Peculiar, a obra do arquiteto e urbanista Ruy Ohtake, nascido em 1938, transformou a paisagem urbana no Brasil e no mundo – mas, sobretudo, na capital paulista, onde construções e intervenções com sua assinatura despontam desde a região central até bairros periféricos.
Primogênito da pintora, gravadora e escultora Tomie Ohtake (1913-2015), o paulistano se formou pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) em 1960. Pouco depois de graduado, já trabalhava com os elementos que viriam a marcar seu trabalho, notáveis nas inúmeras residências que priorizam o convívio social e, de modo similar, nos edifícios culturais, institucionais, comerciais e hotéis com foco na integração entre os espaços.
Somado à preocupação com a funcionalidade e a materialidade, o apuro formal é sua característica mais distinta. Embora a predileção pelas curvas sempre tenha gerado comparações com Oscar Niemeyer (1907-2012), especialistas ressaltam as distinções: se para o arquiteto carioca a curva “preserva um raciocínio gráfico que se transporta do desenho para a obra”, no entendimento de Ohtake ela “assimila a ‘liberdade plástica’ pelo viés da maleabilidade da forma”, observa Rodrigo Cristiano Queiroz, professor da FAU-USP.
Sua atuação não se limitou aos projetos arquitetônicos: Ohtake desenvolveu peças de mobiliário e objetos, lecionou nas Faculdades de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Universidade Católica de Santos e presidiu o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) na virada das décadas de 1970 e 1980.
Como resultado da prolífica carreira, recebeu dezenas de honrarias ao longo dos anos, com destaque para o Prêmio Carlos Millan, em 1971, e a Comenda Colar de Ouro, em 2006, ambos concedidos pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Principais projetos
Parque Ecológico do Tietê (1976)
Criado por decreto estadual, o parque paulistano ganhou projeto arquitetônico e paisagístico pioneiro, que previa a despoluição do rio e a recuperação da fauna e flora locais, além de privilegiar o usufruto da população, com a formação de bosques e lagos e a instalação de equipamentos sociais para atividades de lazer.
Embaixada do Brasil em Tóquio (1982)
Em uma rua estreita no bairro de Aoyama, na capital japonesa, os cinco pavimentos do prédio da embaixada brasileira se destacam pela fachada curva e pelas cores vivas e contrastantes, presentes no caixilho e na estrutura que se projeta do vão.
Conjunto Aché Cultural/Instituto Tomie Ohtake (2001)
Apesar de ocupar 65 mil metros quadrados, o enorme complexo — que inclui prédios de escritórios e o centro cultural que leva o nome da mãe do arquiteto — preza pela unidade, sendo marcado pelo uso das formas, materiais e espaços bem integrados. O projeto rendeu a Ohtake um prêmio na 9ª Bienal de Arquitetura de Buenos Aires, em 2001.
Hotel Unique (2002)
Hoje perfeitamente incorporado à silhueta e ao repertório da cidade, o arrojado formato do hotel surgiu de desafios de ordem prática: criar uma construção que se destacasse em uma área onde são permitidos apenas prédios com até sete andares e atender à preferência dos hóspedes por quartos nos pavimentos superiores.
Conjunto habitacional Heliópolis (2008)
Diante do desafio de ajudar a levar beleza, funcionalidade e dignidade aos moradores da comunidade na zona sul de São Paulo, o arquiteto concebeu os edifícios cilíndricos, apelidados de Redondinhos: com separação adequada entre si, os prédios não têm corredores e contam com boa ventilação e iluminação natural nas unidades.
A história de Ruy Ohtake
Ruy Ohtake coleciona uma série de obras emblemáticas em seus mais de 60 anos de carreira. Formas sinuosas e o uso destemido das cores marcam sua arquitetura e suas incursões no universo do design. Ruy foi o homenageado do Prêmio Casa Vogue Design 2020. Encante-se!
Texto e iimagens Casa Vogue