Painel - Amendoim: declínio e ascensão

06/fev/2023

Tecnologia e planejamento fortaleceram a cultura do amendoim, que dobrou a produção nos últimos anos

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Há 45 anos a família de Danilo César Penariol se dedica ao cultivo do amendoim na fazenda Pau D´Alho, em Jaboticabal (SP). É a terceira geração da família à frente do negócio, que começou em 1974 com os avós. Eles são um dos primeiros produtores de amendoim da região e mantêm 650 hectares de plantação, entre terras próprias e arrendadas.

A cultura comercial do amendoim no Brasil é relativamente recente. Começou nos anos de 1950, alcançou bons resultados até a década de 1970 e sucumbiu a outras culturas, como a soja e a cana-de açúcar, que receberam incentivos e investimentos em tecnologia, aumentando as áreas plantadas.

O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) incentivou a cultura da cana-de-açúcar a partir de 1975, quando surgiu o Programa. Os proprietários de terras passaram a arrendar as áreas para a promissora indústria canavieira, que exigia técnica para o manejo do solo. Uma das possibilidades dessa técnica é a alternância da cultura da cana com o amendoim, que, apesar de tecnologicamente e comercialmente enfraquecido, não sai de cena.

O amendoim é uma leguminosa originária da América do Sul.

Segundo o engenheiro agrícola Rouverson Pereira da Silva, docente do Departamento de Engenharia Rural da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Jaboticabal (SP), o amendoim proporciona controle biológico da cultura da cana, reduzindo a infestação por pragas, e contribui com a manutenção da fertilidade do solo por meio da fixação de nitrogênio.

A rotação de cultura foi oportuna para que produtores mantivessem suas lavouras de amendoim. “É a principal cultura de rotação com a cana-de-açúcar no estado de São Paulo, cultivado nas áreas de renovação de canavial”, explica o agrônomo José Antônio Rossato Júnior, presidente da Cooperativa Agroindustrial (Coplana). O amendoim impulsiona outra indústria, a de alimentos, aumentando as possibilidades de ganho dos produtores.

A mecanização dessa lavoura aconteceu a partir dos anos de 1980 e, segundo a Coplana, foi a estratégia para a cultura prosperar. A tecnologia foi importada da Argentina e Estados Unidos e impactou em toda cadeia produtiva: as máquinas exigiam novas variedades – do tatu, ou ereto, para o runner, que é rasteiro. Pesquisadores da Embrapa e do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) chegaram a um cultivar mais produtivo, nutritivo e resistente. A introdução de secadoras no armazenamento evita o surgimento de fungos e melhora a produtividade e a rentabilidade.

“A revolução da mecanização e a secagem do amendoim deram condições para que a cultura crescesse. De 20 anos para cá houve um boom na produção”, conta o presidente da Coplana. Com ganhos em produtividade e em qualidade, o amendoim passou a atender a indústria alimentícia nacional, substituindo importações da Argentina. No ano 2000 começou a ser exportado.

Renata Martins Sampaio, pesquisadora do Instituto de Economia Agrícola (IEA), explica que o crescimento da cultura nos mercados interno e externo se deve ao aprimoramento dos processos para melhorar a qualidade do produto, atendendo às exigências e demandas do mercado.

A partir do início dos anos 2000, novas tecnologias de produção e beneficiamento passaram a ser alinhadas às novas práticas sanitárias e de armazenamento. Além disso, o amendoim tornou-se pauta de debates e fóruns com vistas ao fortalecimento e aperfeiçoamento da cadeia.

“Novos arranjos técnicos, organizacionais e institucionais abriram espaço para o reposicionamento do amendoim brasileiro no mercado internacional e também ofereceu condições de planejamento e inserção no mercado interno do produto in natura e industrializado”, explica Renata.

Produção na região
O Brasil ocupa o 13º lugar como produtor de amendoim no mundo. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que em 2012 o país produziu 256.600 toneladas do amendoim em casca. A safra 2017/2018 apresentou um volume bem mais significativo: 501.800 toneladas e, deste total, 477.700 mil foram produzidas no estado de São Paulo, que concentrada 90% da produção.

Em 2018, a cultura registrou aumento de 13% no seu valor da produção, totalizando R$ 871 milhões. O grão ocupa a 15º posição no ranking do Valor da Produção Agropecuária do estado de São Paulo, composto por 54 produtos, com a cana-de-açúcar na primeira posição. De acordo com o Instituto de Economia Agrícola (IEA), no período de 2007 a 2017, a produção paulista de amendoim cresceu em média 12% ao ano.

A região da Alta Mogiana (Ribeirão Preto, Jaboticabal, Sertãozinho, Dumont) e Alta Paulista (Tupã, Marília) são as maiores produtoras de amendoim do estado, representando parte importante do PIB regional.

Jaboticabal respondeu por 23% da produção de amendoim no Brasil na safra de 2018, com 119.520 toneladas. O município é o segundo maior exportador da leguminosa do país. A posição lhe rendeu o título de Capital Estadual do Amendoim, outorgado por meio da Lei Estadual n° 16.640, de 05 de janeiro de 2018. Mais de 50% do faturamento da Coplana, maior processadora do grão no país, tem origem no amendoim. Na safra de 2018, a cooperativa produziu 89.520 toneladas de amendoim em casca, com faturamento de R$ 499.495 milhões. A cooperativa exportou 33.921 toneladas, 22% do total das exportações do Brasil, que totalizou 153.317 toneladas em 2018.

A cooperativa recebe o grão do produtor, armazena, beneficia, processa e exporta, especialmente para o mercado europeu.

Cadeia produtiva
Os grãos de amendoim são utilizados pela indústria alimentícia como matéria prima na fabricação de doces, na massa dos chocolates, aperitivos e óleo.

Segundo dados do Estudo Tendências, encomendado pela Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (ABICAB) o setor conta com cerca de 400 empresas com relevância no mercado. As líderes respondem por 25% a 30% da produção do setor, enquanto as empresas de médio porte respondem por 30 a 35%. Ou seja, um volume relevante da produção, em torno de 40%, está nas mãos de pequenas e microempresas.

O estado de São Paulo concentra a maior parte das empresas de produtos de amendoim. Segundo a ABICAB, a concentração é estratégica, uma vez que o estado é grande produtor dos insumos utilizados no setor.

O Brasil é o quinto maior exportador de amendoim no mundo. Em 2018, a exportação do amendoim em grão cresceu 35% em relação a 2017, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, divulgados em artigo publicado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA).

O óleo de amendoim e amendoins preparados e conservados também são exportados, mas em menor escala. Segundo Renata, pesquisadora do IEA, o avanço da produção de soja deslocou a importância do amendoim no mercado de óleos vegetais e o produto em grão e a confeitaria passaram a ser destaque no mercado.

“As exportações representam cerca de 50% a 70% do mercado do amendoim, variação que depende do comportamento da demanda e também da oferta do produto no mundo. O restante é consumido pelo mercado interno”, explica Renata, do IEA.

A Rússia é o principal destino do amendoim em grão com 37% do volume total, seguida da Argélia com 17% e dos Países Baixos (Holanda) com 11%. O óleo de amendoim é exportado para China e Itália. Os amendoins conservados e preparados são exportados principalmente para a Rússia, Ucrânia e Estados Unidos, Chile, Peru, Colômbia e Uruguai.

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