A Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto se orgulha de ter realizado com sucesso a 14ª edição da Semana de Arquitetura AEAARP, com o tema "Caminhos da Arquitetura". O evento ocorreu nos dias 3 e 4 de outubro, e contou com a participação de renomados profissionais e entusiastas da área de arquitetura.
Através de palestras inspiradoras e apresentações enriquecedoras, os participantes tiveram a oportunidade de explorar os diferentes aspectos e tendências da arquitetura contemporânea. Com o apoio e engajamento de nossa comunidade, a Semana de Arquitetura AEAARP continuou a desempenhar um papel crucial na promoção da educação e no compartilhamento de conhecimentos na área de arquitetura.
Durante o evento, tivemos o privilégio de receber profissionais destacados, como o Studio Papaya, representado pelos Arquitetos Samuel Garcia e Delia Sloneanu, o Arquiteto Quintino Facci, e o renomado Artista Plástico Samuel Caixeta, que compartilharam valiosas perspectivas sobre os desafios e oportunidades presentes na prática arquitetônica.
Agradecemos a todos que contribuíram para o sucesso deste evento, que se consolidou como um importante ponto de encontro para a comunidade de arquitetura em Ribeirão Preto e região. Permaneça atento para futuras edições e outras iniciativas promovidas pela AEAARP.
Na data de hoje, 02 de agosto, a AEAARP (Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto) promoveu uma enriquecedora visita técnica à CasaCor São Paulo. A tradicional mostra de arquitetura e decoração acontecerá entre 30 de maio e 6 de agosto de 2023, retomando o formato do primeiro semestre, como era tradição até 2019.
O evento será realizado, pela segunda vez consecutiva, no Conjunto Nacional, situado na icônica Avenida Paulista, seguindo o sucesso da edição comemorativa de 35 anos, que marcou história no cenário arquitetônico e de design.
Com o tema "Corpo & Morada", a CASACOR São Paulo busca abordar questões fundamentais de afeto e cuidado nas relações com o corpo, a mente, o outro, a casa, o consumo, a cidade e o planeta. A proposta é trazer reflexões sobre como essas interações influenciam o espaço em que vivemos e como é possível promover uma habitação mais acolhedora e consciente.
A visita técnica foi coordenada pela Diretora de Arquitetura, Urbanismo e Afins da AEAARP, Cristina Heck Vitaliano Dolacio, que proporcionou aos participantes uma imersão nas tendências e inovações apresentadas na CasaCor São Paulo. O evento é uma oportunidade única para profissionais e entusiastas da área conhecerem projetos e conceitos de destaque no universo da arquitetura e do design.
A CASACOR São Paulo se consolida como um dos eventos mais relevantes do setor, proporcionando um espaço de intercâmbio de ideias e inspirações para os profissionais e apreciadores da arte de habitar e criar espaços que reflitam o cuidado e o carinho com o entorno e o bem-estar individual e coletivo. A AEAARP, ao promover essa visita técnica, reforça o compromisso em proporcionar aos seus associados a oportunidade de atualização e aprimoramento profissional.
Marco arquitetônico da cidade de São Paulo, o Conjunto Nacional será o local da 36ª edição da CASACOR São Paulo entre os dias 30 de maio e 06 de agosto.
Este evento, que conta com o apoio institucional do CAU/SP, terá 73 ambientes projetados por arquitetos, designers de interiores e paisagistas do mercado.
O tema da mostra é “Corpo & Morada“: “o afeto e o cuidado devem permear as nossas relações com o corpo, a mente, o outro, a casa, a cidade e o planeta” conforme a organização da CASACOR.
Serviço
CASACOR / São Paulo 2023
Dias 30 de maio a 06 de agosto de 2023
Conjunto Nacional
Avenida Paulista, 2073 – Bela Vista
São Paulo/SP
Informações e ingressos: https://appcasacor.com.br/events/sao-paulo-2023
Fonte CAUSP
A feira de negócios “Expo Construção Offsite 2023” está programada para os dias 31 de maio a 03 de junho na capital paulista. Este evento tem apoio institucional do CAU/SP.
Durante quatro dias, em formato à céu aberto, a feira vai reunir “grandes players da indústria, bem como marcas já renomadas e expoentes da construção modular nacionais e internacionais” conforme a organização do evento.
Serviço
Expo Construção Offsite 2023
Dias 30 de maio a 02 de junho de 2023
Das 13h às 20h (até dia 02/05); das 13h às 18h (03/05)
Sambódromo Anhembi
Av. Olavo Fontoura, 1209 – Santana
São Paulo/SP
Informações: https://www.expoconstrucaooffsite.com
No centro da cidade, três casarões construídos no início do século passado são exemplos de preservação, investimento e persistência.
Leia mais: https://aeaarp.org.br/wp-content/uploads/2022/08/20190924171505painel-293-site.pdf - página 5
Dois ícones da arquitetura cafeeira do interior paulista estão, finalmente, em obras. A intervenção na Biblioteca Altino Arantes é inovadora e arrojada e, grande surpresa para o público, o Palacete Camilo de Mattos também será restaurado. As duas iniciativas são do setor privado.
“Ainda temos muitos bens históricos abandonados no quadrilátero central, como o Hotel Brasil, as ruínas do Palacete Albino de Camargo, que também devem receber atenção especial. Se a cidade é feia e abandonada, ela é motivo de tristeza aos olhos das pessoas que caminham pelo centro”, observa o arquiteto Cláudio Bauso.
Casarões e palacetes construídos no início do século XX na região central de Ribeirão Preto representam o período em que a cidade foi uma das maiores produtoras de café do Brasil. Os imóveis caracterizam a formação de uma cidade associada ao complexo cafeeiro, dos pontos de vista político e econômico. As construções invariavelmente demonstravam a riqueza e o poder daquele período histórico.
As mudanças culturais e econômicas do final do Século XX provocaram a verticalização do centro. Muitas das construções do período áureo do café deram lugar a edifícios residenciais e comerciais. Alguns casarões resistem, protegidos pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac). “Preservar esses bens significa ter uma memória registrada não só do modo de edificar como também do modo de viver e residir no período do café”, explica a historiadora Lilian Rosa.
Na arquitetura, completa a historiadora Sandra Regina Firmino Abdala, ficam registrados erros e acertos do passado e do presente. “Como sociedade, nos apropriamos desses conhecimentos, sem os quais fica difícil construirmos um futuro melhor para nós mesmos”, argumenta Sandra, que atua na Divisão de Patrimônio Cultural da Secretaria Municipal da Cultura de Ribeirão Preto.
Segundo a professora de história Nainôra Maria Barbosa de Freitas, docente do Centro Universitário Barão de Mauá, a preservação dos bens culturais depende de políticas públicas aplicadas em educação permanentemente com o objetivo de trabalhar com a identidade e a memória de uma comunidade. “Tarefa de uma vida inteira, aliando educação, cultura, bem como todos os aspectos de uma sociedade que se esforça para garantir às gerações seguintes a preservação da história e da memória. Acredito em parcerias entre poder público e privado junto com o esforço da sociedade civil”.
Segundo ela, quando a memória não é respeitada, a identidade e o exercício da cidadania são deixados de lado e as referências, que permitem ligar o passado com o futuro, são esquecidas.
“Uma cidade precisa destas referências culturais para avançar construindo cidadania atuante, em que o cidadão seja partícip partícipe e não apenas um mero espectador, usuário da cidade onde mora, ou trabalha”, defende.
O patrimônio cultural é um dos principais agentes para salvaguardar a identidade original de uma comunidade.
Sandra Regina Firmino Abdala – historiadora
Quando nos referimos ao patrimônio olhamos o passado mas, a referência são as escolhas que queremos deixar para as gerações seguintes, ou seja, para o futuro.
Nainôra Maria Barbosa de Freitas, professora de história
Biblioteca Altino Arantes
“Presente para a comunidade e resgate do centro de Ribeirão Preto”. É assim que Wagner Chiodi, diretor administrativo da Fundação Educandário Coronel Quito Junqueira, define a restauração da Biblioteca Altino Arantes. A Fundação é mantenedora do local.
O imponente casarão, localizado na Rua Duque de Caxias, na região central de Ribeirão Preto foi projetado pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, um dos mais importantes arquitetos brasileiros no início do século passado. O prédio foi construído em 1932 para ser residência de Francisco Maximiano Junqueira, o coronel Quito Junqueira, pecuarista, cafeicultor e empresário, e Theolina Zemilla de Andrade Junqueira, conhecida como Sinhá Junqueira.
Quito Junqueira faleceu em 1938. O casal não tinha herdeiros o que inspirou sua viúva, Sinhá Junqueira, a criar em 1952 a fundação que leva o seu nome com o intuito de que seu patrimônio fosse usado para manter as obras filantrópicas às quais se dedicou durante toda a vida. Ela faleceu em 1954 e no seu testamento deixou expresso o desejo de que a sua residência se tornasse uma biblioteca pública. No ano seguinte, 1955, foi inaugurada a Altino Arantes.
O prédio é tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Cultural de Ribeirão Preto (Conppac) e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), órgão estadual dedicado à preservação. Em 2014, a Fundação Educandário assumiu a Biblioteca com o objetivo de recuperar o prédio e o acervo. “Havia vitrais quebrados, trincas nas paredes e alguns livros estavam desmanchando”, explica Wagner.
A obra de restauração e ampliação da biblioteca começou em 27 de janeiro de 2019 e deve ser concluída até o final deste ano. Com investimento de R$ 11 milhões, proveniente exclusivamente da Fundação Coronel Quito Junqueira, o projeto do escritório Pitá Arquitetura, de São Paulo (SP), prevê a restauração integral do prédio, realizada por um especialista em restauro, e a construção de um anexo, com arquitetura horizontalizada e minimalista. A área total passará de 600 m² para 1.490 m².
Segundo Wagner, nenhuma parede será alterada. Serão modificadas apenas as funções dos espaços internos. O local contará com sala de leitura, acervo físico e digital, anfiteatro, biblioteca, café e elevador para acesso de deficientes. “Será uma estrutura moderna, com tecnologia para atrair o público”, diz Wagner.
A edificação foi construída atendendo padrões estéticos e funcionais da época da concepção do projeto (década de 1920), adequado às famílias de alto poder aquisitivo. É farta em ornamentos, por dentro e por fora. A instalação da biblioteca exigiu alterações, preservando sua essência.
Segundo Maria Luiza Dutra, responsável pelo projeto de restauração, a maior dificuldade diz respeito às instalações elétricas, de prevenção e combate a incêndios, proteção patrimonial, ar-condicionado e acessibilidade. Esses itens têm de compatibilizar as normas atuais à preservação de pisos, forros e paredes decoradas.
“A maior parte das paredes das áreas sociais do térreo da antiga residência, assim como as dos halls do pavimento superior, tiveram suas pinturas decorativas preservadas, embora em condições não muito boas. Veja, não se trata de afrescos, mas de pinturas feitas à máscara com desenhos repetitivos. Todas as pinturas visíveis estão sendo mantidas. As que receberam pintura lisa e foram encobertas em tempos idos terão apenas um trecho à mostra, como testemunho de sua existência”, detalha Maria Luiza.
Um dos cuidados do projeto de ampliação foi o de garantir que o novo espaço tivesse altura inferior ao da casa projetada por Ramos de Azevedo. “O protagonista da obra é o prédio histórico”, reconhece o arquiteto Fábio de Bem, do escritório Pitá Arquitetura. O projeto também deu ênfase aos espaços internos e externos. “Até o mobiliário foi pensado para a valorização do todo e principalmente da história”, detalha Fábio.
Palacete Camilo de Mattos
Dezoito meses depois de toda a burocracia tramitar na prefeitura e nos órgãos de preservação do patrimônio, o Palacete Camilo de Mattos, também na Rua de Duque de Caxias, deverá renascer. O prédio foi adquirido em 2017 pelos empresários Ricardo Cesar Massaro e Marcos da Cunha Mattos – que não é descendente do ilustre morador original da casa, apesar da coincidência nos sobrenomes.
Joaquim Camilo de Moraes Mattos, que foi vereador e prefeito de Ribeirão Preto, além da intensa atividade empresarial e política no interior paulista, viveu naquela casa, um endereço privilegiado da elite cafeeira.
Os 1.100 m² do local têm 600 m² de área construída, com 19 cômodos, oito na parte superior e 11 no térreo, além de uma varanda. Nos fundos há uma casa de caseiro. “O palacete será restaurado como unidade unifamiliar, sem outra finalidade de uso, e seguindo sua originalidade”, explica o arquiteto e urbanista Claudio Bauso, responsável pela execução do projeto.
O objetivo dos empresários é dar nova utilização para o prédio e atrair pessoas para centro da cidade. Enquanto a obra não começa, a dificuldade é preservar o imóvel de invasões e depredações. “Temos frequentes ocorrências de pessoas que entram para furtar, dormir ou usufruir do local. Começamos a fazer o monitoramento por câmera para tentar evitar as invasões”, diz Ricardo.
Em junho deste ano, o Palacete foi aberto à visitação durante a Feira Nacional do Livro. “A população teve a oportunidade de conhecer um de seus patrimônios históricos, mostrando a função cultural e social do edifício”, ressalta Claudio. Para ele, o tombamento atribuiu ao imóvel valores artísticos, arquitetônicos e paisagísticos. “Ele participa da paisagem da cidade, portanto também tem uma tendência turística”, argumenta. Estão previstas visitas monitoradas ao Palacete durante a reforma.
A arquitetura do prédio é Art Déco, de origem francesa e eclética, com pinturas de afrescos (técnica de pintura em paredes) em estêncil (aplicação de tinta sobre um molde vazado). No seu interior foram utilizados materiais nobres, como mármore de Carrara e Peroba-rosa nas portas, janelas, caixilhos.
Segundo Claudio, a construção do Camilo de Mattos coincide com o período em que os casarões no centro eram projetados por grandes nomes da arquitetura. Neles, a arte do interior, sempre ricamente adornado, normalmente era executada por italianos, imigrantes que vieram para Ribeirão Preto para trabalhar no cafezal. Sem vocação para a lavoura, fixaram-se na cidade trabalhando como músicos, pintores, artistas de uma forma geral. “Os italianos deixaram um legado, uma contribuição muito grande na arquitetura e na arte das elites do período cafeeiro”, diz.
Claudio explica que o Palacete retrata as relações sociais, políticas, econômicas, trabalhistas e culturais de um período próspero. “Vemos uma relação trabalhista e social em espaços da casa para prestação de serviço interno que naquele momento eram importantes. Isso está na moradia, na forma de construção, como a disposição da casa do caseiro ao fundo e o quarto do casal à frente da casa, onde era possível manter o domínio dos movimentos da residência”, explica.
A Casa da Memória Italiana
Com quase 100 anos de existência, a Casa da Memória Italiana, localizada na Rua Tibiriçá, no centro de Ribeirão Preto, é exemplo de preservação. O acervo composto pela estrutura arquitetônica, decorativa e mobiliária é original da década de 1920. “Piso, lustres, arandelas, pinturas artísticas das salas e quartos, vitrais e mobiliário são da época da construção”, conta Maria Augusta Scatena Lopes, neta de Pedro Biagi, o segundo e derradeiro proprietário do imóvel.
Maria Augusta morou na casa por muitos anos e hoje coordena o programa de zeladoria e segurança do Museu Casa da Memória Italiana. Para ela, a utilização da casa por famílias que viveram em épocas tão diferentes, sem a necessidade de adequação, só foi possível devido aos cuidados dos moradores.
A Casa foi projetada em 1923, pelo arquiteto Arnaldo Maia Lello a pedido de Joaquina Evarista Meirelles, fazendeira de café. A edificação foi denominada na planta como Bungalow, estilo de casa americana com influências do Art and Craft, movimento estético inglês que defende o artesanato criativo. Parte de sua ornamentação externa é considerada com estilo neocolonial simplificado, que surgiu em São Paulo no início do século XX.
Em 1941, a residência foi comprada pelo casal de imigrantes italianos Pedro Biagi e Eugenia Viel Biagi. A casa foi habitada por seus familiares até 2012. Em 2014, o imóvel foi doado ao Instituto Casa da Memória Italiana, criado com o intuito de documentar e preservar a história da imigração italiana.
O espaço mantém diversas ações educativas e culturais gratuitas. São realizadas palestras, contações de histórias, música e oficinas para família, exibição de filmes, exposições de arte e um concerto de final de ano apresentado no jardim da fachada da edificação.
“Todas as ações tem o objetivo de agregar a comunidade ao espaço histórico, promovendo experiências que fomentem o sentido do pertencimento ao Museu Casa da Memória Italiana como um lugar de memória da cidade e da sua própria vida”, destaca Alice Registro Fonseca, gestora executiva Casa da Memória Italiana.
Desafio da engenharia
Uma capela de 1920 foi erguida e sob ela será construído um complexo de entretenimento e lazer
Uma antiga capela tombada pelo tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) ficou no meio do caminho de um ousado projeto na capital paulista. A solução foi erguê-la, usando a ciência que transforma e que também preserva: a engenharia.
A edificação, projetada pelo arquiteto italiano Giovanni Battista Bianchi e construída em 1922, foi suspensa a 31 metros do chão sobre uma plataforma de concreto e sustentada por pilares. A construção do complexo Cidade Matarazzo, projeto que compreende um hotel de luxo que será entregue em 2020 em São Paulo (SP), e integra a capela a um complexo hoteleiro, a Rosewood Hotels and Resorts.
Oito pilares de 54 metros de profundidade foram concretados sob o a edificação, que tem 1.600 toneladas. O terreno foi inteiramente removido para criar o vão necessário para oito andares de subsolo. A escavação das colunas foi feita com uma perfuratriz de baixa percussão e depois, com processos de hidrojateamento (utilização de jato de água de alta pressão), a terra sob o edifício foi cuidadosamente removida. O espaço abaixo da igreja será ocupado por um cinema, bicicletário, área de desembarque de passageiros e estacionamento.
Profissionais de Engenharia e Arquitetura falam sobre a preferência brasileira pela alvenaria convencional em contraponto à diversificação dos processos construtivos mundo afora
Leia mais: https://aeaarp.org.br/wp-content/uploads/2022/11/20220926162914painel-330-setembro-22-aeaarp.pdf - página 4
Alvenaria convencional, estrutural, paredes de concreto, paredes de EPS e wood, steel frame ou light steel frames combinados a uma gama variada de materiais de vedação, como placas cimentícias, drywall, OSB, entre outros [veja Glossário]. São muitos e variados os tipos de sistemas e subsistemas de construção utilizados em obras mundo afora [leia ‘Definições sobre sistemas construtivos’ nesta reportagem], mas no Brasil prevalece a utilização de menos da metade deles, com vantagem disparada para a alvenaria.
De acordo com o engenheiro civil e professor universitário André Zanferdini, a escolha majoritária por construções de blocos e tijolos no país tem a ver com a não-necessidade de mão de obra especializada, relação custo-benefício e disponibilidade de materiais [a grande oferta resultando em preços mais competitivos em relação aos dos materiais alternativos], mas também com a “falta de iniciativa, de planejamento, cultura vernacular e tradição fincadas no sistema construtivo existente desde o Brasil colonial”.
Vale lembrar que, no contexto acadêmico da arquitetura e engenharia, o termo vernacular refere-se a processos construtivos mais “raiz”, nas palavras do arquiteto e também professor universitário Flávio Cesar Mirabelli Marchesoni, pois possuem uma forte influência da cultura local, apoiando-se em técnicas e no uso de materiais da região em que a obra está inserida. “São vistos como rústicos sob um olhar mais desavisado, mas na realidade são altamente sofisticados por serem o que melhor podem responder às condicionantes do clima, da disponibilidade de recursos e com enorme eficiência energética passiva (o que entendemos por resposta bioclimática)”, ensina Flávio.
Como o barro sempre foi abundante e de fácil extração em todo o mundo e mais ainda em um país continental como o Brasil, o tijolo de cerâmica passou a ser utilizado por aqui desde os primórdios da ocupação europeia, por volta do século 16 [leia mais em ‘Origem dos Tijolos’], o que confirma a “cultura vernacular e a tradição fincadas desde o Brasil colonial”.
Já a falta de iniciativa e planejamento para quebrar paradigmas sobre materiais alternativos são privilégios das últimas gerações mesmo, e seria reforçada pela desconfiança popular, na opinião do também engenheiro e professor universitário Ricardo Gomes. “É uma questão até bem engraçada. Tem pessoas que, quando vão comprar uma casa, uma das primeiras coisas que fazem é dar uns murros na parede para ver se é sólida. E quando você tem uma parede em gesso acartonado, você bate e sente que é oco, né? Mas isso não significa que não seja uma parede resistente. Esses materiais são muito testados contra impactos pela indústria antes de serem colocados como alternativas de vedação. Se você está decidido a abrir um buraco nelas, até vai conseguir, mas precisará bater muitas vezes com marreta, ou seja, será tão difícil de furar quanto uma parede de bloco cerâmico”, comenta.
De acordo com Ricardo, a resistência a materiais alternativos nem sempre sai barata. “A gente tem uma série de problemas no Brasil que vêm justamente dessa tradição, desse gosto mais arraigado por coisas mais artesanais e tudo o mais”, diz, citando como exemplo casos em que é utilizado fechamento de alvenaria para steel frame. “A alvenaria não é a melhor opção para estrutura de aço mais pesada. São materiais que trabalham de maneiras muito diferentes. Pegando só a questão da temperatura, esses materiais se dilatam de formas diferentes. Temos uma série de patologias de construção associadas a isso, como trincas e fissuras”, afirma. Segundo o engenheiro, já há um consenso em utilizar placas cimentícias do lado externo e, para o lado interno, placas de gesso acartonado ou OSB.
Processos construtivos
Para o arquiteto Flávio, entre as quatro formas existentes de se construir algo – entre as quais se inclui a vernacular, já citada –, a alvenaria convencional pertence à categoria mais ordinária ou comum, que ele considera não muito eficaz por muitas vezes envolver grandes desperdícios de material, de trabalho, resultando em baixa eficiência energética, sem muita consciência do que efetivamente se está fazendo. “É o caso clássico de se fazer toda uma parede de alvenaria e depois se rasgar ela toda para instalar tubulações e eletrodutos, deixando para traz remendos que exigirão argamassar tudo para esconder as cicatrizes”, exemplifica.
Segundo ele, a terceira forma é o processo racionalizado, que pode ter vários níveis: desde o mais óbvio, de se planejar algumas etapas para já receber as posteriores sem que haja um retrabalho, até o que já atinge o quarto nível, representado pelos processos industrializados. Neste, a racionalidade seria tão ampla que se passa a não mais construir no sentido clássico do termo, mas a “montar” a edificação usando componentes previamente prontos, bastando apenas uni-los no canteiro de obras. “É só procurar no youtube por ‘edifícios com a construção mais rápida do mundo’ para ver exemplos, como edificações de hotéis de 30 pavimentos que são construídos em 30 dias e entram em funcionamento. Dessa maneira, nos dois extremos, quer no processo construtivo vernacular, quer no industrializado, há grande desempenho”, afirma o arquiteto.
Definições sobre sistema construtivo
No âmbito da construção civil, o “sistema construtivo” de uma obra caracteriza-se por
um conjunto integrado de subsistemas: estrutural, de vedação, elétrico e hidráulico,
entre outros, que são projetados e executados de acordo com normas técnicas préestabelecidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).
Tais normas estabelecem requisitos para os materiais, bem como para os procedimentos
de execução dos serviços de cada subsistema e, em especial, o atendimento aos
requisitos dos usuários do edifício quanto a seu comportamento em uso, isto é, seu
desempenho.
Esta reportagem aborda subsistemas de vedação — tecnicamente falando Sistema de
Vedação Vertical Interna e Externa (SVVIE), assim denominado na “ABNT NBR 15575-
4 Edificações habitacionais - Desempenho Parte 4: Sistemas de vedações verticais
internas e externas” —, definidas como partes da edificação habitacional que limitam
verticalmente a edificação e seus ambientes, como fachadas e as paredes ou divisórias
internas. Elas podem ser com ou sem função estrutural, comumente designadas como
alvenaria de vedação (convencional) e alvenaria estrutural, respectivamente.
O estrutural suporta cargas além do seu peso próprio, isto é, de laje, de pavimentos
superiores e/ou da cobertura. Como exemplos temos os sistemas construtivos citados
em alvenaria estrutural (armada ou não), o Wood Frame (estrutura de madeira) e o
Light Steel Frame (estrutura de aço leve).
Quanto ao subsistema de vedação, que suportam somente o próprio peso, ou seja,
servem só para vedar, separar e adequar ambientes, os sistemas construtivos podem
ser, entre outros, os citados em alvenaria de blocos e Drywall (gesso acartonado).
De uma maneira generalizada, tem-se três tipos de sistemas construtivos: o
tradicional, o racionalizado e o industrializado, que se diferenciam em relação
aos materiais, técnicas e tecnologia de execução, desempenho, prazos de execução,
custo, qualidade, uniformidade, entre outros aspectos.
FONTE: André Zanferdini, professor da faculdade de Engenharia Civil do Moura Lacerda
De acordo com Flávio, mundialmente, há hoje uma maneira genérica de se edificar que está mais intimamente vinculada à complexidade de industrialização dos componentes utilizados na construção que cada país tem do que baseada nas suas raízes culturais locais. “Países mais industrializados têm como tendência usar sistemas estruturais desvinculados dos seus fechamentos, constituídos muitas vezes com painéis, relegando a alvenaria a um segundo plano, pois esta exige um consumo de materiais maior, mão de obra maior, mais tempo de execução... cada vez mais incompatível com qualquer lugar desenvolvido no mundo”, diz, numa crítica implícita à alvenaria convencional.
Também na opinião do engenheiro André Zanferdini a construção civil brasileira poderia muito bem se beneficiar de sistemas alternativos numa escala maior que a de hoje, incluindo elementos pré-moldados e light steel frame “em tudo o que se referir à construção industrializada”. No que compete aos poderes constituídos, os governos poderiam, segundo ele, contratar projetos, na forma de concurso, que contemplem outros sistemas e materiais. “Quanto à iniciativa privada, a questão é determinada pelo projetista de arquitetura e/ou de engenharia, a quem cabe a definição dos sistemas e a especificação dos materiais, muito embora, em alguns casos, o mesmo terá de exercer seu poder de convencimento junto ao cliente ou proprietário. E em ambos os casos, qualquer iniciativa deve ser realizada por quem tenha o domínio tecnológico sobre esses sistemas e materiais alternativos”, conclui.
Mas Zanferdini alerta que, tendo em vista a existência de uma “interdependência entre alguns subsistemas da construção, a viabilidade técnica e econômica para a escolha de um sistema construtivo alternativo ou inovador torna-se complexa”. Por isso exige uma análise completa, considerando custo, estanqueidade, desempenho térmico, desempenho acústico, durabilidade, impacto ambiental, etc, e envolvendo todos os subsistemas da obra em referência. “Se não for assim, um sistema construtivo alternativo ou inovador pode proporcionar uma redução de custo em determinado subsistema e encarecer muito mais em outros. Por fim – e muito importante! – não se deve esquecer a análise da percepção dos moradores sobre o uso dos sistemas construtivos inovadores”, declara.
Parâmetros de escolha
Na prática, atualmente quatro critérios principais norteiam a escolha de qual sistema será usado numa obra, de acordo com Ricardo Gomes: custo, tempo de execução, função da obra e – mais recentemente – sustentabilidade.
O custo é afetado pela relação de oferta e procura dos materiais no mercado. Por exemplo, no Brasil, a preferência pela alvenaria torna a produção de blocos e tijolos de cerâmica economicamente atraente, levando muitas pessoas a investir no negócio. “Com muita oferta, os preços desses materiais ficam muito mais competitivos que os dos materiais mais alternativos com pouca procura no país”, pontua Ricardo.
O tempo é o de duração da obra, que pode afetar ou ser afetado pela escolha do sistema construtivo. Para exemplificar como o uso dos materiais para a vedação pode afetar o tempo de obra, Ricardo compara o de construção de uma casa padrão em alvenaria com cerca de 150 m², no Brasil de hoje, com a do famoso edifício de mais de 100 andares, Empire State Building (Nova York - EUA), em 1930, que utilizou estruturas de aço e placas cimentícias: pouco mais de um ano em ambos os casos.
E para ilustrar como o tempo pode influenciar o custo, o engenheiro cita a obra de um edifício de 57 andares, na China, cuja evolução foi filmada em time lapse e o vídeo postado na plataforma Youtube. Tudo o que foi utilizado de estrutura no edifício – estruturas metálicas, placas de vedação e até a laje seca – foi fabricado antes em uma indústria, já com as tubulações de ar-condicionado, esgoto, água e eletricidade embutidas com precisão milimétrica. No canteiro de obras, tudo foi encaixado, parafusado, soldado e rebitado. Feitas as ligações e dados os toques finais nos acabamentos, o edifício todo ficou pronto em apenas 19 dias.
Para Ricardo, o custo de fabricação das estruturas, vedações e outros materiais do edifício chinês pode ter ficado muito mais alto que o de um equivalente em alvenaria, que levaria muitas vezes esse tempo de duração, mas o custo da mão de obra, paga em horas de trabalho, deve ter resultado bem menor.
O engenheiro usa a mesma obra como exemplo de outro parâmetro citado como norteador das escolhas de sistemas construtivos: sustentabilidade. “Em um edifício no qual todas as estruturas chegam praticamente prontas para serem encaixadas eu não vou ter resíduos, porque a fábrica já terá feito tudo da maneira mais eficiente, desperdiçando o mínimo possível de material. O canteiro resulta limpo e organizado”, comenta.
A sustentabilidade, aliás, é o grande ponto a favor dos sistemas chamados “secos”, que eliminam a necessidade de misturas de cimento, areia e outros materiais com água nos canteiros de obras, caso dos wood e steel frames e dos blocos de gesso ligados com gesso-cola, por exemplo.
Por fim, o parâmetro “função” (define se a obra servirá para abrigar residência, alguma atividade, comercial, industrial ou de prestação de serviços, entre outras) pode influenciar a escolha do sistema por diferentes motivos. Por exemplo, se uma pessoa física não reúne condições financeiras de comprar todo o material da obra no mínimo tempo requerido, pode fazê-lo aos poucos, conforme o avanço da obra em alvenaria, que deverá seguir lenta. Já se uma pessoa jurídica tem pressa em erguer o edifício que abrigará sua atividade econômica, pode preferir o combo estrutura/vedações pré-moldadas. No Brasil, por motivos já elencados, esses sistemas podem sair mais caros que os de um edifício equivalente em alvenaria, mesmo considerando gastos menores com tempo de mão de obra, mas em outros países isso não acontece.
Escolhas pelo mundo
Ao contrário do Brasil, nos Estados Unidos os subsistemas de construção a prevalecerem nas unidades menor do que no caso de casas construídas com paredes mais leves e flexíveis?”, provoca Ricardo.
Sobre a origem dos tijolos
Observar a modificação de consistência do barro, que endurecia sob altas temperaturas,
levou à descoberta da cerâmica pelas antigas civilizações. Inicialmente, as cidades
foram construídas com tijolos de argila crua secos ao sol e, posteriormente,
queimados em fornos, o que transformava a terra crua em material cerâmico.
Os vestígios mais antigos da utilização de cerâmica em abrigos humanos datam de
7500 a.C, no Oriente Médio. A História conta que o tijolo de cerâmica é utilizado
desde 4.000 a.C. Por séculos as civilizações utilizaram o material para erguer
edifícios resistentes à temperatura e à umidade.
Depois que a Revolução Industrial trouxe a produção de blocos cerâmicos em grande
escala, o uso dos tijolos passou a ser aplicado na Europa e em todo o mundo. No
Brasil, é utilizado desde os primórdios de sua ocupação europeia, por volta do século
16, tendo sido Salvador e Recife as principais cidades a utilizarem o material.
Entretanto, o material cerâmico tornou-se essencial no país a partir de 1850,
revelando-se como elemento principal no sistema construtivo brasileiro, especialmente
nas últimas décadas do século 19 e no início do século 20. Naquele período, porém,
dividiu as funções estruturais com a pedra, fato notável em diversas construções
remanescentes no país.
Até hoje a cerâmica é um dos materiais mais usados na construção civil mundo afora.
FONTE: https://princesa.ind.br/tijolos-de-ceramica-tradicao-e-historia-na-construcao-civil/
Por isso é que, segundo ele, é comum se encontrar esse tipo de vedação em outros países sujeitos a abalos sísmicos, como o Japão, que tem também uma frequência grande de terremotos, como até o Chile, em plena América do Sul. “No Japão eles têm um apelo muito forte para as construções que utilizam wood frame, mas com técnicas diversas das dos Estados Unidos. Então pode ser uma estrutura de madeira com fechamentos bem diferentes, como películas que são quase um papel transparente, que às vezes vemos em filmes”, comenta o engenheiro.
Na China e por todo o continente asiático não prevalece, como no Brasil, preferência por um ou outro sistema, de acordo com Ricardo. Aliás, em nenhum outro país do mundo, ao menos não na proporção da que ocorre no Brasil na preferência pela alvenaria convencional. “Hoje em dia não se pode dizer que em um continente está sendo mais utilizado um ou outro sistema construtivo, principalmente quando se trata de Europa, porque existe uma diversidade de países com uma gama absurda de sistemas diferentes. Em termos de mundo, a gente tem até casas sendo impressas em impressoras 3D”, afirma.
Ainda falando em Europa, um continente repleto de patrimônios turísticos e culturais seculares, Ricardo lembra que em determinadas regiões, até por questões de preservação, seria um contrassenso usar wood e steel frames. Nesses casos, normalmente os sistemas construtivos seguem a tradição vernacular.
Glossário
EPS (Expanded PolyStyrene): sigla internacional do Poliestireno Expandido, polímero [veja matéria a respeito nesta edição] mais conhecido no Brasil pela marca “Isopor”;
Wood frame: ‘travessas de madeira’ em tradução livre, denomina sistema de construção constituído por perfis de madeira que, em conjunto com placas de diferentes materiais, formam paineis estruturais capazes de resistir às cargas verticais (telhados e pavimentos) e perpendiculares (ventos);
Steel Frame: ‘travessas de aço’, em inglês, denomina sistema construtivo a seco feito com perfis de aço galvanizado. Seu fechamento é realizado com placas de diversos materiais, dispensando o uso de tijolos, cimento e concreto;
Light steel frame: steel frame com liga metálica mais leve;
Drywall: em inglês ‘parede seca’, denomina placas de gesso acartonado, que costumam revestir estruturas de wood, steel ou light steel frames.
OSB (Oriented Strand Board): o significado da sigla, em inglês, é ‘painel de tiras de madeira orientada’, em tradução livre. O composto de raspas e tiras de madeira de reflorestamento organizadas na mesma direção e ligadas com resina resulta em placas resistentes, estáveis e versáteis para uso na construção civil;
Espuma expansiva de poliuretano (PU): material selante e adesivo que preenche espaços e possui ótima aderência em madeiras, alvenarias, metais, plásticos, sendo especialmente indicado para fixação de batentes, portas, janelas, entre outras superfícies, mas também pode ser usada como preenchimento de vedações em construções que demandam grande isolamento térmico e/ou acústico.
Os tamanhos dos carros do Império Romano influenciam até hoje os meios de transporte do mundo
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Quando, na Antiguidade, o homem criou a roda, abriu a porta para inovações que têm a engenharia como protagonista. Das bigas romanas, primeiros veículos de guerra, aos modernos foguetes que viajam para o espaço, muita coisa mudou, menos a largura dos trilhos – a bitola.
As bigas eram carroças com duas rodas movidas por dois cavalos e a distância entre os eixos das suas rodas levava em consideração a largura das ancas dos animais: 4 pés, 8,5 polegadas ou 1,435 metros, a mesma medida conhecida como Bitola standard, utilizada até hoje nos sistemas de ferrovias da Europa e Estados Unidos.
Celso Frateschi, docente do curso Engenharia Mecatrônica e Produção Mecatrônica da UNIP de Ribeirão Preto, explica que tanto cavalos quanto bois eram usados aos pares. “O que resultou na largura das carruagens, carroças, e na distância entre as rodas. Assim também os primeiros bondes possuíam tração animal e a mesma medida”, destaca.
As bigas foram os primeiros carros de guerra da humanindade. Surgiram em 2000 a.C, mas tornaram-se notórias por volta de 1300 a.C., na Batalha de Kadesh, entre o Egito e o Império Hitita.
Para o engenheiro Paulo Celso Greco Junior, professor do Departamento de Engenharia Aeronáutica da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, os projetistas dos motores do ônibus espacial precisaram considerar o tamanho que poderia ser transportado por um trem, já que a largura máxima que a carga pode ter é limitada pela largura dos túneis, pontes e outras características das ferrovias.
Paulo destaca que a largura dos automóveis modernos também não difere da largura das carruagens medievais. “A justificativa pode estar na manobrabilidade e no padrão de largura das ruas, já que existem ruas na Europa que são do período medieval”, observa.
Tamanhos
A Bitola standard, mesmo sendo adotada pelos sistemas mais avançados em ferrovias da Europa e Estados Unidos, não é a única medida de distância entre trilhos.
Segundo o engenheiro Jean Carlos Pejo, secretário Nacional de Mobilidade e Serviços Urbanos, as construções do passado (que não tinham padrões normalizados e atendiam interesses regionais) e a segregação da entrada de trens que carregavam suprimentos para defesa em guerras são algumas justificativas para as diferenças das medidas. “Ao exportar seu know-how a países importadores, os detentores da tecnologia na construção de ferrovias e trens espalharam pelo mundo diferentes bitolas”, explica.
Para ele, o ideal seria que houvesse um sistema de bitolas unificadas. Porém, a variedade de tamanho não traz tantos transtornos, já que existem diferentes procedimentos operacionais, técnicos e tecnológicos para minimizar a diferença.
Além de Estados Unidos e Europa, a Bitola standard também é adotada na China, Canadá, México e em todos os sistemas de trens de alta velocidade no mundo, o que a torna também a mais utilizada do planeta.
“No Japão, um dos países de forte domínio de tecnologia ferroviária, só tem unificado em bitola de 1,435mm os sistemas de Alta Velocidade Shinkansem. Nas outras ferrovias a medida é da classe de bitola métrica”, observa Jean.
A Bitola métrica, também bastante utilizada, engloba bitolas entre 914mm e 1,067mm, incluindo a de 1,00m (largamente usada no Brasil) e é encontrada em ferrovias de grande parte da Ásia, África, América do Sul, América Central e Oceania. Já a Bitola ibérica, de 1,668 mm, é utilizada em Portugal, Espanha e alguns países da América do Sul.
No Brasil, a partir dos anos de 1980, a bitola foi padronizada em 1.600mm. A maioria das ferrovias brasileiras utiliza essa medida. Uma das exceções é a Ferroeste, no Paraná, construída sobre bitola de 1,000mm, e sistemas metroviários que foram construídos na Bitola standard (1,435mm)
“A malha brasileira tem em sua maior extensão a bitola de 1,000mm, seguida pela de 1,600mm. Existem ferrovias de baixa capacidade operacional ou sem uso e em extensões pequenas no norte do país e novas linhas de metrô que têm sua construção na bitola de 1,435mm”, explica Jean.
Não há, segundo ele, medida ideal. Fatores comerciais, técnicos e históricos influenciam na escolha. “Deve ser levada em consideração a interoperabilidade (capacidade de um sistema se comunicar com outro sistema), o tipo de serviço a ser prestado, a capacidade instalada de terminais e muitas outras variáveis”, argumenta.
Há quatro anos, pesquisadores mapeiam edificações no Quadrilátero Central e reúnem documentos que são inseridos em um Sistema de Informação Geográfica (SIG)
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No início do século XX, a família do engenheiro José de Oliveira Reis tinha um comércio na Rua General Osório, no número 147, no centro de Ribeirão Preto. Oliveira Reis foi um dos mais importantes urbanistas do século passado, autor da primeira proposta de Plano Diretor de Ribeirão Preto, encomendada pelo prefeito e apresentada em 1945. É provável que tenha passado a infância ali. Em 1910, funcionava naquele endereço o Pequeno Negócio Pétit Marche, conforme a placa da foto que Ernesto Kuhn fez naquele ano e que foi preservada pelo Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto (APHRP). Hoje, no mesmo endereço, há uma loja popular de roupas.
A arquiteta e urbanista Ana Teresa Cirigliano Vilela está à frente de um projeto de georreferenciamento do patrimônio histórico e arquitetônico do centro de Ribeirão Preto que permite admitir como hipótese que o local onde funcionava o Pétit Marche seja o mesmo da loja de roupas de hoje. O endereço é atribuído à família de Oliveira Reis na tese de doutorado do arquiteto e urbanista Rodrigo Santos de Faria, que trata da trajetória do engenheiro. Ana Teresa localizou a imagem, atribuindo-a a este endereço, na extensa documentação que vem reunindo há quatro anos e faz parte do projeto que hoje desenvolve no âmbito de sua tese de doutorado no Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (IAU-USP).
Desde 2016, cerca de 50 pessoas se envolveram no projeto, entre os quais, os arquitetos e urbanistas Marcelo Carlucci, Gustavo Zeoti e estudantes de graduação. O objetivo é reunir documentos, imagens e informações sobre edificações do Quadrilátero Central, delimitado pelas avenidas Jerônimo Gonçalves, Independência e Nove de Julho.
A história que Ana Teresa propõe-se a contar a partir da pesquisa e disponibilização desses documentos vai além das importantes construções monumentais, como o Theatro Pedro II e a Biblioteca Sinhá Junqueira. O levantamento, segundo ela, permite expor a história urbana a partir da área onde Ribeirão Preto se formou e para além dos grandes marcos arquitetônicos.
Entre 2010 e 2012, a Rede de Identidades Culturais, grupo ligado à Secretaria da Cultura e formado por uma equipe multidisciplinar, realizou o inventário de 698 edificações localizadas no Centro, tomando como base a metodologia utilizada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Arquitetônico Nacional (IPHAN). Este levantamento foi o ponto de partida do trabalho de Ana Teresa.
“Partimos de uma proposta pedagógica que buscava sensibilizar os alunos a olharem para a paisagem do Centro, nela identificando edificações históricas, grandiosas ou modestas, públicas ou privadas, tombadas ou não”, explica Ana Teresa.
Na primeira fase, desenvolvida entre 2016 e 2018, os alunos foram divididos em 10 equipes encarregadas de fotografar todos os lotes dos 187 quarteirões que integram o Quadrilátero Central. Depois, docentes e alunos selecionaram os imóveis de interesse histórico tomando como base a existência de elementos como platibandas, caixilharia de madeira, alpendres, cachorros, jardins, ornamentos de fachada etc. que marcam a produção arquitetônica da primeira metade do século XX.
Também foram levados em consideração os diferentes usos e as mudanças de comportamento e gosto da sociedade ao longo do tempo. A seleção não foi feita com base em critérios estilísticos. “Nas construções modestas nem sempre esses estilos são perfeitamente reconhecíveis e, principalmente, porque muitos imóveis passaram por reformas, adequando-se às novas necessidades de seus usuários”, explica Ana Teresa.
A partir da análise e seleção dessas fotografias, o grupo refinou os levantamentos e chegou a um número de aproximadamente 300 edificações.
Ana Teresa conta que ao identificar algumas lacunas no trabalho documentos disponíveis no acervo do APHRP foram incorporados, como mapas, fotos e projetos de arquitetura. O grupo considerou que a documentação poderia ser vinculada a esses levantamentos.
O Sistema de Informação Geográfica (SIG) passou a ser utilizado como plataforma de inserção e georreferenciamento desses dados. O grupo utilizou um software livre e gratuito para inserção das informações, com o endereço, grau de proteção, processo de tombamento – quando existente –, autoria do projeto, ano de construção etc.
Nessa nova etapa, iniciada em 2019, como projeto de extensão, houve a colaboração das estudantes de graduação Leticia Fiacadori, Lívia Amorim, Talita Elioenara, Tainah Melchior e Vanessa Laredo.
Às informações iniciais sobre o imóvel são acrescidas fotografias e projetos de arquitetura. Esse talvez seja o maior desafio dos pesquisadores. Normalmente projetos, plantas, alvarás de construção e escrituras são arquivados na prefeitura ou em cartórios. Entretanto, as regras de hoje não existiam em boa parte dos anos do século XX. Muitos imóveis não têm plantas e projetos cadastrados, por exemplo. Até 1902, ano em que um novo Código de Posturas substituiu o anterior, de 1889, sequer esse registro era exigido pelo poder público.
De 1902 a 1913, as construções eram registradas na Câmara Municipal, no Livro de Plantas Aprovadas. Esta é a fonte de informação daquele período e dispõe, na maioria das vezes, dos nomes dos proprietários, o endereço da construção e sua natureza (residencial, comercial etc.). Em alguns registros, não consta o nome do construtor ou arquiteto responsável. Por outro lado, eles observaram a atuação expressiva de alguns profissionais, como Carlos Barbieri e Vicente Lo Giudice.
O APHRP conta com um rico acervo relativo aos processos dos imóveis a partir de 1910, nos quais é possível ter acesso aos projetos de construção e reforma. Essa coleção se estende até os processos com entrada até o 1976. Nessa coleção de projetos, os pesquisadores identificaram engenheiros, arquitetos e construtores que atuaram na cidade, além das transformações nos padrões compositivos, ornamentos, gabaritos e materiais que marcaram a produção arquitetônica na cidade no período.
“Os tipos de informações gráficas também variam de acordo com a natureza do projeto. Há desenhos parciais que se propunham a aprovar apenas a reconstrução da fachada para se adequar às imposições dos Códigos de Posturas. Outros continham plantas, elevações e cortes para a construção de novos edifícios”, explica Ana Teresa.
O Código de Posturas de 1902 impactou também no estilo das construções, pois passou a exigir a adoção de platibandas, utilizadas como ornamento e que em algumas construções exibem as iniciais de seus proprietários e a data de construção.
Todos os projetos destinados a endereços no Centro também estão digitalizados. A digitalização, além de facilitar a consulta a pesquisadores evita o manuseio da documentação, que é frágil.
Os dados disponíveis sobre as edificações são inseridos no sistema, assim como documentos e imagens digitalizadas. Algumas anotações revelam curiosidades, como as dos documentos do Theatro Pedro II: em certo momento, os construtores recusaram-se a pagar os honorários de Hipólito Pujol Júnior, autor do projeto, por considerarem que a construção não era suficientemente nobre.
Na vizinhança do Theatro, na Rua General Osório, existia o Banco de Comércio e Indústria, cujo projeto foi de Ramos de Azevedo. No local há hoje uma loja de departamentos e não existem indicações externas de que o edifício tenha sido preservado.
“Embora haja relatos de que Ramos de Azevedo tenha sido autor de outras obras na cidade, esse foi o único projeto encontrado com a sua assinatura. Na coleção de projetos de Ramos de Azevedo arquivada na biblioteca da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo há também o projeto do Banco do Brasil de Ribeirão Preto”, informa Ana Teresa.
No âmbito de sua tese de doutorado, a arquiteta estendeu os georreferenciamentos das edificações aos mapas e fotografias históricas. Dentre os mapas cadastrais disponíveis no APHRP, foram georreferenciados e vetorizados os de 1884, 1910 e 1918.
Nomes
“Não são apenas as edificações grandiosas e isoladas que tem importância para a paisagem histórica. As edificações mais modestas também têm sua importância, sobretudo em relação ao conjunto urbano diretamente relacionado à fundação e desenvolvimento da cidade. Para conhecer essa história, é preciso ir lote a lote, investigando as dinâmicas que são próprias da arquitetura e da cidade”, explica Ana Tereza.
A construção do início do século XX em Ribeirão Preto é marcada pela influência dos imigrantes italianos. Não eram necessariamente engenheiros ou arquitetos – profissão regulamentada em 1966. Eram “práticos licenciados”.
O primeiro presidente da AEAARP, Guilherme de Felippe, foi um desses profissionais licenciados. A Igreja Cristã Presbiteriana, na Rua Barão do Amazonas, erguida pela Companhia Predial de Ribeirão Preto, foi identificada como de sua autoria. Até o momento da conclusão desta reportagem, os pesquisadores não tinham todos os documentos dessa obra, datada de 1948, o mesmo ano da fundação da AEAARP. A construção segue preservada.
Na Rua Florêncio de Abreu, no primeiro quarteirão depois da Avenida Independência, há uma casa cujo construtor foi o engenheiro Hélio Foz Jordão, associado da AEAARP com intensa participação institucional. Esta construção é de 1952. Dentre as mais de 700 edificações identificadas na pesquisa, 39 estão tombadas, quatro delas abandonadas e duas em ruínas.
Do início de 2019 até agora, quatro edificações identificadas no levantamento foram demolidas. Uma delas estava sob regime de tombamento provisório e outra inserida no entorno de proteção de um imóvel tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat). A atualização da situação dos imóveis também é possibilitada pelo SIG.
Além de reunir e disponibilizar a documentação de construções de valor histórico, a pesquisa mostra o que existia em terrenos que com o passar dos anos e as mudanças da ocupação do centro passaram a abrigar outros imóveis. O exemplo mais conhecido é o Palacete Innechi, também de autoria de Pujol Júnior, em cuja área foi construída uma agência bancária. E, ao final, o trabalho tem também a função de preservar a memória.
O país chamou a atenção do mundo ao erguer um hospital em dez dias e acendeu uma questão para o setor da construção civil no Brasil: por que não fazemos igual?
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O hospital Huoshenshan foi construído em 34 mil m2 (o equivalente a quase cinco estádios de futebol), com dois pavimentos, mil leitos, trinta unidades de terapia intensiva e dez salas de isolamento, distribuídas em 25 mil m2 de construção.
A obra começou em 23 de janeiro e foi entregue no dia 2 de fevereiro. 100 tratores e quatro mil trabalhadores ocuparam o local em três turnos, durante 24 horas por dia. Foram utilizadas estruturas metálicas pré-fabricadas unidas por parafusos, seguindo o exemplo do Hospital Xiaotangshan, em Pequim, construído em duas semanas, durante a epidemia de Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), em 2003.
A fábrica chinesa de concreto que fez as fundações da estação brasileira na Antártica constrói prédios de 20 andares em três meses. Esse é um dos exemplos da tecnologia construtiva da China, que chamou a atenção do mundo em janeiro de 2020 quando o hospital de Wuhan foi construído em dez dias - prazo impensável para a maioria dos países do mundo – como parte da estratégia de combate ao novo coronavírus, causador da Covid-19, doença que afetou todos os continentes do mundo. A cidade chinesa, com 11 milhões de habitantes, é considerada o epicentro da pandemia.
Logo após a inauguração, o país anunciou a abertura de um segundo hospital na cidade de Wuhan, o Leishenshan, construído também em 10 dias, com 1,6 mil leitos, enfermaria de isolamento, área de exames e acomodações para médicos.
Para o engenheiro civil Roberto Maestrello, pós-graduado em engenharia de estruturas e diretor da empresa RTS Engenharia, a agilidade e eficiência das construções chinesas se dá pelo uso de estruturas pré-fabricadas, antecedidas por longo estudo e planejamento.
Roberto explica que os módulos, geralmente metálicos, são produzidos em fábricas, com precisão e em série, depois transportados e içados na obra, através de equipamentos de elevação e transporte, seguindo cronogramas rígidos e organogramas exaustivamente treinados e repassados ao pessoal de obra. “A construção acaba sendo uma grande montagem em série, como acontece em uma linha de montagem de automóveis, de eletrodomésticos, etc.”.
O engenheiro argumenta que o feito chinês foi possível devido ao investimento em inovação e pesquisa em avançado sistema de pré-fabricação, que utiliza mão de obra especializada, maquinário de ponta e reduz o consumo de energia e poluição ambiental.
“A industrialização de estruturas metálicas, onde quase que a totalidade do tempo de produção ocorre nas fábricas, com ambiente controlado e precisão milimétrica, juntamente com o içamento e montagem das peças no canteiro de obras, otimiza a construção de maneira geral”, afirma.
A arquiteta Mariluz Gomez Esteves, especialista em arquitetura do sistema de saúde e diretora executiva da Pró-Saúde - Arquitetura, Planejamento e Consultoria, explica que na China os arquitetos/projetistas escolhem os itens que vão utilizar e projetam a partir desta disponibilidade. “Isto ocorre inclusive com os banheiros, que chegam prontos nas obras e são instalados no local”, explica.
O país é um dos líderes mundiais em fábricas inteligentes, onde tecnologias são utilizadas para aumentar a eficiência da produção. A indústria 4.0, caracterizada pela aplicação intensiva de tecnologias da comunicação e da informação na indústria, complementa o setor de construção e agiliza o processo em obras emergenciais, como os hospitais construídos em Wuhan.
O engenheiro ambiental e de segurança do trabalho Nicolau Gentil Iucif trabalhou na montagem da estação brasileira na Antártica e acompanhou de perto a fabricação das estruturas pré-fabricadas na China. “Os pilares de lajes, paredes e portas, todos são pré-moldados, feitos em uma indústria de concreto e transportados e montados no local da obra. Isso facilita e agiliza muito a construção. É uma característica impressionante dos chineses”, diz.
Soma-se ao sistema de construção modular, a questão de os trabalhadores ganharem por empreitada, acrescenta Nicolau. “Se o trabalhador concluir em um ou em três dias o valor será o mesmo, o que traz mais produtividade para o sistema construtivo chinês”.
João Paulo Torres, engenheiro eletricista, com mestrado em inovação na construção civil e diretor da Sálix Engenharia, enumera outros fatores que também podem ter contribuído para a entrega do hospital em curto tempo. Dentre eles: a grande quantidade de equipamentos, como guindastes e escavadeiras; a fabricação local de todos os insumos necessários para a construção da edificação, sem necessidade de importação de materiais e/ou equipamentos; a disponibilidade, no estoque, de fabricantes de equipamentos de climatização, centrais de gases medicinais e equipamentos de backup de energia compatíveis.
O local da construção, com terreno favorável e pouco desnível, o solo previamente analisado com facilidade para fundação rasa e disponibilidade de área de canteiro para logística e armazenagem, além da padronização dos ambientes com baixa complexidade de construção, sendo, em sua maioria, leitos de internação, também são fatores considerados para o prazo recorde de construção, argumenta o engenheiro.
Engenharia hospitalar
Os projetos e obras hospitalares enfrentam grandes desafios. Prazos enxutos, a busca por novas tecnologias, a escassez de mão de obra especializada, a execução da obra com o hospital em funcionamento e o cuidado com o impacto da intervenção civil para os pacientes são alguns deles, segundo a arquiteta hospitalar Ana Carolina Meirelles Bonissi.
“Além disso, a engenharia hospitalar precisa atender todas as normas técnicas exclusivas, que proporciona o funcionamento harmonioso, como o tratamento de ar, requisitos para segurança, mobilidade, entre outras, e também atender as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que possui diversas particularidades para a aprovação do alvará sanitário para Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS)”, destaca.
Para a arquiteta, a construção pré-fabricada possibilita assertividade em relação ao cumprimento e encurtamento do prazo da obra e contribui para torná-la mais sustentável. Ana Carolina é de Ribeirão Preto e trabalha para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde desenvolve e acompanha os projetos de reformas, expansões e novas unidades da instituição. Segundo ela, as estruturas pré-moldadas já são utilizadas no hospital em duas situações: nas expansões de estruturas já existentes, como, por exemplo, na expansão da unidade Morumbi e do Hospital Municipal Dr. Moysés Deutsch (M’Boi Mirim), e nas reformas de estruturas para a instalação do serviço hospitalar. “Neste último caso temos a Klabin, que é uma unidade ambulatorial, e a Clínica Einstein Anália Franco”, explica.
O engenheiro João Paulo afirma que as estruturas de concreto pré-moldado ou as metálicas são encontradas nas construções hospitalares na parte estrutural, composta por vigas e pilares. Já as instalações e acabamentos, na maioria dos projetos, ainda são executadas nos canteiros de obra, com baixa industrialização.
“A maioria dos projetos hospitalares no Brasil utiliza como característica o concreto armado, moldado in loco, proporcionando mais agilidade, flexibilidade, facilidade de manutenção e industrialização à construção.”
A arquiteta Mariluz concorda que a construção de hospitais de emergência a partir de itens prontos reduz o tempo de obra, mas argumenta que as mesmas estruturas dificilmente atendem as necessidades específicas das edificações hospitalares tradicionais. “Construir hospitais de campanha em campos de futebol é uma coisa, fazer um hospital em um terreno urbano, acidentado, é outra”, alega.
Mariluz argumenta que em sua experiência profissional, já realizou diversas tentativas para utilizar peças disponíveis no mercado da construção, mas o tamanho das peças não atende a necessidade do projeto hospitalar. “A montagem tipo ‘lego’, se feita com vários pavimentos, não se mostra estável o suficiente para a operação hospitalar. Se tivermos que fabricar as peças necessárias e ancorá-las para ter a estabilidade necessária, a construção se tornará, nas condições atuais da indústria da construção, muito mais cara que a convencional”, ressalta.
Segundo ela, a maior dificuldade na construção hospitalar são as instalações. Um hospital exige diversos sistemas de instalações complexas, desde os elementos de controle e combate a incêndio, que são absolutamente distintos de uma edificação comercial ou habitacional, até instalações que só existem nos estabelecimentos de saúde, como gases medicinais, vácuo clínico, etc.
Por que a engenharia brasileira não é tão ágil quanto a chinesa?
Adoção da metodologia BIM pode conferir agilidade aos projetos industrializados
Para o engenheiro Roberto Maestrello, os motivos são históricos, culturais e de escolha de prioridades, que resultam, principalmente, no baixo investimento em pesquisa e na fabricação e montagem de elementos construtivos.
“O Brasil, apesar do enorme déficit habitacional, de infraestrutura, de saneamento e de transportes, ainda está no discurso e longe da prática, porque pouco se importou em investir nesse sentido, coisa que americanos, ingleses, alemães e notadamente os chineses têm feito com abnegação e inteligência”, alega.
Roberto destaca que, ultimamente e com certa timidez, é possível ver obras sendo desenvolvidas no campo de infraestrutura de pontes, viadutos, na escavação e concretagem de túneis, nas novas ferrovias e também em construções comerciais e industriais. Mas, por questões que ele classifica como culturais, no Brasil ainda há receio em relação às paredes de “dry wall” (sistema de placas de gesso acartonado escoradas por estruturas metálicas) nas obras residenciais ou o uso do painel de “piso wall” sob o piso.
“É imprescindível que os institutos de tecnologia, as escolas de engenharia, o poder público, as associações de classe e a indústria estejam engajados e inseridos nesse conceito de construção para que o Brasil embarque nessa trajetória de progresso”, defende Roberto.
O engenheiro João Paulo Torres argumenta que, apesar de a construção modular não ser comum no Brasil, a industrialização do setor tem crescido. Dentre as práticas que têm sido cada vez mais usadas, ele cita técnicas como Lean Construction - metodologia usada para otimizar a produção, reduzindo desperdícios e buscando melhores prazos - e a racionalização da construção civil, que passa por materiais inovadores, projetos eficientes até chegar ao canteiro de obras com menos desperdício e maior produtividade.
A adoção da metodologia BIM (Building Information Modelling), na visão da arquiteta hospitalar Ana Carolina Meirelles Bonissi, é importante para conferir agilidade na construção civil no Brasil onde, segundo ela, o método é adotado por apenas 10% das empresas.
O engenheiro civil Roberto Maestrello destacas algumas iniciativas de construção utilizando estruturas pré-fabricadas na região de Ribeirão Preto. Segundo ele, além de alguns conjuntos habitacionais produzidos com paredes de concreto moldadas industrialmente nas obras, há trabalhos pioneiros de execução de conjuntos habitacionais através de estruturas pré-fabricadas mistas de metal/concreto, executadas parte com pré-fabricação na indústria e parte em obras.
Entre os exemplos estão a ponte sobre o rio da Onça, em Sertãozinho, construída nos anos de 1970; o pavimento misto em edifício industrial na Av. Castelo Branco, feito nos anos 1980; a utilização de formas deslizantes na execução do canal inclinado da Av. Francisco Junqueira, nos anos de 1970, baseado em estudos e obras de caixas d´agua executadas com formas deslizantes e/ou trepantes, largamente disseminadas no Brasil a partir dos anos de 1960.
A execução de paredes em concreto armado através de formas trepantes em edifícios de armazenagem de açúcar a granel nas usinas São Geraldo, em Sertãozinho, e Santa Fé, em Nova Europa.
A construção de pontes de concreto em vigas pré-moldadas na Rua Florêncio de Abreu com Av. Francisco Junqueira, sobre o córrego Retiro Saudoso; na ponte da Av. João Fiusa, sobre o córrego Ribeirão Preto, e na ponte da Avenida João Goulart, no final dos anos de 1980.
O pavimento sobre o escritório do CREA-SP, na sede da AEAARP, é pré-fabricado. Foi montado com materiais metálicos e alternativos em 2011.
No viaduto na Av. Maria de Jesus Condeixa, que está em construção sobre a Av. Francisco Junqueira e córrego do Retiro Saudoso, em Ribeirão Preto, as vigas são pré-moldadas de concreto protendido. São produzidas em canteiro na av. Maurilio Biagi, para depois serem transportadas e içadas sobre os pilares no próprio local.
“Todas essas construções têm caráter inovador e pioneiro, que trouxeram ganhos em tempo e em execução”, ressalta Roberto.
A 132ª Plenária Ordinária do CAU Brasil, realizada nesta quarta-feira(25/02), aprovou a realização de chamamentos públicos para credenciamento de pessoas jurídicas de direito privado para o fornecimento de bens e serviços relacionados ao exercício profissional das atividades de Arquitetura e Urbanismo em condições diferenciadas que incluam benefícios e outras vantagens.
A iniciativa da deliberação é fruto de trabalho da Comissão de Política Profissional (CPP).
Os bens e benefícios foram divididos em três categorias, cujos editais serão lançados na seguinte sequência:
1- Tecnologia (software, hardware incluindo treinamento para uso);
2- Formação Continuada (Cursos em nível de graduação, aperfeiçoamento, especialização, pós graduação strictu e latu sensu);
3- Outros benefícios que sejam relacionados às atividades finalísticas dos arquitetos e urbanistas.
O Edital relativo à aquisição de licenças e treinamento de uso de softwares será publicizado no dia 31 de janeiro.
Em 9 de fevereiro será lançado o edital da Educação Continuada. E em 16 de março, o edital dos demais benefícios.
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