Os tamanhos dos carros do Império Romano influenciam até hoje os meios de transporte do mundo
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Quando, na Antiguidade, o homem criou a roda, abriu a porta para inovações que têm a engenharia como protagonista. Das bigas romanas, primeiros veículos de guerra, aos modernos foguetes que viajam para o espaço, muita coisa mudou, menos a largura dos trilhos – a bitola.
As bigas eram carroças com duas rodas movidas por dois cavalos e a distância entre os eixos das suas rodas levava em consideração a largura das ancas dos animais: 4 pés, 8,5 polegadas ou 1,435 metros, a mesma medida conhecida como Bitola standard, utilizada até hoje nos sistemas de ferrovias da Europa e Estados Unidos.
Celso Frateschi, docente do curso Engenharia Mecatrônica e Produção Mecatrônica da UNIP de Ribeirão Preto, explica que tanto cavalos quanto bois eram usados aos pares. “O que resultou na largura das carruagens, carroças, e na distância entre as rodas. Assim também os primeiros bondes possuíam tração animal e a mesma medida”, destaca.
As bigas foram os primeiros carros de guerra da humanindade. Surgiram em 2000 a.C, mas tornaram-se notórias por volta de 1300 a.C., na Batalha de Kadesh, entre o Egito e o Império Hitita.
Para o engenheiro Paulo Celso Greco Junior, professor do Departamento de Engenharia Aeronáutica da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, os projetistas dos motores do ônibus espacial precisaram considerar o tamanho que poderia ser transportado por um trem, já que a largura máxima que a carga pode ter é limitada pela largura dos túneis, pontes e outras características das ferrovias.
Paulo destaca que a largura dos automóveis modernos também não difere da largura das carruagens medievais. “A justificativa pode estar na manobrabilidade e no padrão de largura das ruas, já que existem ruas na Europa que são do período medieval”, observa.
Tamanhos
A Bitola standard, mesmo sendo adotada pelos sistemas mais avançados em ferrovias da Europa e Estados Unidos, não é a única medida de distância entre trilhos.
Segundo o engenheiro Jean Carlos Pejo, secretário Nacional de Mobilidade e Serviços Urbanos, as construções do passado (que não tinham padrões normalizados e atendiam interesses regionais) e a segregação da entrada de trens que carregavam suprimentos para defesa em guerras são algumas justificativas para as diferenças das medidas. “Ao exportar seu know-how a países importadores, os detentores da tecnologia na construção de ferrovias e trens espalharam pelo mundo diferentes bitolas”, explica.
Para ele, o ideal seria que houvesse um sistema de bitolas unificadas. Porém, a variedade de tamanho não traz tantos transtornos, já que existem diferentes procedimentos operacionais, técnicos e tecnológicos para minimizar a diferença.
Além de Estados Unidos e Europa, a Bitola standard também é adotada na China, Canadá, México e em todos os sistemas de trens de alta velocidade no mundo, o que a torna também a mais utilizada do planeta.
“No Japão, um dos países de forte domínio de tecnologia ferroviária, só tem unificado em bitola de 1,435mm os sistemas de Alta Velocidade Shinkansem. Nas outras ferrovias a medida é da classe de bitola métrica”, observa Jean.
A Bitola métrica, também bastante utilizada, engloba bitolas entre 914mm e 1,067mm, incluindo a de 1,00m (largamente usada no Brasil) e é encontrada em ferrovias de grande parte da Ásia, África, América do Sul, América Central e Oceania. Já a Bitola ibérica, de 1,668 mm, é utilizada em Portugal, Espanha e alguns países da América do Sul.
No Brasil, a partir dos anos de 1980, a bitola foi padronizada em 1.600mm. A maioria das ferrovias brasileiras utiliza essa medida. Uma das exceções é a Ferroeste, no Paraná, construída sobre bitola de 1,000mm, e sistemas metroviários que foram construídos na Bitola standard (1,435mm)
“A malha brasileira tem em sua maior extensão a bitola de 1,000mm, seguida pela de 1,600mm. Existem ferrovias de baixa capacidade operacional ou sem uso e em extensões pequenas no norte do país e novas linhas de metrô que têm sua construção na bitola de 1,435mm”, explica Jean.
Não há, segundo ele, medida ideal. Fatores comerciais, técnicos e históricos influenciam na escolha. “Deve ser levada em consideração a interoperabilidade (capacidade de um sistema se comunicar com outro sistema), o tipo de serviço a ser prestado, a capacidade instalada de terminais e muitas outras variáveis”, argumenta.