesse período o agricultor precisa dispor de investimento para o plantio sem retorno financeiro”, argumenta. O preço da borracha natural praticado atualmente no mercado também é considerado uma desvantagem. “O quilo é cotado a R$ 2,50. Uma boa remuneração seria a partir de R$ 3,00”, destaca.
Marcelo Jamal Pereira é produtor de seringueira em Barretos há 30 anos. As primeiras árvores foram plantadas por seu pai, na década de 1980. Atualmente são 23 mil árvores, em 50 hectares. “A seringueira é uma cultura perene que tem altos e baixos. Já tivemos crises, mas muitas épocas boas”. Segundo ele, as plantações na região diminuíram ao longo dos anos devido à queda no preço do látex.
Para Marcelo, a grande vantagem da cultura é geração de emprego e o impacto social. “A extração do látex é uma atividade exclusivamente manual, gerando muitas oportunidades de trabalho. A cada seis hectares, em média, é preciso de um seringueiro”, argumenta.
Marcelo vende sua produção para usinas de beneficiamento, que transforma os coágulos de látex em GEB (Granulado Escuro Brasileiro), composto 100% de borracha natural. O material é utilizado na indústria pneumática.
Para o futuro, o produtor tem planos de transformar a área de plantio da seringueira em um local de visitação, educação ambiental e cursos de formação de profissionais para sangria.
Produção x importação
A seringueira é a maior fonte de borracha natural do mundo. Cerca de 50 mil produtos são derivados da matéria-prima, principalmente do setor automotivo, médico e de artefatos. Atualmente, 70% da produção total mundial de borracha natural é destinada à fabricação de pneus. Os outros 30% da produção são utilizados pela indústria de artefatos leves.
A borracha natural é o resultado da coagulação do látex da seringueira. “O látex coagulado é destinado à produção de materiais que necessitam de borracha natural em sua composição como solas de sapato, mangueiras de alta pressão, peças de plataforma petrolífera, e principalmente pneus de automóveis (30% da constituição de borracha natural), de caminhões (50% de borracha natural) e aviões (100% de borracha natural)”, diz Roberto, pesquisador científico do IAC.
De acordo com ele, o látex (sem coagular) é destinado à indústria para produção de materiais mais ‘refinados’ como luvas cirúrgicas, preservativos, bicos de mamadeira, entre outros diversos produtos.
O Brasil é o maior produtor de borracha natural da América Latina. Segundo dados do IBGE, na safra 2018/2019, a área destinada para colheita foi de 153.179 hectares e a produção foi de 333.117 toneladas de borracha natural. Os seringais geram cercam de 30,4 mil empregos formais no país, segundo dados da MBAgro, consultoria em agronomia.
O país já foi o maior produtor mundial de borracha natural no final do século XIX, início do século XX. Entre 1870 e 1920, a seringueira foi responsável por 25% das exportações do Brasil. Foi nesse período que o Brasil viveu o Ciclo da Borracha, importante momento histórico impulsionado pela extração de látex e comercialização da borracha e que proporcionou desenvolvimento econômico para a região amazônica.
A partir de 1910, ingleses e holandeses iniciaram a plantação de seringais em larga escala e a preços baixos nos países asiáticos, conquistando rapidamente o mercado mundial. O ciclo brasileiro da borracha entrou em declínio e na década de 1950, o país perdeu posto de maior produtor de borracha e iniciou a importação da matéria-prima. Hoje, os maiores produtores são a Tailândia, Indonésia, Malásia e Vietnã, que concentram 71% da produção mundial.
Atualmente o Brasil representa 1,5% da produção mundial da Hevea brasiliensis, e produz apenas 46% do que consome, sendo necessário a importação de 54% do produto para atender a demanda nacional, de acordo com a Associação Brasileira de Produtores e Beneficiadores de Borracha Natural (ABRABOR).
Projeto integra Programa Ribeirão -3°C, que visa a tornar a área urbana 30% verde até 2030, com vistas à queda média de 3 graus Celsius na temperatura da cidade
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2022 foi um ano de revoluções no Centro de Educação Infantil (CEI) Vítor Youssef Darkoubi, localizada no bairro Planalto Verde, zona Norte de Ribeirão Preto. A primeira delas foi física, com a implantação de um “bosque” intramuros, com direito a apiário, galinheiro, horta, árvores frutíferas, campinho de futebol gramado e um playground com brinquedos construídos só de materiais recicláveis.
Essa revolução foi possível graças ao projeto Verdejamento, em que a Prefeitura de Ribeirão Preto destinou R$ 5,4 milhões para 118 escolas públicas municipais – R$ 50 mil para cada uma – para a execução de projetos de ampliação da cobertura vegetal em seus espaços físicos. O objetivo principal do projeto, que é uma ramificação do Programa Ribeirão –3°C [leia mais a respeito em ‘Agenda 2030’], é propiciar abrigo e alimentação para a fauna silvestre, tornando o ambiente escolar mais acolhedor e educando crianças e jovens para a preservação da natureza.
A segunda revolução foi consequência da primeira, responsável por levar as 130 crianças na faixa etária entre os 6 meses e os 3 anos e 11 meses de idade atendidas na escola a passarem mais tempo ao ar livre do que em salas de aula. De acordo com a diretora do CEI, Sônia Eurípedes da Costa Castro, essa mudança fez bem tanto aos alunos quanto aos professores. “Porque quando a criança está confinada em um espaço fechado, o educador precisa, de 20 em 20 minutos, criar situações lúdicas que a façam aprender, se movimentar e não ficar triste por se sentir confinada. A liberdade do espaço aberto, por si só, já faz isso. Então a gente consegue ficar 50 minutos ou até mais com as crianças explorando a natureza”, explica a diretora.
É que, segundo Sônia, no “bosque” da Vítor Darkoubi ocorrem piqueniques, leitura de livros, jogos de bola e, enquanto uma criança desce pelo escorregador, a outra se diverte no balanço; uma observa a dinâmica do galinheiro, outra o trabalho da abelha no apiário. “Mesmo sem ter consciência, a criança pequena vai ‘criando’ na natureza, o que traz serenidade. O resultado é que elas gritam menos e ficam menos ansiosas e agressivas”, observa.
PERTENCIMENTO
Também na Escola Municipal de Educação Fundamental Dr. Júlio César Voltarelli, localizada no Parque dos Servidores, zona Leste de Ribeirão, a diretora Adriana Lúcia Capranica Vicentini se surpreende com o efeito do Verdejamento sobre os cerca de 700 alunos na faixa etária dos 4 aos 10 anos de idade – é a única da rede a atender tanto o segmento infantil (4 e 5 anos) quanto o fundamental 1 (de 6 a 10 anos, que frequentam do 1º ao 5º ano).
“As crianças estão alucinadas. O verde não só embeleza como traz um gostar de estar ali e desperta uma preocupação de cuidado com o lugar, uma sensação de pertencimento”, traduz Adriana.
O Verdejamento na escola incluiu a implantação de gramados, que acabou resolvendo um problema de fluxo de água nas calhas da escola (antes sempre entupiam com a terra varrida através delas pelas chuvas); plantio de um canteiro de lírios da paz e poda das palmeiras já existentes na entrada dos alunos; plantio de folhagens de ambos os lados da rampa de acesso ao auditório; substituição de uma calçada dos fundos da quadra de esportes por gramado e seis lofânteras (planta típica do Cerrado que dá em cachos amarelos); criação de uma horta e, com o objetivo de trabalhar a questão da sustentabilidade, está sendo instalado um sistema de irrigação em todos os gramados e jardins, para evitar desperdício de água. Segundo a diretora, a próxima intervenção será feita na calçada em frente à Emef, com plantio de árvores nativas.
Depoimentos como o dela e o da diretora Sônia soam como “música aos ouvidos” da engenheira sanitária e ambiental Mayra Mucha, integrante do Ribeirão –3°C, já que o sucesso do programa é medido pela observação de dois indicadores: quanto tempo pedagógico a mais a criança passa ao ar livre; e qual foi o índice de redução da violência escolar com a naturalização e qualificação dos pátios escolares. “Provam que o programa pauta, com expertise, um caminho sustentável para Ribeirão Preto”, diz Mayra.
Segundo ela, o programa nunca foi tão discutido, acolhido e posto em prática como agora, em Ribeirão, “muito em razão das ousadas metas estabelecidas pela Agenda 2030, mas também pela enorme crise ambiental e sanitária que os ribeirão-pretanos sofreram com a Covid-19”, declara.
AGENDA 2030
Criar e executar um plano replicável para espaços verdes nas escolas integra a solução 12 do Programa Ribeirão –3°C, criado por um grupo de especialistas em áreas verdes motivados pela Agenda 2030 – plano de ação global firmado por 193 países membros da ONU com o objetivo de erradicar a pobreza e promover vida digna para todos no mundo, por meio do cumprimento de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
O programa objetiva tornar a área urbana de Ribeirão Preto 30% verde até o ano de 2030, o que deverá contribuir para a queda média de 3 graus Celsius na temperatura da cidade, atendendo ao ODS 13: “Combate às Alterações Climáticas”.
Para atingir o objetivo, o Ribeirão –3°C propõe a união de organizações não governamentais (ONGs), empresas, comunidade acadêmica, poder público e sociedade civil para aplicação de várias soluções ambientais na cidade.
Representando o poder público municipal, a Prefeitura de Ribeirão Preto assumiu oficialmente, em 21 de setembro (Dia da Árvore) de 2021, o compromisso de verdejar as escolas. Em outubro do mesmo ano, já liberou R$ 2 milhões para 40 unidades iniciarem o projeto, e em janeiro de 2022 mais R$ 3,4 milhões para outras 68.
As verbas foram repassadas na forma de subvenção às Associações de Pais e Mestres (APMs), que participaram de todas as tomadas de decisões quanto à escolha e execução dos projetos que melhor atendessem aos objetivos do programa. À direção de cada escola coube a coordenação de todo o processo in loco, desde a encomenda de orçamentos e escolha do melhor projeto, até a execução das obras, sempre sob supervisão das Secretarias de Educação e de Meio Ambiente.
Segundo ela, a arquiteta responsável pelo projeto escolhido trabalhou junto com biólogos e um engenheiro agrônomo para levantar com quais plantas seria feito o Verdejamento da unidade. “Porque não é qualquer planta que se deve plantar. Só pode espécies que fazem parte do bioma de Mata Atlântica e Cerrado [vegetações nativas]. Então ela entregou um memorial com tudo sobre a escola e as intervenções propostas muito bem detalhadas”, conta a diretora. No CEI Vítor Youssef Darkoubi, a diretora Sônia Eurípedes da Costa conta que o projeto escolhido, entre três orçados, voltou várias vezes antes de ser aprovado pelas secretarias envolvidas, para garantir que as intervenções propostas se adequassem a uma proposta pedagógica (forma de ensinar). “Porque o fundamento do Verdejamento é pedagógico. Não basta simplesmente plantar árvores e grama. Tem que unir uma proposta de ensino àquela vivência na natureza. Então eu tive que pensar junto com a projetista como que nós íamos aliar as duas coisas”, conta.
COMUNIDADE ACADÊMICA
E para garantir que as propostas pedagógicas fossem aliadas do Verdejamento, o Programa Ribeirão -3°C firmou parceria com o Escritório de Sustentabilidade da FEA-RP (Faculdade de Economia e Administração da USP Ribeirão Preto) para capacitar professores da rede municipal a desenvolverem material didático sobre questões climáticas, de modo a promover entre os alunos conhecimento científico sobre o tema.
A capacitação ocorreu dentro do projeto “Letramento Climático para Educadores da Rede de Ensino Municipal”, contemplado com verba do Edital Climate-U, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
Verdejamento para a comunidade
Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Dercy Celia Seixas Ferrari, localizada no bairro Jardim Juliana, zona Leste de Ribeirão, as obras do Verdejamento estão apenas começando. Entre as intervenções já realizadas estão substituição e plantio de árvores, que mudaram o visual da fachada; instalação de uma composteira para transformar lixo orgânico em adubo; e reforço do trabalho de captação de água das chuvas, que já existia dentro do projeto de sustentabilidade desenvolvido na escola. A que mais tem conquistado a dedicação de alunos e professores é a horta, onde alunos e professores começaram recentemente a fabricar as próprias mudas (no início eram compradas de outros viveiros) e cuja produção de hortaliças está sendo destinada a famílias carentes da comunidade.
A maior obra de Verdejamento na escola, porém, ainda vai ser iniciada e seus benefícios vão se estender para além dos alunos de 6 a 14 anos que frequentam as 1ª à 9ª séries no estabelecimento. É que a Prefeitura autorizou a incorporação à escola de um terreno ocioso do município localizado no mesmo quarteirão. Usado até então como lixão improvisado por moradores das vizinhanças, agora ele será transformado em campo de futebol e pista de atletismo a serem usados pelos alunos e também por toda a comunidade do entorno.
De acordo com a diretora da Emef, Eliana Silva de Oliveira, já é uma tradição as dependências da escola – principalmente a quadra de esportes – serem usadas pela comunidade fora dos horários de aulas. Durante a semana, por exemplo, a partir das 18h30, a quadra é usada para aulas de Muai Thai. Nas manhãs dos sábados, é destinada às atividades de uma Escolinha de Futebol para crianças, e nas tardes dos sábados e domingos, à prática de esportes por adultos dos bairros vizinhos. Em troca, quando o quarteirão da escola está muito sujo, Eliana conta com a ajuda dos vizinhos na limpeza.
Além de suprir uma deficiência de aparelhamento de lazer numa região assolada por problemas urbanos complexos, a abertura para a comunidade faz da escola uma “ilha de tranquilidade”, nas palavras da diretora. “Não existe furto e nem depredação na escola. O tráfico está ao redor, mas não entra aqui dentro. Você não destrói o que considera seu”, conclui Eliana.
LINK da ONU BRASIL: https://brasil.un.org/pt-br/91863-agenda-2030-para-o-desenvolvimento-sustentavel
Há quatro anos, pesquisadores mapeiam edificações no Quadrilátero Central e reúnem documentos que são inseridos em um Sistema de Informação Geográfica (SIG)
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No início do século XX, a família do engenheiro José de Oliveira Reis tinha um comércio na Rua General Osório, no número 147, no centro de Ribeirão Preto. Oliveira Reis foi um dos mais importantes urbanistas do século passado, autor da primeira proposta de Plano Diretor de Ribeirão Preto, encomendada pelo prefeito e apresentada em 1945. É provável que tenha passado a infância ali. Em 1910, funcionava naquele endereço o Pequeno Negócio Pétit Marche, conforme a placa da foto que Ernesto Kuhn fez naquele ano e que foi preservada pelo Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto (APHRP). Hoje, no mesmo endereço, há uma loja popular de roupas.
A arquiteta e urbanista Ana Teresa Cirigliano Vilela está à frente de um projeto de georreferenciamento do patrimônio histórico e arquitetônico do centro de Ribeirão Preto que permite admitir como hipótese que o local onde funcionava o Pétit Marche seja o mesmo da loja de roupas de hoje. O endereço é atribuído à família de Oliveira Reis na tese de doutorado do arquiteto e urbanista Rodrigo Santos de Faria, que trata da trajetória do engenheiro. Ana Teresa localizou a imagem, atribuindo-a a este endereço, na extensa documentação que vem reunindo há quatro anos e faz parte do projeto que hoje desenvolve no âmbito de sua tese de doutorado no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP).
Desde 2016, cerca de 50 pessoas se envolveram no projeto, entre os quais, os arquitetos e urbanistas Marcelo Carlucci, Gustavo Zeoti e estudantes de graduação. O objetivo é reunir documentos, imagens e informações sobre edificações do Quadrilátero Central, delimitado pelas avenidas Jerônimo Gonçalves, Independência e Nove de Julho.
A história que Ana Teresa propõe-se a contar a partir da pesquisa e disponibilização desses documentos vai além das importantes construções monumentais, como o Theatro Pedro II e a Biblioteca Sinhá Junqueira. O levantamento, segundo ela, permite expor a história urbana a partir da área onde Ribeirão Preto se formou e para além dos grandes marcos arquitetônicos.
Entre 2010 e 2012, a Rede de Identidades Culturais, grupo ligado à Secretaria da Cultura e formado por uma equipe multidisciplinar, realizou o inventário de 698 edificações localizadas no Centro, tomando como base a metodologia utilizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (IPHAN). Este levantamento foi o ponto de partida do trabalho de Ana Teresa.
“Partimos de uma proposta pedagógica que buscava sensibilizar os alunos a olharem para a paisagem do Centro, nela identificando edificações históricas, grandiosas ou modestas, públicas ou privadas, tombadas ou não”, explica Ana Teresa.
Na primeira fase, desenvolvida entre 2016 e 2018, os alunos foram divididos em 10 equipes encarregadas de fotografar todos os lotes dos 187 quarteirões que integram o Quadrilátero Central. Depois, docentes e alunos selecionaram os imóveis de interesse histórico tomando como base a existência de elementos como platibandas, caixilharia de madeira, alpendres, cachorros, jardins, ornamentos de fachada etc. que marcam a produção arquitetônica da primeira metade do século XX.
Também foram levados em consideração os diferentes usos e as mudanças de comportamento e gosto da sociedade ao longo do tempo. A seleção não foi feita com base em critérios estilísticos. “Nas construções modestas nem sempre esses estilos são perfeitamente reconhecíveis e, principalmente, porque muitos imóveis passaram por reformas, adequando-se às novas necessidades de seus usuários”, explica Ana Teresa.
A partir da análise e seleção dessas fotografias, o grupo refinou os levantamentos e chegou a um número de aproximadamente 300 edificações.
Ana Teresa conta que ao identificar algumas lacunas no trabalho documentos disponíveis no acervo do APHRP foram incorporados, como mapas, fotos e projetos de arquitetura. O grupo considerou que a documentação poderia ser vinculada a esses levantamentos.
O Sistema de Informação Geográfica (SIG) passou a ser utilizado como plataforma de inserção e georreferenciamento desses dados. O grupo utilizou um software livre e gratuito para inserção das informações, com o endereço, grau de proteção, processo de tombamento – quando existente –, autoria do projeto, ano de construção etc.
Nessa nova etapa, iniciada em 2019, como projeto de extensão, houve a colaboração das estudantes de graduação Leticia Fiacadori, Lívia Amorim, Talita Elioenara, Tainah Melchior e Vanessa Laredo.
Às informações iniciais sobre o imóvel são acrescidas fotografias e projetos de arquitetura. Esse talvez seja o maior desafio dos pesquisadores. Normalmente projetos, plantas, alvarás de construção e escrituras são arquivados na prefeitura ou em cartórios. Entretanto, as regras de hoje não existiam em boa parte dos anos do século XX. Muitos imóveis não têm plantas e projetos cadastrados, por exemplo. Até 1902, ano em que um novo Código de Posturas substituiu o anterior, de 1889, sequer esse registro era exigido pelo poder público.
De 1902 a 1913, as construções eram registradas na Câmara Municipal, no Livro de Plantas Aprovadas. Esta é a fonte de informação daquele período e dispõe, na maioria das vezes, dos nomes dos proprietários, o endereço da construção e sua natureza (residencial, comercial etc.). Em alguns registros, não consta o nome do construtor ou arquiteto responsável. Por outro lado, eles observaram a atuação expressiva de alguns profissionais, como Carlos Barbieri e Vicente Lo Giudice.
O APHRP conta com um rico acervo relativo aos processos dos imóveis a partir de 1910, nos quais é possível ter acesso aos projetos de construção e reforma. Essa coleção se estende até os processos com entrada até o 1976. Nessa coleção de projetos, os pesquisadores identificaram engenheiros, arquitetos e construtores que atuaram na cidade, além das transformações nos padrões compositivos, ornamentos, gabaritos e materiais que marcaram a produção arquitetônica na cidade no período.
“Os tipos de informações gráficas também variam de acordo com a natureza do projeto. Há desenhos parciais que se propunham a aprovar apenas a reconstrução da fachada para se adequar às imposições dos Códigos de Posturas. Outros continham plantas, elevações e cortes para a construção de novos edifícios”, explica Ana Teresa.
O Código de Posturas de 1902 impactou também no estilo das construções, pois passou a exigir a adoção de platibandas, utilizadas como ornamento e que em algumas construções exibem as iniciais de seus proprietários e a data de construção.
Todos os projetos destinados a endereços no Centro também estão digitalizados. A digitalização, além de facilitar a consulta a pesquisadores evita o manuseio da documentação, que é frágil.
Os dados disponíveis sobre as edificações são inseridos no sistema, assim como documentos e imagens digitalizadas. Algumas anotações revelam curiosidades, como as dos documentos do Theatro Pedro II: em certo momento, os construtores recusaram-se a pagar os honorários de Hipólito Pujol Júnior, autor do projeto, por considerarem que a construção não era suficientemente nobre.
Na vizinhança do Theatro, na Rua General Osório, existia o Banco de Comércio e Indústria, cujo projeto foi de Ramos de Azevedo. No local há hoje uma loja de departamentos e não existem indicações externas de que o edifício tenha sido preservado.
“Embora haja relatos de que Ramos de Azevedo tenha sido autor de outras obras na cidade, esse foi o único projeto encontrado com a sua assinatura. Na coleção de projetos de Ramos de Azevedo arquivada na biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo há também o projeto do Banco do Brasil de Ribeirão Preto”, informa Ana Teresa.
No âmbito de sua tese de doutorado, a arquiteta estendeu os georreferenciamentos das edificações aos mapas e fotografias históricas. Dentre os mapas cadastrais disponíveis no APHRP, foram georreferenciados e vetorizados os de 1884, 1910 e 1918.
Nomes
“Não são apenas as edificações grandiosas e isoladas que tem importância para a paisagem histórica. As edificações mais modestas também têm sua importância, sobretudo em relação ao conjunto urbano diretamente relacionado à fundação e desenvolvimento da cidade. Para conhecer essa história, é preciso ir lote a lote, investigando as dinâmicas que são próprias da arquitetura e da cidade”, explica Ana Tereza.
A construção do início do século XX em Ribeirão Preto é marcada pela influência dos imigrantes italianos. Não eram necessariamente engenheiros ou arquitetos – profissão regulamentada em 1966. Eram “práticos licenciados”.
O primeiro presidente da AEAARP, Guilherme de Felippe, foi um desses profissionais licenciados. A Igreja Cristã Presbiteriana, na Rua Barão do Amazonas, erguida pela Companhia Predial de Ribeirão Preto, foi identificada como de sua autoria. Até o momento da conclusão desta reportagem, os pesquisadores não tinham todos os documentos dessa obra, datada de 1948, o mesmo ano da fundação da AEAARP. A construção segue preservada.
Na Rua Florêncio de Abreu, no primeiro quarteirão depois da Avenida Independência, há uma casa cujo construtor foi o engenheiro Hélio Foz Jordão, associado da AEAARP com intensa participação institucional. Esta construção é de 1952. Dentre as mais de 700 edificações identificadas na pesquisa, 39 estão tombadas, quatro delas abandonadas e duas em ruínas.
Do início de 2019 até agora, quatro edificações identificadas no levantamento foram demolidas. Uma delas estava sob regime de tombamento provisório e outra inserida no entorno de proteção de um imóvel tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat). A atualização da situação dos imóveis também é possibilitada pelo SIG.
Além de reunir e disponibilizar a documentação de construções de valor histórico, a pesquisa mostra o que existia em terrenos que com o passar dos anos e as mudanças da ocupação do centro passaram a abrigar outros imóveis. O exemplo mais conhecido é o Palacete Innechi, também de autoria de Pujol Júnior, em cuja área foi construída uma agência bancária. E, ao final, o trabalho tem também a função de preservar a memória.
EDITAL DE CONVOCAÇÃO PARA ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA – EXTRATO
O Presidente do Conselho Deliberativo da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto - AEAARP, conforme reza os artigos 37 e 55 do Estatuto da Associação aprovado e registrado em cartório em maio de 2018 convoca seus associados fundadores e titulares que reúnam as condições previstas em seus artigos 9º e 10º, inciso I e 52 parágrafo único, a participarem da ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA, com o fim de votarem as Contas do Exercício 2022, nos termos abaixo especificados:
Data da Assembleia: dia 13 de março de 2023 – Primeira Convocação às 18h30; e Segunda Convocação às 19h.
Quórum de Instalação: ¼(quarta) parte dos associados em 1ª convocação; e qualquer número de associados em 2ª convocação.
Pauta: Aprovação de Contas, Relatórios de Diretoria e os Pareceres do Conselho Deliberativo / Fiscal relativos ao Exercício 2022.
Local: Sede da AEAARP - Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto, sita na Rua João Penteado nº 2.237.
Obs. Na forma dos artigos supracitados estas contas estão à disposição dos associados na sede da AEAARP.
Ribeirão Preto, 2 de março de 2023
Engenheiro Civil Jose Aníbal Laguna
Presidente do Conselho Deliberativo da AEAARP
O Presidente do Conselho Deliberativo da Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto - AEAARP, conforme reza os artigos 37 e 55 do Estatuto da Associação aprovado e registrado em cartório em maio de 2018 convoca seus associados fundadores e titulares que reúnam as condições previstas nos artigos 9º e 10º, inciso I e 52 parágrafo único, a participarem da ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA, para fins de deliberarem acerca do processo eleitoral e de elegerem os membros da Diretoria Executiva e 1/3 do Conselho Deliberativo da AEAARP, nos termos abaixo especificados:
Data da Assembleia: dia 27 de março de 2023 – Primeira Convocação às 8h; e Segunda Convocação às 8h30.
Quórum de Instalação: ¼(quarta) parte dos associados em 1ª convocação; e qualquer número de associados em 2ª convocação.
Pauta: Homologação das chapas inscritas, designação da mesa receptora de votos e da junta de apuração das eleições, autorização para a realização das eleições para os cargos da Diretoria Executiva e 1/3 do Conselho Deliberativo da AEAARP.
Prazo Máximo de Registro de Chapas: Às 17h (dezessete horas) do dia 20 de março de 2023.
Data da Coleta de Votos dos Associados: dia 27 de março de 2023, das 8h às 20h.
Local: Sede da AEAARP - Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto, sita na Rua João Penteado nº 2.237.
Obs. O edital de convocação encontra-se também afixado na sede da AEAARP e na página da Web, sendo que os associados que desejarem cópia do mesmo deverão dirigir-se à entidade e requisitá-la.
Ribeirão Preto, 24 de fevereiro de 2023
Engenheiro Civil Jose Aníbal Laguna
Presidente do Conselho Deliberativo da AEAARP
Cultivo é feito predominantemente por pequenos produtores; cultura não necessita de grandes áreas e possui boa rentabilidade
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Doces ou picantes, as pimentas são ingredientes indispensáveis na culinária, sendo o condimento picante mais consumido no mundo. Estima-se que 2/3 da população mundial saboreie o alimento com frequência. “Poucas espécies vegetais têm uso tão universal quanto as pimentas, que passaram a ser consumidas por povos de todos os continentes e hoje dominam o mercado mundial de especiarias picantes”, comenta Cláudia Silva da Costa Ribeiro, pesquisadora da Embrapa Hortaliças na área de Melhoramento Genético de Plantas.
Nos últimos anos, o interesse pela pimenta tem aumentado pela sua versatilidade culinária e industrial e também pelos benefícios à saúde, já que o mesmo princípio que causa a ardência das pimentas – a capsaicina – é um poderoso antioxidante e anti-inflamatório. “Auxilia na digestão, no alívio das dores em geral, congestão nasal e coceiras, além de prevenir células cancerígenas, aumentar a libido e até auxiliar na perda de peso porque aumenta o metabolismo”, explica a engenheira agrônoma Sally Ferreira Blat, pesquisadora científica do Instituto Agronômico (IAC).
Cultivada em todas as regiões do Brasil, a pimenta é plantada tradicionalmente por pequenos produtores e em propriedades familiares. “A cultura se ajusta perfeitamente aos modelos de agricultura familiar e de integração pequeno agricultor-agroindústria, trazendo bom retorno financeiro, mesmo quando plantada em pequenas áreas”, destaca Cláudia, da Embrapa Hortaliças. De acordo com ela, a cultura permite a fixação de pequenos produtores rurais e suas famílias no campo, a contratação sazonal de mão-de-obra durante o período de colheita, o estabelecimento de novas indústrias processadoras e, consequentemente, a geração de novos empregos.
Marco Andrade é produtor de pimenta há 15 anos. Ele e a esposa Karina Luiz cultivam 50 mil pés de Dedo-de-moça em uma área de seis hectares em Santo Antônio da Alegria-SP. “Sou um apaixonado por pimenta”, diz.
No início, o plantio era apenas para atender demanda para a produção caseira de molhos consumidos pela família. Com o passar do tempo, a plantação cresceu e hoje a propriedade produz duas toneladas de pimenta por semana.
A produção contínua é uma das vantagens da cultura, aponta o produtor. Segundo ele, o segredo de colher pimenta o ano todo está na irrigação, que é feita por gotejamento utilizando a fertirrigação, técnica de adubação que usa a água para levar nutrientes ao solo. “Sendo irrigada, temos pimenta em todos os meses do ano, o que resulta em maior rentabilidade”, explica. Já a desvantagem da cultura é que plantio e a colheita são feitos manualmente, o que a torna um pouco mais cara.
O próximo passo é investir no cultivo de pimentas nucleares – com mais ardência e maior valor de mercado - e expandir a produção para mais 50 mil pés. A família também iniciou a fabricação e comercialização de molhos e geleias de pimenta. Atualmente a produção mensal é de 6 mil vidros.
Existem diversos tipos ou grupos varietais de pimentas. Eles pertencem às espécies botânicas Capsicum annuum, C. baccatum, C. chinense e C. frutescens. No Brasil, a maior diversidade de tipos tem origem na espécie C. chinense, considerada a mais brasileira das pimentas cultivadas.
Pimenta em vaso
O aumento da procura por novas variedades e sabores de pimenta fez com que o engenheiro agrônomo Pedro Fernandes Leça, produtor de mudas em Ribeirão Preto há 21 anos, apostasse na produção de mudas de pimenta em vaso. A maior parte da produção é para o consumo urbano e uma porcentagem é vendida para produtores da região.
Mensalmente são comercializados 2.500 vasos. A produção é variada, são cerca de 20 espécies, desde as mais procuradas, como a Dedo-de-moça, Malagueta, Cumari, De Cheiro e Bode, às chamadas exóticas, que incluem as nucleares, com nível de ardência elevado, e as importadas, como a Habanero e Jalapeño. “A minha oportunidade de trabalho é com vasos de pimenta para uso doméstico. Hoje as pessoas buscam por produtos frescos. O mercado existe e está crescendo cada vez mais”, explica Pedro. Segundo ele, a espécie mais consumida é a Dedo-de-moça e, para atender à demanda, ele produz cerca de 10 mil mudas por mês.
O cultivo das mudas é realizado em bandejas colocadas em estufas. A planta recebe irrigação e adubação própria, com o uso de substrato. A prevenção de pragas e doenças é feita com a pulverização de defensivos.
Com diversos tamanhos, formatos, cores, pungência, aroma e sabor, as principais pimentas cultivadas no país são: Dedo-de- -moça, Malagueta, Cumari verdadeira ou Pimenta-de-passarinho, Cambuci, Cumari-do-Pará ou Cumari amarela, Pimenta-de-cheiro, Bode, Murupi, Jalapeño e Habanero, entre outras. “Há muita confusão com os nomes, em função, principalmente, da semelhança de formato de fruto entre os tipos, ou ainda nomenclaturas regionais diferentes para um mesmo tipo ou grupo de pimenta”, ressalta Cláudia, da Embrapa Hortaliça.
A pimenteira é uma planta perene, de cultivo anual (12 meses) e que requer altas temperaturas para se desenvolver (entre de 25ºC a 35ºC). “As épocas de plantio dependem de cada região. Geralmente, só se elimina o plantio no período de inverno. No estado de São Paulo os meses mais comuns são dezembro e janeiro, mas a pimenta pode ser plantada praticamente o ano todo”, explica a engenheira agrônoma Sally, do IAC.
O período da colheita também varia com a cultivar, espécie e região. De modo geral, as colheitas têm início por volta dos 95 dias e prolongam-se por vários meses. “Os pontos de colheita dependem de cada cultivar, algumas verdes e outras maduras, vermelhas ou amarelas em geral”, informa Sally.
Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Sergipe, Bahia, Ceará e Rio Grande do Sul são os principais estados produtores. No estado de São Paulo, a pimenta é cultivada, principalmente, nos munícipios de Salto, Piedade, Indaiatuba e Mogi Mirim. “As mais comuns no estado são a Dedo-de-moça, Cumari e Biquinho, mas também encontramos produtores de pimenta Jalapeño e muitos produtores estão inovando no cultivo de pimentas mexicanas e peruanas”, explica Sally.
Segundo ela, na região de Ribeirão Preto há o cultivo das pimentas tradicionais, como a Malagueta, Cumari, Bode, Dedo-de-moça, mas também existe um mercado pontual de pimentas exóticas que são as de maior pungência (ardência) como a Bhut jolokia, Carolina Reaper, Trinidad Moruga Scorpion, entre outras.
Para Claudia, pesquisadora da Embrapa Hortaliça, o principal desafio da cultura é a dificuldade de encontrar no mercado cultivares de diferentes tipos de pimentas com alta uniformidade e com boas características agronômicas (como resistência a doenças) e industriais. “Variedades de pimentas mais uniformes, produtivas e resistentes às doenças resultariam em uma remuneração maior para o produtor”.
Dentre os fatores limitantes do cultivo no Brasil, a pesquisadora destaca as doenças causadas por bactérias, fungos, vírus e nematoides e a escassez de mão-de-obra para a colheita de pimentas em plantios maiores, assim como a expressiva fatia que essa atividade representa no custo total de produção.
Consumo
As pimentas, além de consumidas frescas, podem ser processadas e utilizadas em diversas linhas de produtos na indústria de alimentos. A produção atende a indústrias de molhos de pimentas de pequeno e médio portes, além de indústrias de conservas de pimentas, normalmente de pequeno porte ou artesanais.
Segundo dados da Embrapa Hortaliças, a crescente demanda do mercado, estimado em R$ 80 milhões ao ano, tem impulsionado o aumento da área cultivada e o estabelecimento de agroindústrias. “Embora o consumo de frutos frescos de pimentas tenha aumentado nos últimos anos, as pimentas são consumidas no Brasil principalmente na forma de molhos e conservas”, destaca Cláudia.
Os estados da região Sul são os que menos consumem pimentas in natura, havendo uma preferência pelas formas processadas, como molhos, conservas e pimentas desidratadas. Na região Sudeste, consome-se principalmente a pimenta doce do tipo americana, pimenta Cambuci, Malagueta e Cumari vermelha. Na região Nordeste, predominam as pimentas Malagueta e De Cheiro. Na região Norte, as pimentas mais apreciadas são a Murupi, Cumari do Pará e a De Cheiro; na região Centro-Oeste, tradicionalmente são cultivadas e consumidas as pimentas Bode, Malagueta, Cumari do Pará, Dedo-de-moça e a pimenta de Cheiro.
A pimenta também é matéria-prima para condimento e corante que realça o sabor e agrega cor em produtos alimentícios. “A páprica, por exemplo, é utilizada como corante natural em diversos produtos industrializados, como molhos, maioneses, sopas de preparo instantâneo, biscoitos, produtos à base de carnes (salsichas, linguiças, salames) e queijos”, diz Cláudia. Além desse mercado, novos nichos de produtos gourmets (geleias, chocolates etc.) e de produtos orgânicos (frescos ou processados) surgem para atender principalmente ao crescente número de consumidores jovens (25-35 anos), interessados por sabores exóticos e alimentos saudáveis.
“A visão de que a pimenta é um tempero popular está sendo mudada aos poucos, pois são muitas as opções de usos na culinária, associadas aos inúmeros tipos disponíveis no mercado. O resgate e uma nova leitura da culinária tradicional e regional brasileira por grandes chefs de cozinha estão ajudando a mudar este panorama e as pimentas Capsicum estão ganhando um lugar de destaque na gastronomia brasileira”, ressalta Cláudia.
Não existe o melhor ou o pior, os dois pavimentos têm vantagens e desvantagens e seu uso deve seguir as premissas de cada situação
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O paralelepípedo foi uma das primeiras formas de pavimentação das cidades. Utilizado para calçamentos e arruamentos desde a época do Império Romano, os blocos de rocha apoiados diretamente sobre o solo têm formato mais alongado do que os cubos, daí o nome da figura geométrica paralelepípedo.
Segundo o engenheiro civil Cláudio Santos, docente do curso de Engenharia Civil, da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), a vida útil de um pavimento de paralelepípedo, com correta manutenção, pode chegar a milhares de anos. “Podemos observar a durabilidade em obras históricas como a do Coliseu e Praça da Capela Sistina, em Roma”, destaca.
A arquiteta e urbanista Vera Lucia Blat Migliorini, doutora em engenharia e planejamento urbano, argumenta que o paralelepípedo tem papel importante na história. “Caracteriza o início da urbanização de muitas cidades brasileiras que contavam com a mineração do basalto em suas proximidades”.
A pavimentação de vias públicas é um dos principais elementos da oferta da estrutura urbana, na opinião do engenheiro civil Creso de Franco Peixoto, docente do Centro Universitário Moura Lacerda. “A colocação de paralelepípedos trouxe uma superfície, o pó passou a ser algo mais distante das pessoas”, diz.
Mas, o novo pavimento e a facilidade de limpeza não foram suficientes para evitar a busca por superfícies mais regulares. O aumento da velocidade dos veículos introduziu no Brasil a pavimentação asfáltica. “Os veículos passaram a frear e subir rampas com mais facilidade e a circular em velocidades maiores, bem diferente da maneira tranquila em que nossos avós e bisavós circulavam pelas calmas e pacatas cidades”, diz Creso. A pavimentação asfáltica, feita com fina camada de agregados (pedra britada) unida por um ligante derivado da fase densa do petróleo (betume), foi considerada pelos usuários a grande solução.
Asfalto x paralelepípedo
Segundo especialistas, não há pavimento melhor ou pior. “É preciso definir os parâmetros da escolha baseado em premissas de cada situação”, defende o engenheiro civil Anderson Manzoli, coordenador do curso de Engenharia Civil do Centro Universitário Estácio. De acordo com ele, os principais são o fluxo e tipo de veículo que irá circular na via e a qualidade do sistema de drenagem.
Anderson explica que se o tráfego for de veículos leves e não intenso, o paralelepípedo pode ser mais durável, exigindo menos manutenção. Se o tráfego for de veículos pesados, o paralelepípedo não suportaria as cargas e constantemente precisaria de reparos, tornando a escolha do pavimento asfáltico mais adequada. Em caso de chuva e trânsito intenso de veículos, o asfalto se torna mais seguro por proporcionar mais atrito entre o pneu e o piso, além de melhor rolamento. Também reduz o índice de acidentes, diminuindo custos indiretos.
O paralelepípedo é considerado mais ecológico por permitir a infiltração da água da chuva, possibilitando a recarga do lençol freático, a redução da vazão escoada na superfície do terreno, reduzindo o risco de enchentes, ressalta o engenheiro Cláudio Santos.
“Além disso, facilita a dispersão do calor absorvido ao longo do dia, não irradiando o calor por muito tempo depois do período de insolação, com mais conforto térmico local”. Outras vantagens observadas pelos especialistas são a durabilidade e a facilidade de acesso à rede subterrânea para a manutenção em sistemas de esgoto, água e telefonia.
Dentre as desvantagens dos blocos de rochas, estão a baixa aderência aos pneus e o processo de instalação. “Por ser um processo artesanal exige intensa aplicação de mão de obra e demanda bastante tempo para conclusão”, informa Cláudio.
Ao contrário do paralelepípedo, a instalação é uma das principais vantagens do asfalto. “Esse tipo de pavimento tem rápido processo de instalação, através de rolos compactadores e vibro acabadoras (equipamento que executa a aplicação do asfalto)”, explica Cláudio.
Ele destaca que algumas desvantagens são a impermeabilização do asfalto, que gera o aumento de fluxo de água na superfície e contribui para o risco de enchentes; aumento da ocorrência de defeitos de pavimento; retenção de calor, elevando a temperatura local e reduzindo a vida útil do pavimento.
Há controvérsias: o engenheiro Leandro Aguiar Liberatori, docente no curso de Engenharia da UNIP, argumenta que os paralelepípedos de rocha são tão impermeáveis quanto a massa asfáltica. “As juntas entre os paralelos são preenchidas por mástique, feito por areia ou pó de pedra e asfalto, portanto pouco permeáveis também”, explica. Segundo ele, só é possível afirmar que o paralelepípedo é mais permeável que a massa asfáltica se o paralelo for de concreto, mais poroso e permeável que o asfalto.
Na opinião do engenheiro Creso, em locais de maior risco de alagamento o asfalto é a melhor opção. “A água realmente infiltra através dos blocos de paralelepípedos, mas a superfície abaixo do pavimento é impermeabilizada, então a água filtra pelo paralelepípedo, mas precisa ser levada para caixas laterais. Com o pavimento asfáltico seria possível oferecer mais sistemas de drenagem superficiais para garantir uma drenagem maior”.
As divergências existem até mesmo em relação ao custo de implantação e manutenção de cada pavimento. Cláudio afirma que o pavimento asfáltico é mais barato. Entretanto, considerando os custos de manutenção e vida útil de cada tipo de pavimento, os valores se invertem e o pavimento em paralelepípedos torna-se mais barato.
Diferente do sistema de paralelepípedos, a pavimentação asfáltica exige observação e cuidados contínuos, diz Creso. “No Brasil o asfalto é colocado na via até acabar, tornando o valor da recuperação muito alto. Acredito que a solução seria a aplicação de gerência de pavimentos, que significa acompanhar de forma técnica as pequenas fissuras para saber o momento de selar as trincas, aumentar a vida útil da superfície rodante de forma considerável e reduzir o custo de recapeamento”, diz.
Paralelepípedo: restaurar ou retirar?
Ainda é possível encontrar pelas cidades brasileiras ruas de paralelepípedos que preservam a história. Em Ribeirão Preto, a mais conhecia é a Avenida 9 de Julho, cartão postal da cidade.
A Avenida 9 de julho
Projetada pelo prefeito João Rodrigues Guião e inaugurada em 1922, a Avenida 9 de Julho nasceu com o nome de Avenida Independência. Alguns anos depois, o nome foi alterado para homenagear a Revolução Constitucionalista de 1932, em São Paulo, que eclodiu nesta data – 9 de julho. Segundo a historiadora da arte Maria de Fatima Costa Mattos, pesquisadora do Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidade Culturais (IPCCIC), na década de 50, com a eleição do presidente Juscelino Kubitschek e seu slogan “Cinquenta anos em cinco”, o Brasil viveu uma grande mudança. “O surto desenvolvimentista do novo governo, movido pela euforia dos novos hábitos, impulsionou o gosto pelo modo de vida moderno traduzido especialmente pela arquitetura no Brasil, como acontecia no exterior. As novas maneiras de ver e ensinar adotadas pelo Modernismo brasileiro influenciava os jovens recém-saídos das novas faculdades”, relata.
Aarquitetura moderna chegou a Ribeirão Preto na mesma época. “A cidade aproveitou a reação do preço do café, ressurgiu forte e ingressou em um período de prosperidade”, destaca. A Avenida 9 de Julho ganhou belas residências que, entre 1930 a 1960, abrigou a alta sociedade ribeirão-pretana. A partir de 1985 o comércio foi autorizado e as moradias foram sendo adequadas ao crescimento urbano da cidade. Hoje muitas edificações se encontram descaracterizadas ou demolidas. A avenida perdeu sua característica residencial e passou a ser o principal centro financeiro e de prestação de serviços da cidade.
Considerada patrimônio histórico, foi tombada pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Conppac) em 2008. Com a decisão, a via de paralelepípedo, as árvores Sibipirunas no canteiro central e o calçamento em mosaico português não podem ser alterados.
Hoje, em alguns trechos da avenida, os blocos de paralelepípedos estão soltos, criando ondulações e dificultando o trajeto dos motoristas e ao longo da calçada é possível encontrar diversos buracos que oferecem risco ao pedestre.
Na opinião do engenheiro Leandro, substituir o pavimento por asfalto seria uma obra cara porque os paralelepípedos teriam que ser retirados para só depois pavimentar com asfalto. “Só jogar asfalto não resolveria, já que a base está danificada”. Para ele, restaurar os paralelepípedos seria mais viável e barato.
A arquiteta e urbanista Vera Lucia defende a manutenção do pavimento e argumenta que o paralelepípedo utiliza matéria prima disponível na região, é permeável (se mantido adequadamente) e termicamente mais apropriado para uma cidade quente como Ribeirão.
“Por outro lado, os paralelepípedos não são adequados para o tráfego intenso de veículos pesados, por isso acho que a Nove de Julho deveria receber um projeto de requalificação que proibisse o tráfego de veículos pesados, substituísse a circulação de ônibus por vans ou micro ônibus, que priorizasse a circulação de pedestres e a mobilidade ativa”, diz.
Para ela, além da discussão da preservação do patrimônio material há também o patrimônio imaterial associado à técnica de aplicação e de manutenção dos paralelepípedos que está se perdendo. “As pessoas que têm esse conhecimento estão morrendo sem transmiti-lo a ninguém. O poder público e nem mesmo os órgãos de preservação do patrimônio histórico e cultural tem tomado iniciativas no sentido de resguardar esse conhecimento”, alerta.
A pesquisadora do IPCCIC Maria de Fátima é contra a descaracterização da avenida. “Embora demande recursos financeiros e mão de obra especializada, refazer a pavimentação e o assentamento dos paralelepípedos, hoje soltos e maltratados, é necessário”, argumenta.
Para o engenheiro Cláudio, o pavimento, construído na época de ouro das Fazendas de Café, faz parte do patrimônio cultural de Ribeirão Preto e da identificação da população com a cidade. “Por mais que este tipo de pavimentação esteja caindo em desuso, e a mão de obra necessária para execução e manutenção torna-se cada vez mais escassa, a Avenida 9 de Julho deve ter sua pavimentação em paralelepípedos mantida e preservada na medida em que é um pavimento ecologicamente correto, de valor cultural à cidade e adequado ao uso atual da via”, alega.
Para Anderson, a escolha não é simples. O paralelepípedo daria um aspecto mais natural, mais belo e preservaria o patrimônio histórico, porém, se for feito um estudo de impacto de trânsito na região, a conclusão seria a redução ou mesmo impedimento do trânsito veículos pesados, única forma de se preservar o piso de paralelepípedo. O especialista acredita que cabe ao poder público fazer antes os estudos para verificar todas as consequências de qualquer decisão em nível de micro e macro impacto de trânsito na região.
“Baseado nos resultados destas simulações, verificaria se é possível desviar a rota de veículos pesados (ônibus e caminhões) e manter os paralelepípedos. Não sendo possível achar rotas alternativas a custos viáveis, a opção seria colocar o asfalto na avenida e garantir o fluxo de todos os veículos de forma mais segura no local”, sugere.
A prefeitura de Ribeirão Preto realiza ações pontuais na avenida que incluem o reparo de vazamentos, assentamento dos paralelepípedos, roçada dos canteiros, limpeza, entre outros trabalhos. Em nota, informou que o Plano de Mobilidade Urbana prevê a revitalização da Avenida 9 de Julho com a remoção dos paralelepípedos e a implantação e/ou correções da drenagem de águas pluviais, esgotamento sanitário e rede de águas de consumo.
A base será substituída por novo sistema de BGS (Brita graduada com cimento) para suporte do rolamento com uma camada de 15 a 20 cm de areia e os paralelepípedos serão recolocados. Paralelamente serão executadas as adequações para acessibilidade e a restauração do canteiro central.
O país chamou a atenção do mundo ao erguer um hospital em dez dias e acendeu uma questão para o setor da construção civil no Brasil: por que não fazemos igual?
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O hospital Huoshenshan foi construído em 34 mil m2 (o equivalente a quase cinco estádios de futebol), com dois pavimentos, mil leitos, trinta unidades de terapia intensiva e dez salas de isolamento, distribuídas em 25 mil m2 de construção.
A obra começou em 23 de janeiro e foi entregue no dia 2 de fevereiro. 100 tratores e quatro mil trabalhadores ocuparam o local em três turnos, durante 24 horas por dia. Foram utilizadas estruturas metálicas pré-fabricadas unidas por parafusos, seguindo o exemplo do Hospital Xiaotangshan, em Pequim, construído em duas semanas, durante a epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), em 2003.
A fábrica chinesa de concreto que fez as fundações da estação brasileira na Antártica constrói prédios de 20 andares em três meses. Esse é um dos exemplos da tecnologia construtiva da China, que chamou a atenção do mundo em janeiro de 2020 quando o hospital de Wuhan foi construído em dez dias - prazo impensável para a maioria dos países do mundo – como parte da estratégia de combate ao novo coronavírus, causador da Covid-19, doença que afetou todos os continentes do mundo. A cidade chinesa, com 11 milhões de habitantes, é considerada o epicentro da pandemia.
Logo após a inauguração, o país anunciou a abertura de um segundo hospital na cidade de Wuhan, o Leishenshan, construído também em 10 dias, com 1,6 mil leitos, enfermaria de isolamento, área de exames e acomodações para médicos.
Para o engenheiro civil Roberto Maestrello, pós-graduado em engenharia de estruturas e diretor da empresa RTS Engenharia, a agilidade e eficiência das construções chinesas se dá pelo uso de estruturas pré-fabricadas, antecedidas por longo estudo e planejamento.
Roberto explica que os módulos, geralmente metálicos, são produzidos em fábricas, com precisão e em série, depois transportados e içados na obra, através de equipamentos de elevação e transporte, seguindo cronogramas rígidos e organogramas exaustivamente treinados e repassados ao pessoal de obra. “A construção acaba sendo uma grande montagem em série, como acontece em uma linha de montagem de automóveis, de eletrodomésticos, etc.”.
O engenheiro argumenta que o feito chinês foi possível devido ao investimento em inovação e pesquisa em avançado sistema de pré-fabricação, que utiliza mão de obra especializada, maquinário de ponta e reduz o consumo de energia e poluição ambiental.
“A industrialização de estruturas metálicas, onde quase que a totalidade do tempo de produção ocorre nas fábricas, com ambiente controlado e precisão milimétrica, juntamente com o içamento e montagem das peças no canteiro de obras, otimiza a construção de maneira geral”, afirma.
A arquiteta Mariluz Gomez Esteves, especialista em arquitetura do sistema de saúde e diretora executiva da Pró-Saúde - Arquitetura, Planejamento e Consultoria, explica que na China os arquitetos/projetistas escolhem os itens que vão utilizar e projetam a partir desta disponibilidade. “Isto ocorre inclusive com os banheiros, que chegam prontos nas obras e são instalados no local”, explica.
O país é um dos líderes mundiais em fábricas inteligentes, onde tecnologias são utilizadas para aumentar a eficiência da produção. A indústria 4.0, caracterizada pela aplicação intensiva de tecnologias da comunicação e da informação na indústria, complementa o setor de construção e agiliza o processo em obras emergenciais, como os hospitais construídos em Wuhan.
O engenheiro ambiental e de segurança do trabalho Nicolau Gentil Iucif trabalhou na montagem da estação brasileira na Antártica e acompanhou de perto a fabricação das estruturas pré-fabricadas na China. “Os pilares de lajes, paredes e portas, todos são pré-moldados, feitos em uma indústria de concreto e transportados e montados no local da obra. Isso facilita e agiliza muito a construção. É uma característica impressionante dos chineses”, diz.
Soma-se ao sistema de construção modular, a questão de os trabalhadores ganharem por empreitada, acrescenta Nicolau. “Se o trabalhador concluir em um ou em três dias o valor será o mesmo, o que traz mais produtividade para o sistema construtivo chinês”.
João Paulo Torres, engenheiro eletricista, com mestrado em inovação na construção civil e diretor da Sálix Engenharia, enumera outros fatores que também podem ter contribuído para a entrega do hospital em curto tempo. Dentre eles: a grande quantidade de equipamentos, como guindastes e escavadeiras; a fabricação local de todos os insumos necessários para a construção da edificação, sem necessidade de importação de materiais e/ou equipamentos; a disponibilidade, no estoque, de fabricantes de equipamentos de climatização, centrais de gases medicinais e equipamentos de backup de energia compatíveis.
O local da construção, com terreno favorável e pouco desnível, o solo previamente analisado com facilidade para fundação rasa e disponibilidade de área de canteiro para logística e armazenagem, além da padronização dos ambientes com baixa complexidade de construção, sendo, em sua maioria, leitos de internação, também são fatores considerados para o prazo recorde de construção, argumenta o engenheiro.
Engenharia hospitalar
Os projetos e obras hospitalares enfrentam grandes desafios. Prazos enxutos, a busca por novas tecnologias, a escassez de mão de obra especializada, a execução da obra com o hospital em funcionamento e o cuidado com o impacto da intervenção civil para os pacientes são alguns deles, segundo a arquiteta hospitalar Ana Carolina Meirelles Bonissi.
“Além disso, a engenharia hospitalar precisa atender todas as normas técnicas exclusivas, que proporciona o funcionamento harmonioso, como o tratamento de ar, requisitos para segurança, mobilidade, entre outras, e também atender as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que possui diversas particularidades para a aprovação do alvará sanitário para Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS)”, destaca.
Para a arquiteta, a construção pré-fabricada possibilita assertividade em relação ao cumprimento e encurtamento do prazo da obra e contribui para torná-la mais sustentável. Ana Carolina é de Ribeirão Preto e trabalha para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde desenvolve e acompanha os projetos de reformas, expansões e novas unidades da instituição. Segundo ela, as estruturas pré-moldadas já são utilizadas no hospital em duas situações: nas expansões de estruturas já existentes, como, por exemplo, na expansão da unidade Morumbi e do Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch (M’Boi Mirim), e nas reformas de estruturas para a instalação do serviço hospitalar. “Neste último caso temos a Klabin, que é uma unidade ambulatorial, e a Clínica Einstein Anália Franco”, explica.
O engenheiro João Paulo afirma que as estruturas de concreto pré-moldado ou as metálicas são encontradas nas construções hospitalares na parte estrutural, composta por vigas e pilares. Já as instalações e acabamentos, na maioria dos projetos, ainda são executadas nos canteiros de obra, com baixa industrialização.
“A maioria dos projetos hospitalares no Brasil utiliza como característica o concreto armado, moldado in loco, proporcionando mais agilidade, flexibilidade, facilidade de manutenção e industrialização à construção.”
A arquiteta Mariluz concorda que a construção de hospitais de emergência a partir de itens prontos reduz o tempo de obra, mas argumenta que as mesmas estruturas dificilmente atendem as necessidades específicas das edificações hospitalares tradicionais. “Construir hospitais de campanha em campos de futebol é uma coisa, fazer um hospital em um terreno urbano, acidentado, é outra”, alega.
Mariluz argumenta que em sua experiência profissional, já realizou diversas tentativas para utilizar peças disponíveis no mercado da construção, mas o tamanho das peças não atende a necessidade do projeto hospitalar. “A montagem tipo ‘lego’, se feita com vários pavimentos, não se mostra estável o suficiente para a operação hospitalar. Se tivermos que fabricar as peças necessárias e ancorá-las para ter a estabilidade necessária, a construção se tornará, nas condições atuais da indústria da construção, muito mais cara que a convencional”, ressalta.
Segundo ela, a maior dificuldade na construção hospitalar são as instalações. Um hospital exige diversos sistemas de instalações complexas, desde os elementos de controle e combate a incêndio, que são absolutamente distintos de uma edificação comercial ou habitacional, até instalações que só existem nos estabelecimentos de saúde, como gases medicinais, vácuo clínico, etc.
Por que a engenharia brasileira não é tão ágil quanto a chinesa?
Adoção da metodologia BIM pode conferir agilidade aos projetos industrializados
Para o engenheiro Roberto Maestrello, os motivos são históricos, culturais e de escolha de prioridades, que resultam, principalmente, no baixo investimento em pesquisa e na fabricação e montagem de elementos construtivos.
“O Brasil, apesar do enorme déficit habitacional, de infraestrutura, de saneamento e de transportes, ainda está no discurso e longe da prática, porque pouco se importou em investir nesse sentido, coisa que americanos, ingleses, alemães e notadamente os chineses têm feito com abnegação e inteligência”, alega.
Roberto destaca que, ultimamente e com certa timidez, é possível ver obras sendo desenvolvidas no campo de infraestrutura de pontes, viadutos, na escavação e concretagem de túneis, nas novas ferrovias e também em construções comerciais e industriais. Mas, por questões que ele classifica como culturais, no Brasil ainda há receio em relação às paredes de “dry wall” (sistema de placas de gesso acartonado escoradas por estruturas metálicas) nas obras residenciais ou o uso do painel de “piso wall” sob o piso.
“É imprescindível que os institutos de tecnologia, as escolas de engenharia, o poder público, as associações de classe e a indústria estejam engajados e inseridos nesse conceito de construção para que o Brasil embarque nessa trajetória de progresso”, defende Roberto.
O engenheiro João Paulo Torres argumenta que, apesar de a construção modular não ser comum no Brasil, a industrialização do setor tem crescido. Dentre as práticas que têm sido cada vez mais usadas, ele cita técnicas como Lean Construction - metodologia usada para otimizar a produção, reduzindo desperdícios e buscando melhores prazos - e a racionalização da construção civil, que passa por materiais inovadores, projetos eficientes até chegar ao canteiro de obras com menos desperdício e maior produtividade.
A adoção da metodologia BIM (Building Information Modelling), na visão da arquiteta hospitalar Ana Carolina Meirelles Bonissi, é importante para conferir agilidade na construção civil no Brasil onde, segundo ela, o método é adotado por apenas 10% das empresas.
O engenheiro civil Roberto Maestrello destacas algumas iniciativas de construção utilizando estruturas pré-fabricadas na região de Ribeirão Preto. Segundo ele, além de alguns conjuntos habitacionais produzidos com paredes de concreto moldadas industrialmente nas obras, há trabalhos pioneiros de execução de conjuntos habitacionais através de estruturas pré-fabricadas mistas de metal/concreto, executadas parte com pré-fabricação na indústria e parte em obras.
Entre os exemplos estão a ponte sobre o rio da Onça, em Sertãozinho, construída nos anos de 1970; o pavimento misto em edifício industrial na Av. Castelo Branco, feito nos anos 1980; a utilização de formas deslizantes na execução do canal inclinado da Av. Francisco Junqueira, nos anos de 1970, baseado em estudos e obras de caixas d´agua executadas com formas deslizantes e/ou trepantes, largamente disseminadas no Brasil a partir dos anos de 1960.
A execução de paredes em concreto armado através de formas trepantes em edifícios de armazenagem de açúcar a granel nas usinas São Geraldo, em Sertãozinho, e Santa Fé, em Nova Europa.
A construção de pontes de concreto em vigas pré-moldadas na Rua Florêncio de Abreu com Av. Francisco Junqueira, sobre o córrego Retiro Saudoso; na ponte da Av. João Fiusa, sobre o córrego Ribeirão Preto, e na ponte da Avenida João Goulart, no final dos anos de 1980.
O pavimento sobre o escritório do CREA-SP, na sede da AEAARP, é pré-fabricado. Foi montado com materiais metálicos e alternativos em 2011.
No viaduto na Av. Maria de Jesus Condeixa, que está em construção sobre a Av. Francisco Junqueira e córrego do Retiro Saudoso, em Ribeirão Preto, as vigas são pré-moldadas de concreto protendido. São produzidas em canteiro na av. Maurilio Biagi, para depois serem transportadas e içadas sobre os pilares no próprio local.
“Todas essas construções têm caráter inovador e pioneiro, que trouxeram ganhos em tempo e em execução”, ressalta Roberto.
Tecnologia e planejamento fortaleceram a cultura do amendoim, que dobrou a produção nos últimos anos
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Há 45 anos a família de Danilo César Penariol se dedica ao cultivo do amendoim na fazenda Pau D´Alho, em Jaboticabal (SP). É a terceira geração da família à frente do negócio, que começou em 1974 com os avós. Eles são um dos primeiros produtores de amendoim da região e mantêm 650 hectares de plantação, entre terras próprias e arrendadas.
A cultura comercial do amendoim no Brasil é relativamente recente. Começou nos anos de 1950, alcançou bons resultados até a década de 1970 e sucumbiu a outras culturas, como a soja e a cana-de açúcar, que receberam incentivos e investimentos em tecnologia, aumentando as áreas plantadas.
O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) incentivou a cultura da cana-de-açúcar a partir de 1975, quando surgiu o Programa. Os proprietários de terras passaram a arrendar as áreas para a promissora indústria canavieira, que exigia técnica para o manejo do solo. Uma das possibilidades dessa técnica é a alternância da cultura da cana com o amendoim, que, apesar de tecnologicamente e comercialmente enfraquecido, não sai de cena.
O amendoim é uma leguminosa originária da América do Sul.
Segundo o engenheiro agrícola Rouverson Pereira da Silva, docente do Departamento de Engenharia Rural da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal (SP), o amendoim proporciona controle biológico da cultura da cana, reduzindo a infestação por pragas, e contribui com a manutenção da fertilidade do solo por meio da fixação de nitrogênio.
A rotação de cultura foi oportuna para que produtores mantivessem suas lavouras de amendoim. “É a principal cultura de rotação com a cana-de-açúcar no estado de São Paulo, cultivado nas áreas de renovação de canavial”, explica o agrônomo José Antônio Rossato Júnior, presidente da Cooperativa Agroindustrial (Coplana). O amendoim impulsiona outra indústria, a de alimentos, aumentando as possibilidades de ganho dos produtores.
A mecanização dessa lavoura aconteceu a partir dos anos de 1980 e, segundo a Coplana, foi a estratégia para a cultura prosperar. A tecnologia foi importada da Argentina e Estados Unidos e impactou em toda cadeia produtiva: as máquinas exigiam novas variedades – do tatu, ou ereto, para o runner, que é rasteiro. Pesquisadores da Embrapa e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) chegaram a um cultivar mais produtivo, nutritivo e resistente. A introdução de secadoras no armazenamento evita o surgimento de fungos e melhora a produtividade e a rentabilidade.
“A revolução da mecanização e a secagem do amendoim deram condições para que a cultura crescesse. De 20 anos para cá houve um boom na produção”, conta o presidente da Coplana. Com ganhos em produtividade e em qualidade, o amendoim passou a atender a indústria alimentícia nacional, substituindo importações da Argentina. No ano 2000 começou a ser exportado.
Renata Martins Sampaio, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), explica que o crescimento da cultura nos mercados interno e externo se deve ao aprimoramento dos processos para melhorar a qualidade do produto, atendendo às exigências e demandas do mercado.
A partir do início dos anos 2000, novas tecnologias de produção e beneficiamento passaram a ser alinhadas às novas práticas sanitárias e de armazenamento. Além disso, o amendoim tornou-se pauta de debates e fóruns com vistas ao fortalecimento e aperfeiçoamento da cadeia.
“Novos arranjos técnicos, organizacionais e institucionais abriram espaço para o reposicionamento do amendoim brasileiro no mercado internacional e também ofereceu condições de planejamento e inserção no mercado interno do produto in natura e industrializado”, explica Renata.
Produção na região
O Brasil ocupa o 13º lugar como produtor de amendoim no mundo. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que em 2012 o país produziu 256.600 toneladas do amendoim em casca. A safra 2017/2018 apresentou um volume bem mais significativo: 501.800 toneladas e, deste total, 477.700 mil foram produzidas no estado de São Paulo, que concentrada 90% da produção.
Em 2018, a cultura registrou aumento de 13% no seu valor da produção, totalizando R$ 871 milhões. O grão ocupa a 15º posição no ranking do Valor da Produção Agropecuária do estado de São Paulo, composto por 54 produtos, com a cana-de-açúcar na primeira posição. De acordo com o Instituto de Economia Agrícola (IEA), no período de 2007 a 2017, a produção paulista de amendoim cresceu em média 12% ao ano.
A região da Alta Mogiana (Ribeirão Preto, Jaboticabal, Sertãozinho, Dumont) e Alta Paulista (Tupã, Marília) são as maiores produtoras de amendoim do estado, representando parte importante do PIB regional.
Jaboticabal respondeu por 23% da produção de amendoim no Brasil na safra de 2018, com 119.520 toneladas. O município é o segundo maior exportador da leguminosa do país. A posição lhe rendeu o título de Capital Estadual do Amendoim, outorgado por meio da Lei Estadual n° 16.640, de 05 de janeiro de 2018. Mais de 50% do faturamento da Coplana, maior processadora do grão no país, tem origem no amendoim. Na safra de 2018, a cooperativa produziu 89.520 toneladas de amendoim em casca, com faturamento de R$ 499.495 milhões. A cooperativa exportou 33.921 toneladas, 22% do total das exportações do Brasil, que totalizou 153.317 toneladas em 2018.
A cooperativa recebe o grão do produtor, armazena, beneficia, processa e exporta, especialmente para o mercado europeu.
Cadeia produtiva
Os grãos de amendoim são utilizados pela indústria alimentícia como matéria prima na fabricação de doces, na massa dos chocolates, aperitivos e óleo.
Segundo dados do Estudo Tendências, encomendado pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (ABICAB) o setor conta com cerca de 400 empresas com relevância no mercado. As líderes respondem por 25% a 30% da produção do setor, enquanto as empresas de médio porte respondem por 30 a 35%. Ou seja, um volume relevante da produção, em torno de 40%, está nas mãos de pequenas e microempresas.
O estado de São Paulo concentra a maior parte das empresas de produtos de amendoim. Segundo a ABICAB, a concentração é estratégica, uma vez que o estado é grande produtor dos insumos utilizados no setor.
O Brasil é o quinto maior exportador de amendoim no mundo. Em 2018, a exportação do amendoim em grão cresceu 35% em relação a 2017, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, divulgados em artigo publicado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA).
O óleo de amendoim e amendoins preparados e conservados também são exportados, mas em menor escala. Segundo Renata, pesquisadora do IEA, o avanço da produção de soja deslocou a importância do amendoim no mercado de óleos vegetais e o produto em grão e a confeitaria passaram a ser destaque no mercado.
“As exportações representam cerca de 50% a 70% do mercado do amendoim, variação que depende do comportamento da demanda e também da oferta do produto no mundo. O restante é consumido pelo mercado interno”, explica Renata, do IEA.
A Rússia é o principal destino do amendoim em grão com 37% do volume total, seguida da Argélia com 17% e dos Países Baixos (Holanda) com 11%. O óleo de amendoim é exportado para China e Itália. Os amendoins conservados e preparados são exportados principalmente para a Rússia, Ucrânia e Estados Unidos, Chile, Peru, Colômbia e Uruguai.
Conselhos e associações de classe têm origens, atribuições e responsabilidades distintas. A valorização do profissional e a defesa do exercício regular da profissão – por pessoas habilitadas e registradas no conselho – é o que as une.
O engenheiro Vinícius Marchese, presidente do CREA-SP, disse na AEAARP que em 2023 o Conselho almeja fortalecer as associações no interior paulista por meio de convênios e fomentos. Ele se reuniu na AEAARP com representantes das 24 associações de classe do setor que compõem a Unacem, entidade que reúne entidades da região.
Além de Vinícius, também participaram do encontro diretores do CREA-SP de diferentes setores e a vice-presidente Lígia Marta Mackey.
Os encontros, na visão do engenheiro Giulio Prado, presidente da AEAARP, são ricos na medida em que profissionais e dirigentes têm a oportunidade de alinhar realidades, objetivos e expectativas.